31/12/2012


Eu sei que poucos que realmente me conhecem, lerão esse texto. Eu não o divulgarei. E também, a grande maioria das pessoas têm preguiça de textos grandes e esse com certeza ficará. Mas se não escrever e publicar, ele não sai de mim. E eu preciso que saia. Eu preciso me livrar desse peso. Mesmo que não seja compreendida através dele. Mesmo que ele seja uma bagunça tão grande quanto eu mesma. Mesmo que só eu o entenda.

Não sei o que desejar para 2013. Eu não sei o que posso realmente desejar pra hoje. Eu não sei se desejo chegar em 2014. Venho dando tempo à vida para que ela se ajeite e eu possa voltar a vivê-la, mas tudo que começo preciso interromper. Cada dois passos que dou, sou obrigada a parar. Cada planejamento que faço, sou obrigada a interromper. E ser obrigada a não viver é o mesmo que morrer. Todo dia. A cada oportunidade perdida. A cada adeus não dado.

Não farei hoje um texto de votos de feliz ano novo. Há 4 anos não sei o que é ter um ano bom. Há 4 anos venho tentando ter um ano bom. Há 4 anos venho morrendo mais rápido. Parece paradoxal, mas há 4 anos a vida vem me matando. E viver sentindo a morte não é algo que me dê prazer. E disso eu realmente sinto falta: de prazer. Assim como sinto muitas outras coisas.

Não sou de dividir minhas inseguranças, meus medos, os traumas que sofri, as saudades que sinto ou meus dramas pessoais. As pessoas sempre me enxergam por aí sorrindo, falando bobagens ou coisas sérias, mas sempre com otimismo. Não sei falar de mim porque acho que esse é um tema que incomoda. E quando falo, já saio logo pedindo desculpas. É como se quem se dispusesse a me ouvir fizesse isso apenas por mim, como se fizesse um favor ou seu ato de caridade do dia. Ouvem mas não escutam. E por isso me fecho sempre mais. Crio ao meu redor barreiras como em represas. Muito pouca água consegue passar. Quando falo algo, pode saber... nesse momento libero as águas represadas, mesmo que sorrindo por fora.

Como sei que não irão me julgar por algo que não leram, posso escrever sem esperar retorno. Não quero retorno. Não quero que me digam que tenho valor, que sou importante. Não é assim que me sinto. Sei que tenho muito pouco a oferecer hoje, tão pouco que o termo nem seria pobre. Chego a ser miserável. Ninguém perto de mim consegue algo bom ultimamente, nem mesmo minhas palavras. E se ao invés de deixar escrito em algum canto que te amo eu disser isso a você em tempo real, na cara, essas são as únicas palavras sinceras que consigo dizer ultimamente. Sei que é amor por dizer e correr o risco de não receber de volta. É amor de verdade quando não preciso desse retorno. É doação.

Carpinejar postou agorinha um texto com isso no conteúdo: "Aprendo a amar amando, para entender que a maior declaração ainda não é o “eu te amo”. É quando alguém confessa: “Não consigo mais viver sem você." É isso que faz falta. A gente ama mas vive bem sem a pessoa. Mas o amor de fazer falta, esse é pra poucos. E eu faço parte dos muitos.

Por todo esse mundo de coisas que trago em mim e que não consegui expressar nem um décimo do que precisava, vou terminando. Ainda tenho muita coisa guardada, sufocada, que não consigo externar. Tudo que escrevi foi pouco, mas um pouco que saiu como a faca do Rambo... rasgando por dentro. Eu preciso fechar etapas da minha vida e não sei como. O passado sempre se faz presente e costuma ser meu mais fiel companheiro no cotidiano. Não sei encerrar ciclos. Por isso ultimamente tenho ficado sem argumentos, sem vontade de discutir, sem necessidade de mostrar meu ponto de vista, sem capacidade de achar que serei entendida. O desânimo toma conta e sinto desejo grande de encerrar o grande ciclo de uma vez só. Mas jamais teria coragem de fazer algo pra apressar meu fim. Por mais triste e desanimada que esteja. Por mais falta de perspectiva que tenha. Mas é um desejo.

Cansada de ler livros e ver filmes onde, por instantes, viajo pra outras vidas que não vou viver, sofro dores além das minhas, tenho esperanças de um futuro que não me pertence. Vontade absurda de continuar minha história, pôr os pés na rua, usar minhas mãos naquilo que sei fazer de melhor. E assim vou me sentindo encarcerada em mim mesma cada vez mais. Claro que não quero ninguém aqui comigo. Jamais traria companhia das pessoas que amo para se prenderem nesse meu mundo sem atrativos e inerte. Por isso sou assim. Distante. Não deixo que entrem.

Eu sinceramente não sei o que desejar pra 2013. Talvez a liberdade pra mim.

Leca Castro - 31/12/12

30/12/2012



Não é a falta de correspondência do sentimento que dói tanto, não... Sentimento tem valor justamente por ser espontâneo. Não dá pra querer que o outro goste, nem se esforçando muito pra isso. Inclusive, se houver esforço pra despertar reciprocidade do sentimento, não foi natural. Entendem isso?

Vou dizer o que pra mim dói então... dói saber que quem você ama não precisa de você. Dói saber que você não faz falta alguma. Dói saber que você não é necessária a ninguém. Dói saber que as pessoas se acostumaram com a sua presença. Dói saber que sua falta amanhã será sentida apenas por um pequeno instante e logo será transformada em esquecimento. Dói saber que ninguém lhe dedica a palavra saudade. Dói saber que ninguém investe em você. Dói saber que quem resolve investir também decide por desistir. Dói amar sozinha.

Sentir dói muito. Mas ver quem amamos sofrer, dói muito mais. Então aplaque sempre a dor de quem ama. Minimize. Torne-a menor. Menos dor é muito. Viver dói. É Lei. Mas sofrer... sofrer faz doer mais que o necessário. E muita coisa me dói. Mas muito pouco já me faz sofrer.

Leca Castro - 30/12/12

28/12/2012

Tentando dormir há três horas. O corpo se espreme na cama. Apesar de caber um casal, o espaço se torna mínimo. Levanto, por fim. Vou até a janela e vejo o céu claro, tamanho o brilho da lua. Até ficou difícil enxergar minhas amigas estrelas. Talvez por isso não consegui ouvir nenhum riso, nenhum som de guizo. Essa madrugada nenhuma estrela me fez rir. Ninguém pensava em mim naquele instante. Essa certeza foi a maior insegurança que senti naquela hora. E o calor não ajudou, nenhuma folha de árvore alguma balançou com meu olhar. O vento se escondeu de mim. Mesmo faltando ar, mesmo precisando de vento, como sufocar o que sinto? Sei que preciso, que não há chances nem futuro. Mas como? E se o amor arrebata e bate? Não dou conta mais desses machucados do amor. São retornos que não acontecem e amar sozinha tem maltratado mais minha alma que amor que não se entende. Como sufocar, como? A vida vem pregando tantas peças que me perco em limites e na falta deles. Preciso urgente de retorno. Preciso urgente de amor. Preciso urgente conseguir dormir.

obs: sem tags...

Leca Castro - 28/12/12

26/12/2012

Eu finjo estar bem. Mas isso não me torna mentirosa ou enganadora. Só não vejo sentido em demonstrar dores, desgostos, chateações e mágoas. O mundo já carrega isso por demais. Acredito que o sorriso pode atrair coisas boas, energias boas, pessoas boas. Claro que nem sempre dou conta, mas nessas horas dou uma desculpinha e saio de cena. E ninguém nunca vai saber o que realmente sinto. O que realmente se passa. Pra todos que já tentei mostrar, ninguém conseguiu permanecer. E só tentei. Ninguém me banca. Então é meu sorriso que sempre vai aparecer. E meu riso. Nunca meu pranto. Porque ninguém leva a sério o amor. E o amor leva a sério toda forma de amar.

Leca Castro - 26/12/12

25/12/2012

Um momento onde a palavra fraternidade ganha algum sentido. Enquanto grande parte de nós acha hipocrisia falar sobre isso apenas nessa época, prefiro achar bom que falem disso pelo menos nessa época. Melhor que nunca. E se, além de falar, fizer algo que represente a partilha de sentimentos bons... tá valendo. As grandes obras sempre precisaram de ensaio antes.

Leca Castro - 25/12/12

23/12/2012


Pessoas não mudam. Fato (?).

Se não botamos reparo nas atitudes cotidianas de quem convive conosco, somos surpreendidos da forma mais dura possível. É quando sentimos a ferroada de um desagravo, o tapa da indiferença, a cuspidela do desprezo.

Conviver não é o mesmo que conhecer. Damos bom dia pro desamor logo que abrimos os olhos e imaginamos as dificuldades do dia. Andamos de mãos dadas com a tristeza ao cumprir obrigações assumidas. Almoçamos com o desânimo e esquecemos da beleza do por-do-sol. E a noite cai na alma como se o breu da ignorância nos invadisse. E quem de nós observa isso e tenta fazer com que aconteça de forma mais bonita por dentro? Quem consegue nos ver por dentro? Quem se deixa ver por dentro?

É por isso que somos cada vez mais desconhecidos aos outros. Principalmente aos que amamos. Não queremos ser abandonados. E por isso fingimos normalidade. "Estou bem.". "Estou normal."."Tudo bem, e você?". Não muito mais que isso nossos cumprimentos.

Até que um dia, por descuido ou excesso de zelo, nos mostramos. Estouramos a bolha que criamos e, dependendo do tempo de vida, ela arrebenta e atinge quem está mais perto. E na maioria das vezes é quem amamos. Há o susto de quem nos viu explodir. "Quem é essa pessoa?". Há o nosso próprio susto. "Ah... falei mesmo!". O choque acontece e as pessoas se descobrem mais um pouco. Decepções.

Momento propício a mudanças e reconhecimentos. Mas dá muito trabalho aparar arestas. Mais fácil respirar, superar o susto, abrandar o choque. E recomeçar. E re-criar nova bolha. Recriar o ciclo. Quero pessoas sem preguiça e que aceitem aparar os cantos pontudos. Pessoas que querem se re-conhecer. Quero de fato pessoas que mudam. Pra melhor.

Leca Castro - 23/12/12

21/12/2012


Eu tenho inveja. Das pessoas centradas. Das pessoas que sabem seguir sua rotina de vida e ficam quietas em seu canto. Não fazem alarde que estão vivas. Conseguem esperar as coisas acontecerem. Esperam a vida criar oportunidades.

Eu sempre fui às avessas. Corri atrás de cada uma das oportunidades que tive. Não esperei a porta se abrir sozinha. Fui afoita, ávida, desesperada por vida intensa. Atropelei o tempo e adiantei alegrias e dores.

Eu tenho inveja. Queria hoje ter o coração sossegado para ser como as pessoas que sabem esperar por sua vez na vida. E na vida dos outros. Não me vejo mais com tempo pra isso. Sinto agonia. Tenho vontade que tudo aconteça logo.

Eu tenho inveja. Das pessoas que souberam enxergar cada oportunidade se aproximando. E sabendo ver, puderam pensar em como aproveitar melhor cada uma.

Eu tenho inveja. Das pessoas que ainda terão oportunidades de escolha. Das pessoas que saberão escolher o certo. Das pessoas que ainda têm tempo.

Eu tenho inveja do tempo.

Leca Castro - 21/12/12

20/12/2012


E se no meio de tudo você ainda aparecer com seu sorriso lindo, te convidarei pra entrar. Farei de você minha melhor visita.

E se no meio do nada você ainda aparecer com suas mãos estendidas, enlaçarei nossos dedos. Farei de mim a sua melhor morada.

Mas se no meio de nós nada mais resta então nada mais somos. Não mais permanecemos. Deixamos de ser. Te darei morada pra quando for visita. Nada mais. Porque visitas chegam a passeio e vão logo embora. E assim tem sido por tempos a fio. E assim tem se acostumado meu coração. E assim não está sendo bom. Éramos tudo no meio de nós, mas hoje somos nada no meio do tempo.

Leca Castro - 20/12/12

18/12/2012

Quero de volta os sorrisos fáceis, os choros despudorados, a alegria sem medo, a tristeza efêmera, as mãos conectadas, os corações enlaçados. Quero de volta tudo que me fazia querer viver, tudo que me fazia sentir viva, tudo que me despertava interesse pelo amanhã. Quero de volta a esperança em uma vida melhor, em um mundo melhor, em pessoas melhores. Quero de volta a forma como encarava tudo, como sentia tudo, como percebia tudo e todos. Quero de volta até o que não era lá muito bom. Mas era eu por inteira. Me quero de volta...

Leca Castro - 18/12/12

15/12/2012


O amor cansa. O que me parece algo absolutamente normal. Tudo que não pára, cansa. Não vejo amor tirar férias, emendar feriado ou tirar o dia de folga. Não sei nem se ele dorme. Por isso ele cansa.

É aquele momento em que um lado não consegue escutar o coração do outro e precisa gritar. Ou quando está esgotado demais e prefere engolir a ofensa do que discutir. Ou ainda quando desiste de provar seu ponto de vista por desânimo. Tem também o momento de virar pro canto e dormir. Ou não querer mais dividir.

Quando acontecer do amor cansar, espere que tome fôlego. Se o amor for seu, respire fundo e dê uma volta no parque. Ou mergulhe nas águas que te aliviam. Se o amor for do outro, faça uma comida gostosa enquanto espera ele ir até o parque. Ou prepare uma roupa limpa e quentinha para que ele use após o mergulho.

Só entenda que tomar esse fôlego é importante para que o amor se renove. Cansar é mais que normal. O problema é que a maioria de nós já vive cansado de amar e quando o amor demonstra seu desgaste, a maioria desiste dele. Não esmoreça. Respire fundo e lute. Passeie de mãos dadas pela praça. Ou mergulhe também para se aliviar. Descanse de vez em quando.

Leca Castro - 15/12/12

14/12/2012

Nada mais desgastante do que se doar... e só. Não existe em mim ainda a qualidade do desprendimento total, onde sou completamente altruísta e humilde. Claro que ainda preciso de retornos. E me chateio sim, quando estou dando o melhor de mim que tenho no momento e o outro lado nem sequer abana o rabo. Pouco caso é o pior descaso. E é assim que os maiores sentimentos vão se esgotando, perdendo a vitalidade. Pra no fim, morrerem.

Leca Castro - 13/12/12

13/12/2012

Uma precisão urgente de um desabafo, mas de um sentimento de outro dia. Ficou preso, ficou entalado. Ele não desce porque sempre volta, sempre se faz presente mesmo que se ausente às vezes. É que por momentos não me sinto necessária. Por horas, por dias, até por meses. Por ora, nessa hora estou assim. Sei de meus valores mas não acho que sou insubstituível, muito menos importante. E não é uma cuspida amarga na intenção que me digam o contrário. Nessas ocasiões nenhuma palavra convence. Nenhum argumento é forte. E nenhuma atitude acontece. Ouvi, há pouco mais de um ano: "você me é necessária". E sabe o que aconteceu? De tão necessária fui largada e esquecida. Palavras soltas. Palavras não ditas. Palavras mal ditas. Malditas.

Leca Castro - 13/12/12

11/12/2012


Todos os meus fracassos no trato com outros se pautam na rigidez das minhas ações. A confusão entre ser firme nos valores e firme no orgulho me passa desapercebida. Eu posso ter meus valores e não abrir mão deles, mas nada me impede de ser maleável pra que alguém possa entrar e fazer parte um pouco de mim. Ao ser sozinha preciso agir de uma forma mas para conviver preciso agir diferente. Enquanto sou só, minhas defesas aumentam. Mas quando aceito alguém, elas precisam baixar. Apenas pra esse alguém. E pra tanto eu preciso de coragem, pois baixando a guarda é como se eu me despisse pra tudo que guardo com tanto afinco. Ficarei exposta. E ainda assim tenho medo, que aliás, não vejo como oposto à coragem. Posso sentir ambos. O que preciso mesmo é entender que mudar um pouco pra pessoas certas não afeta minha posição de caráter. O que acredito ser o melhor continuará existindo. Apenas deixarei alguém mais enxergar tudo isso em mim.

Leca Castro - 11/12/12

10/12/2012

E sempre aparecem aqueles momentos que a vida me esfrega na cara o quanto sou limitada. Isso é algo que me frustra demais e faz com que eu me sinta uma personagem qualquer, secundária, sem importância. Cansada já de pisar nesse palco, de decorar falas e atuar. Triste por não ver mais rostos conhecidos na platéia. Hoje, as cenas fáceis são as tristes, principalmente as que precisam de um choro pra ficarem mais realistas. É muito fácil ter uma desculpa pra que as lágrimas rolem. E me despeço do palco antes que a peça termine, sempre, a cada apresentação. E sair de cena antes do ato final é digno de figurante.

Leca Castro - 10/12/12

09/12/2012


O significado da palavra impotência não se compara ao que ela produz por dentro.

Saber o que fazer e não conseguir.

Querer fazer e não poder.

Precisar fazer e não ter forças.

Poder fazer e não ter como.

Tudo isso vai despertando sensações que, uma vez acumuladas, fazem transbordar outras sensações igualmente complicadas: incapacidade, frustração, pequenez. Nem frases feitas como "não é sua culpa" funcionam mais. Culpa é algo que carregamos ou não, e independe de achismos. Culpa é algo que vem lá de trás e quase ninguém sabe do que se trata, só nós mesmos. Ou nem nós mesmos. Se sentir impotente diante de pessoas, situações ou fatos é nossa alma dizendo que ainda não somos suficientes. Ainda não somos o melhor que podemos ser. Ainda não estamos no topo. Minha frustração é ser impotente nos momentos que preciso ser bem mais do que já sou.

Eu sei o que fazer, eu quero, eu preciso. Mas ainda não dou conta. E que eu consiga me salvar de mim mesma.

Leca Castro - 09/12/12

07/12/2012


(Apenas duas pessoas entenderão...)

E perguntaram pra moça, lá na emergência, quem era seu acompanhante. Ela - mais uma vez - respondeu que estava só. A recepcionista disse que o procedimento precisava de acompanhante e a moça então pediu que chamasse a Enfermeira de plantão. Logo uma velha conhecida apareceu e elas se abraçaram:

- De novo?

- De novo...

- Pode liberar, eu estou ciente do procedimento e assumo aqui.

E entraram pelo ambulatório adentro... seriam duas horas sentindo o soro correr, o enjoo estufar e a dor aliviar. Antes ia ao hospital sanar essa dor de quatro em quatro meses, até que foi caindo para dois meses os intervalos. Mas agora, a última vez foi no mês passado. Quanto mais iria aguentar? E enquanto via o soro correr lentamente, lembrava do desespero da funcionária que não conseguiu puncionar sua veia. Todas entravam em desespero sempre, mas ela não podia fazer nada a respeito. Só restava uma que ainda era calibrosa.

No susto ouviu alguém chamar pelo seu nome e, olhando pro lado, viu uma grande colega de faculdade vindo em sua direção. Foi a melhor companheira daquela época, estava feliz de reencontrá-la. Depois de uns quinze minutos de conversa, a colega perguntou porque ela estava sem acompanhante. E aquela resposta andava entalada em sua garganta. Não cuspia porque tinha receio de ser mal interpretada, mas que mal haveria em dizer a alguém que talvez nem veria de novo? Seria bom pra variar, ia fazer bem. Decidiu.

- Eu não conto pra ninguém que venho. E isso me dói e me dá vontade de chorar, apesar de sempre me mostrar forte. Não quero que me acompanhem apenas porque preciso de companhia. É sempre incerto e todos possuem uma vida própria. Prefiro vir só. Eu não preciso de acompanhante. Eu preciso é de gente que queira vir, que queira segurar a minha mão e que não a solte. Gente que me ame pelo que sou e não porque me sinto carente. Gente que queira estar aqui comigo, por duas horas, apenas por gostar de mim e por se colocar no meu lugar. Gente que não tenha pena de mim, porque nem eu mesma tenho. Gente que saiba que, me acompanhando, se colocará disponível a mim pra qualquer situação. E então te pergunto... tem como pedir isso a alguém? Não é algo que deve ser espontâneo?

A colega recebeu um alerta de emergência pelo bipe. Pediu desculpas e se foi.

E a moça virou pro canto e chorou.

Leca Castro - 07/12/12 

05/12/2012

Não saber é diferente de não conseguir. Porque às vezes a gente não consegue algo apenas por não saber como fazer. E só o que nos é desconhecido gera medo. Confundimos com ansiedade, um pouco de receio que é o medo acanhado, mas medo mesmo só do que ainda não sabemos. E eu tenho medo. De pensar muito e acabar desabando. De desabar e não ter ninguém pra me ajudar por perto. De ter alguém e esse alguém não dar conta de mim. Porque eu não dou conta de mim. E esse medo é justamente por ainda não ter conseguido fazer nada disso e não consegui porque não sei como fazer. Digo que não quero chorar e jorro igual fonte, isso não é coisa de gente sã. Eu sou a pessoa mais vulnerável que conheço, mais instável, mais fraca. Até sirvo pra ajudar os outros em algumas coisinhas, mas não consigo me ajudar. Me sinto uma fraude, uma propaganda pra lá de enganosa. Não me dou o direito de ser fraca, de cair, de me estrepar. Tenho medo de me deixar ser assim e não conseguir voltar ao que acho ser o melhor de mim. Medo... nunca fiz. Pode até ser bom, mas e se não for? Nunca tenho direito a achar nada ruim, mesmo tudo estando ruim. Não sei nem se tenho direito de vomitar tudo assim, dessa forma, pra que outros leiam. Mas isso não me dá medo. Isso eu conheço. Mesmo não sabendo escrever e não conseguindo passar tudo o que penso e sinto. Mas escrevo mesmo assim. Por isso pra algumas coisas ainda vale o 'não consigo', por ainda não ter tentado. Mas sou teimosa, eu me arrisco. Eu mergulho e eu mesma me salvo. Não sei se consigo, mas eu tento. Eu me tento. E vou.

Leca Castro - 05/12/12

04/12/2012

Vivo em um período de ausências. Venho sentindo ausência de muitas coisas em minha vida, principalmente de ânimo e de vontade. Nem as responsabilidades ando fazendo, elas que sempre me mantiveram sóbria pra vida. E vejo isso acontecendo em etapas: comecei cansada e o cansaço foi tanto que comecei a recusar convivências. Me permiti dizer 'não' a várias situações, mas não soube limitar esse ato e disse também a pessoas. Essas, que já eram poucas, ficaram ainda mais escassas. E ouço dizer que isso é fase, que passa e que daqui a pouco restabeleço minha antiga rotina. Mas esse é o problema, eu não quero minha antiga rotina. Eu comecei essa nova, cansada. E ainda estou. Falta o ar da clareza, o corpo sem dor, a firmeza das oportunidades. Isso tudo me fugiu. Pouca coisa me anima. Poucas pessoas me percebem. Menos ainda dão conta de mim. E então as ausências aumentam de proporção aqui dentro a cada oportunidade perdida, a cada ser que se esvai. E vai. E esse é o lado bom das ausências: descobrir quem sentiu a sua.

Leca Castro - 04/12/12

01/12/2012





Me fale das andanças ex-amor
Dos melhores momentos que passou
Me fale que eu vou te falar dos meus
Eu tenho todo tempo pra ouvir
Os melhores momentos que eu vivi
São todos que passei ao lado teu
Mas se você quiser não vou lembrar
Pra não te constranger, me ver chorar
A gente fala então do que virá
Eu tenho toda vida pela frente
E vou viver da forma mais urgente
Quem sabe um dia eu pare de te amar
E mesmo que isso possa acontecer
Eu vou sentir saudade de você
Que culpa pode ter o coração?
Que pena que a vida quis assim
Você viver feliz longe de mim
A dor rindo da minha solidão
Se alguém vier pedir o meu conselho
A gente não aprende no espelho
A gente vive e sofre pra aprender
E cada amor é tanto e diferente
A vida insiste em dar esse presente
Comece o dia amando mais você

A vida quis assim 
Composição: Mongol
Intérprete: Oswaldo Montenegro

29/11/2012

Hoje não quero escrever sobre o que me aflige, nem sobre o que me alegra.
Hoje não quero escrever sobre você.

Leca Castro - 29/11/12

28/11/2012


Na conta da vida já devo estar com saldo negativo. É que não consigo dar mais do que ela me tira. E se minha contribuição é pouca, o outro também fica em desvantagem, pois não houve doação suficiente de minha parte. Ando cansada dessa defasagem e também de empobrecer pessoas. Preciso me repor pra conseguir ao menos me zerar. Me anular. Ser um nada ainda é melhor que negativar.

Leca Castro - 28/11/12

27/11/2012


Fico imaginando por que é tão difícil de conviver hoje em dia. Viver já não é fácil, mas para se viver bem, é preciso conviver. Não dá pra seguir adiante sem ter pessoas ao redor. Tudo que precisamos fazer envolve mais alguém. Evoluir sozinho não existe. Algumas criaturas precisam dos outros apenas pra fazer algo ruim, só assim se satisfazem, mas o ideal é que precisemos de gente com a gente pra melhorarmos como humanos.

E aí olho em volta e vejo tanto tipo diferente de gente que desanima demais a disposição de conviver. Do folgado ao irônico, não consigo conceber gente assim comigo. E não venha me dizer que comigo vai agir diferente, porque o que somos com um poderemos ser com qualquer um. E não quero gente assim, não mesmo. O ser irônico é aquele que se defende, antes mesmo de ser atacado. Pensem... você junto de alguém que se coloca na defensiva o tempo inteiro! Não, eu realmente não dou conta disso. Gosto de pessoas desarmadas e que querem ser amadas. Pessoas que acreditam que amor é um sentimento amplo e não se restringe apenas a um ser com enfoques sexuais. Que não largue tudo e todos por uma única pessoa como se a vida se resumisse a alguém. Que tenha a quem recorrer quando todos lhe faltarem. Gosto de gente que goste de se doar e que se permita doer às vezes. Gosto de gente que saiba somar e que saiba se anular pelo outro. Gosto de gente que tenha sempre o amor como objetivo, mesmo que enxergue nisso um caminho com algumas dores. Gosto de gente que sente, que se entrega, que mergulha. Na matemática da vida, quero a soma final. E nada mais de metades, só inteiros.

Leca Castro - 27/11/12

26/11/2012


É muito difícil acostumar a receber notícias boas. Exemplo maior é que nem sempre sabemos como reagir quando elas nos chegam. Não sabemos se podemos partilhá-las com algumas pessoas para não atrapalhar a tristeza delas. Ou para não atropelar a tristeza delas. Certo que umas nem se incomodam com isso e já saem gritando, correndo e balançando os braços enquanto alardeiam ao mundo sua felicidade, parecem bonecos de posto.

Mas me diz uma coisa... por que é tão fácil acostumar com notícias que são ruins? Até as reações fluem de forma mais solta: "ai, tô doente!", "bateram no meu carro!", "fui assaltada!", "fulano morreu!". E sempre com esse ponto de exclamação no final, como se as intempéries fossem sempre uma grande notícia. E não são. O certo seria falar baixinho, levar o ouvido de alguém até um canto escuro e sussurrar: "tenho um problema...". Com reticências. É o espaço que o outro tem pra te dizer se quer saber do seu problema ou se quer te contar da tragédia dele primeiro.

Mas toda notícia sufoca. A boa a gente quer logo dividir, mas a ruim, também. Tá, nem sempre, mas vai me dizer que se existe a pessoa certa pra te ouvir a vontade não surge? Alguém que não absorva a dose negativa para si e consiga ficar em equilíbrio pra que possa te ajudar a ficar de pé. Alguém que saiba te dar um colo sem frases clichês e necessidade de ficar falando sem parar. Alguém que até chore junto, mas que tenha o abraço mais aconchegante do mundo. Alguém que saiba ouvir o silêncio e enxergar as lágrimas secas. Daí tudo se descomplica. O problema continua igual, mas seu peso diminui. E isso é fundamental pra continuar a andar.

O negócio é aprender a selecionar quem tem condição de permanecer inteiro com nossas notícias ruins. Com certeza esses servirão para as boas também. E merecem. É importante não procurar milhares de pessoas pra caminhar junto, deixa de ser caminhada e vira passeata da sua vida. Mas é importante também não fazer esse trajeto sozinho. Ninguém nasceu pra ser assim. Só é só quem assim o deseja. Sempre tem alguém que se encaixa ao seu lado. Procure mais, nem sempre quebra-cabeças são fáceis. Dê a mão a alguém e continue.

Leca Castro - 26/11/12

24/11/2012


Vejo hoje três tipos bem definidos de cansaços. O primeiro deles é o do corpo. E esse vejo em várias dimensões: quando a atividade física é grande; quando o trabalho se torna extenuante; quando a doença resolve engrossar a voz pra mostrar que tem poder; quando não se dorme o suficiente. Tudo isso vai minando células e enfraquecendo o aglomerado que nos defende, e então ficamos propícios a mais doenças e sempre, a mais cansaço físico.

O segundo é o cansaço da mente. Hoje em dia nem é muito comum mas ocorre quando a cabeça trabalha muito e o pensamento se torna a voz mais alta que se consegue ouvir. E não pára, é incessante. Você pode pensar em mil coisas ao mesmo tempo ou em apenas uma, mas de forma muito intensa. Acontece então a canseira mental. A cabeça dói fisicamente, mas é porque pensar no que se tem que fazer, no que é melhor ou pior, no certo ou errado, cansa.

E por fim, mas talvez o mais significativo, vem a fadiga do coração. E essa eu já canso só de pensar. Todo coração que já passou por momentos extenuantes, principalmente os de dor, sabe que quando está acelerado é difícil diminuir a marcha. Não há câmbio automático. E fazer o controle de embreagem/freio quando se está em plena descida é para poucos. Por isso tantos desastres acontecem nas estradas de nossa vida. É o coração acelerado que não sabe frear e ponderar sobre seu sentir. E esse cansaço é o que mais desgasta porque o coração possui seu cordão umbilical diretamente ligado à alma. E quando a alma cansa, não há refazimento de corpo e de mente que dê conta.

E olhando assim, no todo, o melhor mesmo é evitar esse fastio, essa sufocação. Pensar no que é melhor para o coração e agir de acordo com o que faz bem ao corpo. E, se mesmo assim nada disso for possível, então que se tenha colo. Que se tenha onde repousar para ganhar fôlego. Que se possa chamar alguma outra alma igualmente cansada e dizer: "Oi, vamos descansar um pouquinho hoje? Vamos nos cuidar?". Se você tem alguém que faça isso ou que se dispõe a isso, então você realmente tem um tesouro. É alguém que pode te refazer, um pouco.

E que o ar nunca nos falte...

Leca Castro - 24/11/12

23/11/2012

http://agnes-cecile.tumblr.com


A verdade é que o medo é o grande vilão de nossos sentimentos. A criatura que diz que não tem medo de nada está mentindo, sempre temos medo de algo. Desde uma perda de um ser amado até de sermos atropelados na esquina. Se não fosse assim não cuidaríamos tanto de quem amamos e não olharíamos para os lados ao atravessarmos a rua. A questão não é sentir ou não o medo, mas sabermos onde ele ajuda e onde ele nos dana. Ele é bom e é ruim. Ele ajuda a não errar mas ele também impede de acertar. Onde saber? Como saber? E quando? Está aí a maravilha de se viver: o desafio em tomar decisões.

E é difícil se decidir porque a realidade das coisas vai muito além do que conseguimos ver. Se você não tem medo e se joga nas relações é porque está pronto para conviver com as consequências? Talvez não. O problema é quando caímos sempre nos mesmos erros e saímos feridos, machucados, sangrando. Nem bem nos restabelecemos e já queremos novo mergulho. Veja bem, não há problema algum em mergulhar e não se ter medo. O difícil é saber se estamos mergulhando nas águas boas, limpas e refazedoras. Analise antes, experimente um pouquinho, deixe molhar o pé para sentir a temperatura. Viu que pode ser um bom mergulho? Então vá. Sem medo. Se divida nesse novo mar. Sim... mar! Não entre de cabeça em pequenas piscinas, pois não adianta querer mergulhar em quem é raso. Tenha o medo como seu amigo e divida-o com quem te ama. Sem medo.

Leca Castro - 23/11/12

21/11/2012


O pior de conviver com pessoas diferentes não são as diferenças, mas a indiferença. Gostar de comidas e sucos que não combinam, apreciar mais o azul que o laranja, preferir MPB a rock, amar mais a madrugada que o sol. Nada disso importa quando se há respeito. Mas não dá pra conviver com quem quer atenção e não consegue prestar atenção. Quem quer carinho e não sabe dizer uma palavra carinhosa. Quem deseja harmonia mas não sabe evitar uma discussão. Quem quer ser cuidado, mas não se preocupa em cuidar. Que seja diferente, mas que respeite seus próprios desejos para que eles não agridam quem também os deseje. Seja diferente, mas não aja com indiferença aos desejos dos que te amam.

Leca Castro - 21/11/12

20/11/2012

Onde te encaixo agora? Ocupei espaços e alguns abismos vou cultivar. Não previ mais lugar para você. Resolvi te deixar livre já que te manter em mim por tanto tempo foi estupidamente desnecessário. Achei que te trazendo comigo ia me sentir menos só, mas quanto mais de você tinha em mim, menos de nós eu sentia. Por isso não te quero mais comigo. Talvez um dia ou em outra encarnação a gente fique junto, mas nessa não quero mais. Vou respirar o que me resta, mas agora com a certeza de estar só, por dentro e por fora. Na verdade é como sempre estive, mas nunca enxerguei assim. Plantei você como algo vital à minha sobrevivência e no fundo sobrevivi sozinha. Respirei você, mas na verdade respirava o ar simples que me mantém viva até hoje. Romantismo não me cabe mais. O único lugar que poderá aparecer será em meus sonhos, mas aqueles que não dependem de mim de forma consciente. Porque não sonho mais acordada. Desisti. São sonhos lindos e que fico por entender já que sempre me fazem doer e chorar. E  isso não é algo lindo. Prefiro doer e chorar pelo que é real, e a realidade é que somos ausentes um do outro e não nos pertencemos. Então que eu chore por isso, que é concreto e real. Não há mais encaixe aqui, não tenho mais espaço. Não mais me encaixo.

Leca Castro - 20/11/12

19/11/2012

Não consigo mais viver no tempo dos outros. Sempre abri mão do meu tempo em respeito a quem amo, mas não dá mais. Acredito que qualquer relacionamento só vai dar certo se ambos os lados cederem um pouco. Ceder sozinha só vai me fazer... ceder sozinha. E o outro lado sempre vai achar que devo fazer isso porque vai se acostumar a isso. Mas não devo, na verdade. Não dessa forma. Se meu tempo é urgente e o outro não tem pressa, ambos sofrerão se mudarem drasticamente isso. A espera vai me sufocar, vai virar ânsia e essa ansiedade vai despertar em mim muita coisa negativa. Da mesma forma que se o outro lado sair atropelando tudo, sem pensar direito e sem entender o que está sentindo, pode acarretar em quedas bruscas e dolorosas. Mas, céus! Onde anda o equilíbrio? Será tão complicado assim esperar um pouco e acelerar outro pouco? Por isso não aguento mais. Quando o outro não se manifesta para sair do 8 e chegar aos 40, desisto de sair dos 80 e tentar o encontro nos 40. Me vem a sensação de que estou lidando com alguém egoísta ao extremo que só enxerga a sua condição e não é esse tipo de pessoa que desejo caminhando ao meu lado ou eu ao lado dela. Não dá pra parar a vida enquanto tem gente esperando. Eu sempre esperei. E nunca tive de volta. Agora, vou viver sem esperar alguém, sem esperar algo de alguém. Pedir tempo pode ser perda de tempo.

Leca Castro - 19/11/12

18/11/2012

Cada passo dado adiante parece um salto. A raridade em conseguir ir em frente é tão frequente que qualquer avanço me espanta. Os baques diários me remetem a retrocessos e o desânimo se instala. Olho minha caixa de recordações e lembro justamente do que não está armazenado mais lá. Objetos e sentimentos que contingências da vida fizeram se perder dos meus olhos, mas não do meu pensamento. Como aquele quadro com a pintura da rosa. Ou aquele meu retrato desenhado a lápis. Ou as cartas e bilhetes acumulados. O fogo tudo consumiu. Do meu violão, o Tony, não sinto mais vontade de tocá-lo. Lembro que "Lágrima" sempre foi sua melodia favorita, mas não dou conta mais de executá-la. É pedir pra chorar. E hoje Tony fica no canto do quarto, ainda com esperança de um dia ser manuseado e tocado. Esperança que eu não trago mais. E falando em trago, aquele cigarro usado por vinte anos, na ânsia de servir de suporte quando o ar de minh'alma faltava, também foi encostado. Não, foi eliminado. Chega de muletas. Preciso voltar a caminhar por conta própria, mesmo que recomece engatinhando. Mas farei isso sozinha. Sempre faço. Não encontrei apoio no meu caminho. Obtive palavras e promessas. Mas na hora do tropeço e da pedra sempre me vi só. Não há quem dê conta de entrar em mim, comigo. Não há quem dê conta de mim, além de eu mesma. Nunca houve. Minha complexidade afugenta quem se aproxima. Ninguém permanece. Tudo isso me assusta e paro. Ou dou passos atrás. Por isso cada outro que dou adiante me parece um salto. Porque é raro e difícil. No momento estou de pé. E sem muletas ou apoio. Mas de pé. Ainda.

Leca Castro - 18/11/12

17/11/2012


Um texto diferente, mas necessário pra mim. Um desabafo bem direcionado, sem rodeios e metáforas. E indo direto ao ponto, é que, em alguns aspectos, eu não desgosto de ser deficiente. É uma condição que salvou minha vida. E consigo algumas "regalias" que me são úteis e facilitam minha vida, agora limitada. Mas a palavra "deficiente" ainda me incomoda. Mesmo sabendo que uma palavra não define ninguém. É que vai sempre me remeter ao contrário de "eficiente". E a última coisa que quero é me sentir incapaz de produzir qualquer coisa que seja. E eu sei que pra algumas dessas coisas já não posso mais e pra outras não dou conta. Mas uma palavra me definindo faz com que isso aumente de proporção.

Pra quem não tem o estigma de carregar consigo essa palavra e essa condição, fica difícil entender o que quero dizer sobre como me sinto. A gente vê pessoas com deficiência o tempo todo. Mas ver e entender não é a mesma coisa. É bom não precisar encarar uma fila gigantesca, mas não é bom saber que chegar na frente primeiro só me é possível porque todos os outros estão aptos a ficarem em pé por muito tempo e eu não. Mas o pior de tudo é saber que pra alguma coisa sempre irei precisar de alguém comigo, mesmo que de forma indireta. Depender não é algo bom. Fere o orgulho. Faz com que ele abaixe a cabeça e assuma que sozinho pouco vale. É como se ele, o orgulho, me desafiasse e perguntasse: "você não dá conta de si?". É horrível. Meu orgulho me limita. Minha deficiência me limita. Minha doença me limita. E a falta de disponibilidade das pessoas me limita. E é isso que me cansa: o emocional que não descansa. É uma guerra todo dia, o dia todo. E no fundo o que quero é muito pouco. Eu não quero precisar de alguém, quero alguém que precise de mim. Sem limites.

Leca Castro - 17/11/12

16/11/2012


Sinto como se estivesse ao avesso. Tudo se mistura e a embolação parece ser o certo. Ouvi a música que mais amo apenas por pensar nela. Toquei o teclado ao digitar, com a sensação de tocar as cordas do violão ao compor um acorde. Senti o gosto de queijo ao provar um doce de goiabada. Enxerguei o rosto de quem amo apenas ao me olhar no espelho - e não me refiro a mim. Cantarolei a melodia em pensamento enquanto recitava a poesia de Oswaldo. Senti o cheiro do amor ao assistir a cena de um beijo no filme. Percebi a cor azul em meus olhos enquanto conversava com um amigo. Sorri de amor no exato instante em que me doí pensando no desamor. Já não caminho com os pés no chão, e pretendo andar com retidão mesmo em meio a curvas no caminho. Meus ouvidos só ouvem o que os olhos comprovam e meu coração não consegue mais sentir apenas, precisa pensar o sentir. Talvez eu esteja louca, ou talvez esteja ficando lúcida. Não sei se preciso de um resgate ou que me sequestrem. Não sei se corro ou se fico. Não sei nem mesmo se me faço sentido. Em mim, hoje, o errado é o correto.

Leca Castro - 16/11/12

15/11/2012


Você encanta de longe. Não são seus olhos os responsáveis por tantos suspiros, mas o seu jeito de olhar com despretensão.

Você não sorri na foto. De vez em quando aparece um esboço. Mas é seu riso escondido entre palavras que faz nossa imaginação amar a alegria que não reparte.

Você é um eterno romântico e isso te coloca acima de palavras que derretem do papel ao coração. Um apaixonado pela idéia de se apaixonar.

Você possui carências. E elas vão além de necessidades efêmeras. Você carece de amar, mais que ser amado. Precisa de ser entendido, e mais que isso, precisa ser respeitado.

Você faz viagens sonoras com músicas de qualidade. Fecha os olhos e ouve aquilo que te transcende. Que faz seus ouvidos amaciarem com cantos quase perdidos de outrora.

Você é muito e eu só sei falar pouco. Sou limitada em palavras quando assunto é você. Porque você não é metade de nada. Você é uma pessoa inteira. E grande. Tão grande que às vezes transborda.

Você é a personificação do simples. E mostra que o simples é tão complexo que o amor te procura ao invés de esperar por você. Porque te amar é fácil. O difícil é conviver com seu amor em meio a tanta impureza de corações.

Mãe, pai. Avô, avó. Gabiru. Primas. Família. Amigos. Eu.

(Parabéns. Te amo.)

Leca Castro - 15/11/12

14/11/2012


Primeiro pensamento do dia é que preciso voltar a ser produtiva. A inércia me corrói aos poucos, um tiquinho a cada dia, e cada vez fica mais difícil dar um passo. Abro os olhos e vejo a janela mal fechada, a fraca luz do sol escondida por entre as nuvens carregadas, o relógio no celular dizendo que ainda tenho alguns poucos minutos. Até o "mais um dia..." pode soar diferente dependendo da forma como for pensado. O meu foi arrastado. Não faço questão de espreguiçar e olho para o teto. Aquela frase famosa "Isso também vai passar" deveria estar escrita lá. Sempre quis fazer isso. Queria saber se olhar pra ela todo dia ao acordar faria alguma diferença. Rapidamente penso em tudo que me aguarda durante o dia e fecho os olhos novamente. Não quero levantar e começar essa rotina. Estico as pernas, mexo os dedos e, quando boto reparo, estou espreguiçando. Droga. Respiro fundo, prendo o ar e levanto. Mil coisas a fazer e repasso, mentalmente, a lista de tudo que vou lembrando. Sei que é inútil e que daqui a meia hora não lembrarei de metade, mas continuo pensando pra me manter acordada e alerta. Tenho muito o que fazer e no final das contas, mesmo reclamando, vou e faço. Então por que me sinto improdutiva? Por que não me satisfaço com o que faço? Perguntas sem respostas, respostas que se camuflam atrás de pressa e impaciência. O alarme soa e pego o celular com calma. Relembro em segundos as últimas mensagens trocadas. E entendo o motivo de me sentir inútil. O que tenho pra fazer hoje mesmo?

Leca Castro - 14/11/12

13/11/2012

Quando te falta tempo pra tudo.
Quando tudo te convoca.
Quando todos te ocupam.
Quando poucos se preocupam.
Falta tempo e o tempo passa.
Seu tempo se esvai.
Meu tempo se perde.
Quero tempo.
Não tenho mais tempo.
Fim de jogo.

Leca Castro - 13/11/12

12/11/2012


Reciprocidade é um palavrão que agride muita gente hoje, e eu me sinto constantemente afetada por ele. Enquanto vejo a maioria das pessoas reclamarem da falta de sinceridade que existe no mundo, consigo ver as poucas pessoas que são sinceras também. E essas poucas são muito mais solitárias que aquelas que mentem, fingem, ou apenas omitem o que pensam e sentem. Deveriam ser castigadas, mas parece que só recebem recompensas por serem assim. Em muitas situações me encaixo nessas poucas sinceras. Não sei guardar sentimento, não sei controlar emoções e não sei pensar com clareza quando fico acuada. Por que me pedem sinceridade se quando o sou, se afastam? Isso cansa e ando absurdamente exausta.

Investir demanda tempo, disposição e energia. É o coração em jogo novamente. É colocar em risco tudo que se sente. É depositar nas mãos do outro o que existe de mais precioso em mim: eu mesma. E você vai achando espaço, cria confiança e se entrega. O tempo passa, a alegria toma conta, os dias se colorem e você recebe o choque. Sim, nova decepção. E aquele sentimento de inutilidade toma conta de novo. É horrível sentir que não sou necessária, especial ou que nem mesmo faço falta. É como se eu fosse tão ruim que ninguém dá conta de me querer. Olhem o nível do texto. Vejam o tamanho do drama. Mas é aqui, na minha terapia quase diária que vou despejar tudo mesmo. Ninguém consegue ser o mesmo sempre. Não consigo escrever todo dia. Não consigo escrever bem todo dia. Não consigo estar bem todo dia. Não há reciprocidade entre as pessoas. Mas ainda espero pessoas comigo que passem pelo mesmo. Pessoas que também são agredidas por esse palavrão. Ou melhor, pela falta dele. Um dia alguém há de sentir o mesmo. Um dia.

Leca Castro - 12/11/12

10/11/2012


O vazio. Novamente o vazio. É como um vácuo no sentimento, um espaço sem nada, um buraco por dentro. Não há dor, não há tristeza. Também não há alegria ou esperança. Expectativa zero. Por isso é um vazio. É o nada.

O nada consome em alguns dias. Ele corrói o que tinha antes. Onde tinha choro, hoje há estio. Onde tinha sorrisos, hoje há indiferença. Não existe fertilidade. Nada será gerado.

Só conheço uma coisa capaz de combater o nada: o sonho. Sem sonhos fico oca. Nem o medo aparece. Preciso sonhar. Desejar. Nada quero, nada almejo. Só espero.

Mas isso foi ontem e isso é hoje. Amanhã? Nem sei se há. Se soubesse, não haveria vazio. Por isso vale a pena sonhar.

Leca Castro - 10/11/12

07/11/2012


Sair da rotina passou a ser meu norte atualmente. Venho de dias onde a mesmice me sufoca e espreme o ânimo de fazer qualquer coisa, até as que me agradam. E essa rotina faz tudo parecer cansativo demais, chato demais, monótono demais, qualquer outro adjetivo negativo acompanhado do advérbio intenso.

Lembro de passar por isso muitas vezes, mas dessa vez sinto mais obstáculos. Penso se é porque estou perdendo a graça em mim e na vida. E isso não é errado, acho que todos passam ou passarão por momentos assim. Parece um teste pra saber se estamos aptos a continuar ou desistir. E eu quero sim continuar, só está mais difícil dessa vez.

Isso me remete ao pensamento de que é mais importante eu não deixar minha vida cair na rotina do que me preparar pra sair dela. Caso contrário, vai virar um ciclo. Uma bola de neve. E viver dessa forma cansa demais a alma. O coração já não aguenta tanto. Sair da rotina não pode virar rotina.

Leca Castro - 07/11/12

06/11/2012

Você sempre dá um jeito de ir. Sua inconstância é uma característica, não tem relação com a idade ou convivência. Você é assim. Não sei se por simples opção ou por não suportar a pressão de compromissos. Aprendi, com o tempo, que o que importa não é quando você vai, mas ter sido suficiente pra você enquanto estava comigo. Só assim tenho como garantida a sua volta. Por isso cuido da nossa relação com carinho e te trago comigo com as mãos em forma de concha. Vá. Cuide de você, respire e faça o que precisa. E volte sempre. Pra mim.

Leca Castro - 06/11/12

05/11/2012

É muito previsível...

Quem tudo quer viver, de uma vez só, acaba sufocado por esse mesmo tudo. Não consegue olhar ao redor e ver a real situação. Não dá conta, sai fazendo um estrago tão grande que, pra retomar, só com sequelas.

São as marcas que a vida deixa.

Leca Castro - 05/11/12

04/11/2012


A presunção de se estar certo é própria do ser - nem sempre tão humano.Vamos nos apoderando de certezas conforme dita nosso raciocínio e de repente aceitamos nossas conclusões como verdades. Há os que querem provar seu ponto de vista e há os que querem provas que desaprovem o seu. E raramente há entendimento. Enquanto um doutor - quem faz doutorado - acha que detém mais conhecimento em sua área do que um graduando - e tem - e usa isso a favor apenas de si, o conhecimento vai se transformando em arma de estranhamentos. Pensar sempre em si mesmo é bem distante de dar de si. Mostrar que sabe para impor opinião é muito diferente de demonstrar sabedoria. E nem todos que sabem são sábios. A sapiência está em saber discernir os momentos entre falar e calar, reter e soltar, caminhar e descansar.

Não sei se o que escrevo é certo ou errado em algum conceito qualquer, mas sei que externo o que sinto e penso deixando claro o que consiste apenas a minha opinião. Minha, não no sentido egoístico, mas como verdade relativa. Mas ao menos tento levar à reflexão os donos dos olhos que me lêem. Exercício ao cérebro. Entendimento ao coração. No final, quem ganha o quê? A discussão? Ou é a discussão em si que ganha de todos? Discutir... essa a questão. Falamos muito antes de pensar e elaborar o que deve ser dito. E mais que isso, a forma como deve ser dita. Palavras agridem. Não as feias, mas as revestidas de sutileza que trajam ternos e possuem o objetivo de ferir. Atenção nunca é demais. Pensar antes de falar nunca é demais. Falar sem pensar sempre deve ser de menos. E equilíbrio sempre é o ideal.

Leca Castro - 04/11/12

03/11/2012


Quero escrever sobre mim. Quero ser egoísta. Quero emagrecer de tanto peso guardado. Só por hoje.

O dia está menos quente e isso ajuda a controlar o desânimo. A janela aberta deixa o ar entrar e renovar o ar dormido de dentro. Não há luz do sol. Não hoje. O tempo nublado me fascina e chego meu rosto fora da janela pra contemplar o céu. Cinza. Lindo. Vejo vida se movimentando nessas nuvens carregadas, energias se chocando e o vento estocando a água por sobre a cidade. Quero ouvir trovões, rugidos das nuvens se encontrando, se acasalando. Quero ver nuvens ficando prenhas e me deliciar com o parto de chuva. Nuvens parindo chuva.

E onde entra meu lado egoísta nesse texto? É que dizem que vemos de tudo mas só enxergamos o que nos reflete. E é assim que meu eu se encontra ultimamente: carregado, trovejante, com choques de cargas. E chega uma hora que não tem jeito. A chuva tão contida vira tempestade e precisa sair. Precisa alagar. E deixo uma dica pra quem tem momentos de chuva querendo transbordar pelos olhos e não sabe como fazer: deixe que chova. Se isso for algo difícil e achar que é uma exposição muito grande, tome um banho e chova por lá. Nada como uma água caindo por cima pra ajudar. Uma água lavando a outra. Não segure. Chova. Chore.

Leca Castro - 03/11/12

02/11/2012

Dizem que em uma relação alguém sempre precisa ceder. E eu creio que seja assim mesmo. Não que isso seja o melhor ou o correto. Aliás, o ideal seria que ninguém precisasse ceder em nada. Que todas as ações fossem boas para ambos. Mas é muita utopia em um mundo tão cheio de egoísmos e orgulhos. Mundo fora. E mundo dentro. O que mais me intriga, e agora falarei por mim e de mim, é a minha subserviência em relação a isso. Das relações que tive sempre fui eu quem cedi todo o tempo. A vontade do outro sempre prevaleceu à minha. Não sei se eu é que não tinha coragem de me posicionar no que eu queria ou se o outro que se antecipava. A realidade é que nunca me senti satisfeita. Foram palavras que não disse, atos que não cometi, sentimentos que não externei. E por quê? Desde quando não atender às minhas necessidades passou a ser algo rotineiro? Duas alternativas: ou sou muito altruísta - e não acredito nisso - ou muito carente a ponto de deixar o que me é importante em segundo plano. Sendo a segunda alternativa a correta, suponho que tinha medo de ficar sem meu parceiro. Ou seria medo de ficar só? Hoje consigo ficar só e isso não mais me assusta. Então, se continuo cedendo, deve-se ao fato de não querer ficar sem alguém. Mas que quantidade de divergências! Só sei que sou uma peça fácil de ser conquistada. O encantamento é quase instantâneo e por isso resolvi me fechar. Não acredito mais que isso venha a trazer algo de bom - como realmente nunca trouxe. O ideal seria que cada um agisse de acordo com o que fosse melhor ao outro. Ou a si. Ou a ambos. Utopia.

Leca Castro - 02/11/12

01/11/2012

Sou tão estupidamente tola que não consigo sair fora do círculo vicioso que tanto me machuca. Já não consigo dormir por duas horas seguidas à noite. Acordo com o coração aos pulos e pensando em você. E pra dormir novamente demoro mais uma infinidade de minutos. E você parece nem perceber. Ou não se importa. A verdade é que posso me desligar de tudo que me une a você, mas todos os dias o que mais tento é me ligar cada vez mais. Por quê? Ou sou masoquista e não quero admitir ou sou masoquista. É sério, não vejo outra lógica em agir da forma como venho agindo. É como um câncer que vai comendo por dentro, doendo cada vez mais, aumentando cada vez mais e enraizando cada vez mais. Há remédio, eu sei que há. A única explicação que vejo - depois do masoquismo, claro - é que minha vida é vazia, um poço sem fundo, onde mergulhar beira a loucura de um não fim. Se te tiro de mim, o que me sobra? Eu? Mas sou tão desinteressante que minha vida seria pra lá de aborrecida. E sem expectativas. Sem objetivos agudos, de curto prazo. E viver só de prazos estendidos não é motivador. Onde achar então o prazer no hoje, no agora? Juntando minhas limitações só consigo ver meu presente como uma etapa a ser concluída. Sem emoções, sem atrativos, sem motivos. E viver assim não seria o mesmo que cair da mesma forma no poço sem fundo? A diferença é que eu cairia sem esperanças e sem vontade de voltar à superfície. Voltaria pra quê? Pra mergulhar de novo amanhã? E depois de novo? Viver para cumprir tempo não é viver. É cumprir penitência. Prefiro pagar meus erros com pequenos infartos pela madrugada. Eles doem, mas sinalizam que ainda posso sentir. Eles me enfraquecem mas me enchem de esperanças. Eles me matam aos poucos mas eu já morro um tanto todos os dias quando mergulho no poço. Eu morro um bocado a cada dia desde que nasci.

Leca Castro - 01/11/12

30/10/2012


Vou me descobrindo quando aparecem adversidades no caminho. Recebo a notícia que um amigo faleceu e imediatamente faço uma oração por ele. Só então deixo o coração pesar e doer um pouco. Sempre dói. Por mais que eu tenha lidado com a morte na minha profissão, por mais que eu tivesse consciência que seu desenlace estava bem próximo, dói. Mesmo sabendo que ele está bem.

Então por que dói? E é aí que me descubro. O motivo de ficar desse jeito é o egoísmo que carrego. Não querer que ele se vá é pensar em mim, na minha perda, na minha saudade. Enxerguei também traços em mim de inveja. Sim, inveja. Não que eu deseje morrer ou apressar minha morte. Não. Mas invejo sim quem já está indo por estar realmente na hora de ir. Quem passou por essa etapa e chegou na reta final, triunfante por ter ultrapassado as barreiras das dificuldades e das dores. Eu não peço para que minha morte se apresse, mas confesso que desejo que esse momento não demore muito. Não tenho mais vontade desse mundo nem de gente. Só vejo sofrimento, gente má, dores, incompreensão. Isso tira todo meu tesão pra continuar. Se não fosse minha crença, aí sim eu acho que estaria afundando em depressão e entregando os pontos. Sinto que não consigo me explicar e que estou me perdendo na lógica desse texto, mas não importa. Quem não entender desejo apenas que respeite.

Está aí a prova do meu egoísmo. Peguei a dor da perda do amigo e desfiei um rosário sobre mim. Sei que ele está bem e que será muito bem recebido. E que me espere. Junto com meu avô querido. Um dia vamos nos abraçar e respirar com alívio pelas expiações vividas. Essa é a minha crença. E é nela que me baseio. Fique bem, amigo.

Leca Castro - 30/10/12

29/10/2012

Peço desculpas, mas irei repostar um texto que escrevi ano passado, frente ao falecimento de uma pessoa importante para mim. E acho que irei repostá-lo sempre que precisar lembrar de seu conteúdo. Espero que seja útil de alguma forma a quem vir a (re)ler.
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Enquanto estava na faculdade precisei aprender a lidar com a morte pois precisaria passar por esse enfrentamento na profissão que escolhi. No momento que essa matéria foi se descortinando pra mim entendi sua importância. Até então achava impossível ensinar teoricamente o que fazer com a dor da perda, mas depois pude entender a relevância de se estudar a respeito. E exatamente hoje vivencio dois tipos de perda em mim: a morte física, pois acabo de perder um amigo, e a morte em vida, pois também acabo de perder mais pessoas e preciso lidar com isso.

E é exatamente agora que tento relembrar minha teoria da graduação e acabo recordando da psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross que classificou a experiência com a morte em cinco estágios e creio que sejam válidos quando sabemos da nossa morte em breve, quando é morte física de um ente querido e por que não quando acontece a morte de uma relação em vida, analisem comigo se não há um perfeito encaixe.
O primeiro estágio é chamado de negação e isolamento e são mecanismos de defesa do nosso consciente diante da dor. A duração e intensidade são variáveis mas não costumam durar muito tempo. (Ao perder um amigo/amor nossa primeira reação não é essa de imediato?)

Mais rápido do que imaginamos, entramos no segundo. É o estágio da raiva. O consciente não consegue manter a negação e o isolamento e então brigamos com todos e tudo, hostilizamos, somos agressivos, nos revoltamos. "Por que eu/ele?". Momento em que a angústia vira raiva pela interrupção da vida. (Num rompimento de relação também sentimos essa raiva por dentro. Ou ela existe pelo outro, por ter gerado sofrimento em nós ou existe por nós mesmos. Sentimos raiva por termos permitido a entrega, incondicional.)

E chegamos no terceiro momento: a Barganha. Essa fase acontece quando entendemos que, mesmo deixando de lado a negação e o isolamento, mesmo a raiva não ter sido solução, precisamos fazer algo. E começamos a barganhar com Deus. Mas fazemos isso em segredo. Mas vejam, o que temos de valioso a oferecer a Deus, para o "sacrifício", já que não temos mais a vida para ser negociada? E essa barganha vira súplica e promessa. Uma tentativa de adiamento. E para barganhar com Deus é necessário estar sereno e dócil, sem hostilizar ninguém. (Na prática é quando pedimos ajuda a Deus ou a algo que acreditamos como Superior a nós. Queremos sair do processo, deixar a dor, respirar. E aqui, bem no meio dos estágios, muita gente pára. As pessoas gostam desse tipo de dor e não percebem que se adiantam rumo ao precipício do sofrimento. Descobrem que não adianta negociar e entram no próximo nível).

Após descobrir que nada funcionou, nem mesmo a barganha, nos encontramos no penúltimo estágio, que é o da Depressão. Não há como negar a perspectiva de morte nem mesmo a morte em si. A debilidade toma conta, a falta de perspectiva é dolorosamente sentida. Negar não adiantou, agredir e se revoltar também não, fazer barganhas não resolveu. E então chega o sentimento da perda trazendo em si a dor psíquica da realidade dura, a consciência de que nascemos e morremos sozinhos. Somos puro desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro. (E aqui faço um adendo. O ser humano parece gostar de sofrer. A maioria entra na fase depressiva e não sai dela. Não porque não consiga, mas por achar que assim conseguirá atenção e carinho. Esquecem que carência é algo mais sério e transformam um processo em vitrine de sentimentos. Essa exposição torna-se caótica e a falta de respeito e amor-próprio domina. Sim, algumas pessoas não saem dessa fase porque não querem).

Chegamos ao último estágio: Aceitação. Não existe mais o desespero, nem fuga da realidade. Chegou a hora de repousar, descansar. Sentimos conforto por quem vai/foi. (Entendemos, nesse ponto, que uma relação se finda independente do que sentimos. Se uma pessoa se vai não tem como continuar convivendo. Deixe-a ir. Apenas envie pensamentos e sentimentos de amor, carinho, compreensão.)

E foi muito bom escrever sobre isso e relembrar cada passo. Foi a forma que consegui para passar correndo pela depressão e chegar no nível de aceitação. Eu aceito a morte do meu amigo e agora, aceito também as mortes que vão acontecendo em mim. Meu achismo não trará ninguém de volta por mais que eu não consiga ver a culpa em mim. Isso também não importa mais. Quem eu amo se foi de mim. Ponto.

Leca Castro - 14/12/11 
Venho sentindo falta de silêncios ao meu redor. Todos os dias é muita movimentação, muita gente falando, telefone tocando sem parar e interfone que adora gritar. Coisas mil acontecendo aqui dentro, mas não consigo me ouvir. Não é algo fácil de ser feito e os ouvidos da alma são sensíveis demais. Qualquer distração e puf! E pra piorar não há como recomeçar de onde parou, sempre preciso recomeçar do começo. E tenho a sensação de que estou gritando por dentro e precisando ser ouvida. Quero voltar a ter madrugadas insones. Isolamento de gentes. Ficar a sós. Ficar só. Ando queimando e não consigo um refresco. Não há vento que me amenize. Preciso me resfriar por fora e tentar esfriar por dentro. Dormir de concha comigo mesma. Abraçar meus joelhos e chamar a tempestade. Não chove aqui há muito tempo e a aridez me agoniza. Meus olhos doem tamanha secura. Não vejo a hora de voltar a transbordar.

Leca Castro - 29/10/12

28/10/2012


O dilema de sempre, sempre volta. Falta ainda muito entendimento para saber se é hora de deixar ir ou se ainda vale a pena tentar. E por egoísmo eu tento. Quisera conseguir ser altruísta e deixar ir. Quisera ter perspicácia e saber que, se houve conquista, o que se vai acaba voltando.

E por orgulho não há volta. Mesmo havendo conquista. E por orgulho não se aceita de volta, quando volta. E por tudo ser sempre maior que o amor, acontecem os desencontros. Enganamos os outros e a nós mesmos quando afirmamos amar mais que tudo. Só amamos muito quando tudo está bem, quando tudo está estável. Mas quando as divergências vão aparecendo o amor simplesmente se desgasta. E de tanto se desgastar o amor que era grande vai esmorecendo. Diminui e fica tão pouco que não dá mais pra dividir. Passamos a amar sozinhos. Dedicamos o pouco que temos a nós mesmos. O outro deixa de ser "nós" e nós passamos a ser "eu". E meu umbigo vai bem, obrigada.

Leca Castro - 27/10/12

26/10/2012

Clique para ampliar. Tirinha do Fábio Coala. http://mentirinhas.com.br

25/10/2012


O tempo vai passando e sua presença se torna mais distante. É como se sua imagem recebesse pinceladas de cal e fosse ficando, aos poucos, opaco em minha retina. Sei que vai achar estranho, mas eu conseguia te ver, nitidamente, ao meu lado. E fazia isso com meus olhos abertos. Olhava para o sofá e revia nossos momentos juntos, nosso amor contido, nossas mãos entrelaçadas. E eu sorria sozinha quando enxergava você ali comigo. Algumas vezes em que passo pela portaria do prédio consigo ver nosso abraço de despedida das noites de sábado. Durava minutos, lembra? E depois eu ficava só, vendo você se distanciando até dobrar a esquina. Mas a cal vem te encobrindo. E tenho muito medo que essas lembranças vivas fiquem cimentadas ao longo do resto do meu tempo.

Mas quando penso em você com meus olhos fechados, ah! É como se o tempo não houvesse passado. Nem cal e nem distância fazem sua imagem esmorecer em mim. Consigo enxergar cada detalhe seu: os olhos, seus dedos (lindos!), sua boca, sua pinta, seu sorriso (inesquecível), sua cicatriz. É tão nítido que até assusto. Faz um bem danado rever cada detalhe. Um bem que dói. Mas não consigo me livrar desse lado masoquista quando se trata de você. Aprendi a lidar com dores diversas em minha vida e em mim, mas a dor de você não encontro o melhor jeito. Ou talvez eu não queira. Se a única forma de ainda te ter comigo for através de dores, e se para reviver você comigo e em mim eu precisar senti-las, eu aceito. Aceitei há tempos. Aprendi a não extrapolar e deixar cair em sofrimento. Já sofri demais por mim e por nós. Agora deixo apenas que doa. É como um estímulo, um choque. Me mantém viva. E nessa minha visão da memória, cal nenhuma vai te ofuscar. Que meus olhos abertos virem cimento com a sua visão, mas os olhos de minha alma sempre te verão aqui comigo. Sempre presente e transparente.

Leca Castro - 25/10/12

24/10/2012


Acordei desanimada e sem motivação alguma pra sair da cama. Aliás, o que me tirou de lá foi o calor que nem o ventilador deu conta de amenizar. Tem dias que amanheço assim: querendo que continue noite. Motivo nenhum específico, apenas falta de vontade. E acho que todo mundo deve se sentir assim às vezes, principalmente quem tem suas atividades bem limitadas, como eu.

Daí que me esforço, levanto e começo a resolver pequenas pendências. E aos poucos o dia vai engrenando. Eu sei a fórmula pra que tudo funcione, mas quem diz que é fácil colocá-la em prática? Certo, não é. Mas justo hoje, que queria ficar morgando na preguiça, a vida - pra variar - dá um jeito de me dizer que não dá pra ficar quieta. Logo aparece alguém com alguma tarefa inadiável ou algo importante pra ser feito. E lá vou eu resolver pequenos pepinos. Falando nisso, por que problemas levam a alcunha de pepino?

Estou chegando na metade do dia e já foi bem produtivo. À tarde quero ficar só espreguiçando. Ando muito cansada de não fazer nada de muito útil. Ficar à toa cansa. Minha mente precisa de ocupação, meu corpo também apesar de me frear bastante, e minha vida anda precisando de uma chacoalhada. Pra melhor, claro. E termino aqui, uma sessão desabafinho. Hoje não quero escrever. (risos)

Leca Castro - 24/10/12

23/10/2012



Pode ser que tudo não passe de ilusão minha, sabe como funciona o coração, não? A gente sente e acha que o outro sente também, porque assim nos convém. E por eu ainda te amar tanto vou continuar achando que você também me ama, tal qual a última vez que falamos sobre amor. E acreditarei até o dia em que ouvir de forma clara e direta que amo sozinha. Só quando me disser que não sente mais amor por mim. Até lá, ficarei com sua última fala.

Então por que não invisto mais? Por que não luto por você, pelo nosso amor, pela gente? Seria o óbvio a se fazer, pois nunca acreditei que as boas coisas caíssem do céu. Sempre acreditei que deveria me esforçar, mesmo que você não fizesse o mesmo. Mas eu desisti. De te amar, não. Nem sei como isso seria possível. Mas desisti de lutar. Desisti de tentar fazer dar certo. Por isso que na sua última tentativa de aproximação eu coloquei uma máscara fria e procurei transparecer uma certa distância.

É que não tenho mais estrutura para esse nosso jogo. Esgotei todas as minhas artimanhas e não possuo mais armas. Sim, resolvi me desarmar e agora uso apenas um escudo. Não dou conta mais de viver alimentando minha imaginação e já me esburaquei tanto por dentro que não há mais chão. Por dentro virei um abismo. Cada pensamento dirigido a você, cada lágrima que deixei rolar, cada frase dita e escrita, tudo isso foram pedaços de mim direcionados a você. Tem dias que me sinto oca.

E por isso não dou conta mais de jogar. Hoje estou tão sem norte que preciso de colocações e frases diretas. Preciso de direção. Preciso de caminho certo com placa indicativa contendo setas. Sinto que não dou conta mais de atalhos nem bifurcações. Só conseguirei ir adiante se souber meu destino final. E no fundo, uma coisa continuará a mesma de sempre: permanecerei esperando.

Leca Castro - 23/10/12

22/10/2012


Assistindo a um episódio de seriado ouvi uma frase lindíssima: Quando alguém solta da sua mão, você a tem de volta. E é verdade. Enquanto estamos junto de pessoas a quem ajudamos, nos sentimos bem. Isso é o amor em ação. Mas quando alguém recusa ou dispensa nossa ajuda, isso no fere. Dói. Mas é apenas nosso orgulho tentando ser maior que tudo e tampando nossa visão. Raramente teremos alguém que fique conosco sempre e para sempre.

Quando uma pessoa solta de nossa mão significa que ela está pronta para andar sozinha. Fizemos a nossa parte e é necessário deixar que se vá. Assim é o amor. Ele não aprisiona, não dá nó apertado. Precisa ser laço. E quando alguém solta nossa mão, temos ela de volta. Temos nossa mão liberada para que possamos voltar a cuidar melhor de nós mesmos, ditar novos rumos, seguir adiante. Assim é a vida.

Não queria que pessoas se fossem, mas elas vão. Nunca me sinto pronta pra isso e sempre vou ao chão. Na maioria das vezes levanto sozinha, mas em algumas preciso de ajuda. É a hora em que minha mão está disponível e à espera de outra mão estendida.

Leca Castro - 22/10/12

21/10/2012


Ando com preguiça de gente.

As pessoas andam tão apressadas que não dá ânimo acompanhar seus passos. Falta tempo pra fazer coisas importantes, mas não abrem mão de algumas futilidades, que às vezes até são importantes, mas não todo dia e o dia todo. Andam com tanta pressa que acabam esquecendo o que realmente importa e pessoas de valor são deixadas pra trás.

As pessoas andam tão preocupadas com seu próprio bem estar que não há mais espaço para o cultivo de coisas externas. O trabalho do outro sempre é menos importante e os problemas também. Ninguém sofre mais do que elas próprias. Ninguém ama mais que seus próprios corações. São tão preocupadas consigo mesmas que todo mundo é bem menos que qualquer coisa.

Claro que também me enquadro nessa multidão. Seria hipocrisia dizer que não. E acho que por saber disso é que estou tão cansada de conviver e ver no outro o reflexo daquilo que sou. É por saber disso que ando com preguiça de gente. Ou melhor, não ando mais, por pura preguiça. Tenho preguiça de mim.

Leca Castro - 21/10/12

19/10/2012


Eu tenho medo da velhice. Sempre tento acumular algum crédito na vida para ter direito a um desejo poderoso. E esse desejo sempre é o mesmo: não quero perder minha sanidade. Prefiro me ausentar do mundo aos sessenta (no máximo) do que aguentar até oitenta, sem saúde e sem consciência. O maior dom que possuo é a capacidade de pensar e sentir. E toda minha peleja até hoje é a tentativa de equilibrar os dois. Ficar sem a razão seria por demais doloroso, mais ainda que minhas dores que já fazem morada nesse corpo quarentão.

Não é da solidão que tenho medo. Não. É da dependência. Tenho medo de não dar conta de terminar minha garrafa de vinho. Tenho medo de não lembrar mais das músicas que conseguia tocar no violão, por não precisar mais dele. Tenho medo de assistir a um filme muito bom e não mais chorar com seu personagem. Tenho medo de que toda lembrança guardada na caixa se torne apenas matéria bruta. Tenho medo de não dar conta de fazer meus próprios curativos. Tenho medo de não conseguir sair de meus abismos. Tenho medo de me perder em mim.

Não quero que meu sentimento caminhe sozinho, sem rumo e sem companhia. Ser pouco racional já é difícil, imagine não ter razão alguma! Tenho medo da velhice. Que a vida já me traga todos os problemas que ainda preciso enfrentar e me salve dessa loucura. Continuarei acumulando meus créditos para garantir meu pedido único. Não me tire a sanidade.

Leca Castro - 19/10/12

18/10/2012


Minha maior conquista acho que foi conviver com a espera. Ou a expectativa. Sempre me mantive em posição de esperar uma resposta. Ou até mesmo uma pergunta. Mas sempre esperando. Desde que dei meu primeiro grande passo errado nessa vida, deixei de ter autonomia sobre mim e sobre a destinação da vida de qualquer pessoa que seja. Perdi esse direito. Apenas esse passo fez com que todas as ações decorrentes dele fossem desastrosas. E por mais que eu me arrependesse ou tentasse corrigir, o estrago estava feito. Inúmeros pedidos de perdão se perderam no tempo e no vento. A voz chegou a falhar e a caneta secou a tinta. Por isso o auto perdão é algo pra lá de difícil. Chega a ser complicado de entender.

Mas viver na expectativa e com ela é algo que dilacera até hoje. Coração vive aos saltos e a esperança depositada nas pessoas é alta demais. Não consigo fazer com que seja menos que isso. Ainda busco aquele momento em que a vida irá me sorrir, ou quando se diz que 'tudo passa'. Mas o momento ruim não passou ainda. Não tive mais sossego, não tive mais paz e só vivo aos sobressaltos. Como ser menos? Como exigir-se menos? Como precisar menos? É tudo muito "mais" ou tudo muito "menos". Só sei que é intenso, sempre. Qualquer demonstração de carinho é como se sentisse uma oferta de colo. Assim como qualquer demonstração de afeto negativa, vou ao fundo do poço. Extremos e exagerados. Por isso estou aprendendo a conviver com a espera. E sigo esperando que alguém (ou a vida) me aquiete de vez.

Leca Castro - 18/10/12

17/10/2012


Acredito que tudo que nos aconteceu durante esse tempo em que estamos afastados, aconteceria independente do rumo dos nossos caminhos. Você teria seu emprego e eu teria minhas doenças. Seus cabelos sumiriam e eu deixaria de tocar o violão. Acho que a única coisa que mudaria seria meu sentimento de ser só. E claro, só posso falar por mim. E na solidão a gente arruma mil coisas a se agarrar, a se prender. Eu me segurei em tantas artimanhas que em algumas eu me perdi. Quem pode me culpar de fugir da realidade nas vezes em que sua não presença doía forte? Ainda não aprendi a manusear minha vida com sua ausência e nem sei se um dia aprenderei. Aliás, não sei se quero aprender. Até a sua falta é melhor que nada, me entende? Tudo, tudo, sempre será melhor que nada. Seu desprezo, sua raiva, minha insignificância, sua escassez, sua pouquidade. Consegue enxergar que qualquer uma dessas coisas ou todas elas sempre serão algo? E sim, me agarro a todos esses algos nessa minha solidão de você. Porque nada soube preencher seu lugar, seu espaço. Tudo está aqui, intacto. Até as estrelas ainda levam meu riso e, caso não mais as perceba, elas também balançam os guizos. E caso ainda assim não as ouça, tudo bem. Continuará a ser doce olhar o céu. Assim como continuarei a me sentir só. Sentir tão forte a sua falta me fez cometer erros e escorregões, mas hoje vejo que foi por causa da visão embaçada. Não há como enxergar direito e com clareza em meio a tempestades, por mais que tente se proteger. Mas eu nunca quis. Sempre me deixei molhar até os ossos. Queria me sentir alagada, por dentro e por fora. Ainda faço isso. O que mudou? É que hoje eu aprendi a trazer a solidão para junto de mim. Em tudo o que faço a levo junto. Fiz dela minha companheira e é com ela que converso. Ela sabe tudo de nós, mas principalmente de mim. Talvez um dia você precise dela e então saberá todas as confidências que eu fiz. Ela te dirá tudo que eu nunca consegui. A solidão anda abraçada com quem ama sem par.

Leca Castro - 17/10/12

16/10/2012

Hoje deixarei com vocês um texto de Vinícius de Moraes, que se encontra no livro Para Viver um Grande Amor. Vinícius exprime com maestria o que pensa sobre a solidão e eu sempre pensei dessa mesma forma. Nada mais justo que eu o traga aqui para que fale por mim. Espero que se deliciem comigo.


Da Solidão

Sequioso de escrever um poema que exprimisse a maior dor do mundo, Poe chegou, por exclusão, à idéia da morte da mulher amada. Nada lhe pareceu mais definitivamente doloroso. Assim nasceu "O corvo": o pássaro agoureiro a repetir ao homem sozinho em sua saudade a pungente litania do "nunca mais".

Será esta a maior das solidões? Realmente, o que pode existir de pior que a impossibilidade de arrancar à morte o ser amado, que fez Orfeu descer aos Infernos em busca de Eurídice e acabou por lhe calar a lira mágica? Distante, separado, prisioneiro, ainda pode aquele que ama alimentar sua paixão com o sentimento de que o objeto amado está vivo. Morto este, só lhe restam dois caminhos: o suicídio, físico ou moral, ou uma fé qualquer. E como tal fé constitui uma possibilidade - que outra coisa é a Divina comédia para Dante senão a morte de Beatriz? - cabe uma consideração também dolorosa: a solidão que a morte da mulher amada deixa não é, porquanto absoluta, a maior solidão.

Qual será maior então? Os grandes momentos de solidão, a de Jó, a de Cristo no Horto, tinham a exaltá-la uma fé. A solidão de Carlitos, naquela incrível imagem em que ele aparece na eterna esquina no final de Luzes da cidade, tinha a justificá-la o sacrifício feito pela mulher amada. Penso com mais frio n'alma na solidão dos últimos dias do pintor Toulouse-Lautrec, em seu leito de moribundo, lúcido, fechado em si mesmo, e no duro olhar de ódio que deitou ao pai, segundos antes de morrer, como a culpá-lo de o ter gerado um monstro. Penso com mais frio n'alma ainda na solidão total dos poucos minutos que terão restado ao poeta Hart Crane, quando, no auge da neurastenia, depois de se ter jogado ao mar, numa viagem de regresso do México para os Estados Unidos, viu sobre si mesmo a imensa noite do oceano
imenso à sua volta, e ao longe as luzes do navio que se afastava. O que se terão dito o poeta e a eternidade nesses poucos instantes em que ele, quem sabe banhado de poesia total, boiou a esmo sobre a negra massa líquida, à espera do abandono?

Solidão inenarrável, quem sabe povoada de beleza... Mas será ela, também, a maior solidão? A solidão do poeta Rilke, quando, na alta escarpa sobre o Adriático, ouviu no vento a música do primeiro verso que desencadeou as Elegias de Duino, será ela a maior solidão?

Não, a maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, e que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e de ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes da emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto da sua fria e desolada torre.

(Vinícius de Moraes)


Aquele momento que você lê um trecho de um livro e se perde. A mente vai até algum momento vivido de sua vida que foi marcante em algum ponto. Eu li um parágrafo do capítulo "Desejo Não é Carência" do último livro do Carpinejar (Ai meu Deus, Ai meu Jesus) e admito que fui longe. Não na fala dele em si, mas nas lembranças que elas me fizeram despertar. E é por isso que incentivo a leitura. Os benefícios são imensos, entre eles: a melhoria do vocabulário, o aprendizado da gramática, o desenvolvimento do raciocínio e da sensibilidade, as viagens. Principalmente as viagens. Abrir um livro é como abrir uma janela, que te possibilita enxergar mundos além dos seus. Mas degustar a alma do autor é abrir portas. E transpô-las até onde sua mente e seu coração assim o permitirem. E é aqui que digo: permita! Não há sensação igual, não há momento parecido. Cada viagem é única. E então você volta e consegue ver o seu mundo com outra cor, com outro (ou algum) brilho. Permita! É como se o cérebro fosse exercitado. E é como se o coração fosse ressuscitado. A energia se renova, o ânimo melhora, a cabeça se levanta. Alguns dirão que exagero. E eu confirmo, exagero sim. Mas alguns também irão concordar. E sentirão meu exagero como algo natural. Quem concorda é porque já abriu janelas e não se contentou. Precisou abrir portas e sair. Sair de si, viver por dentro e pra dentro. E voltar. Voltou e se sentiu exagerado, como eu. Quer uma dica? Permita.

Leca Castro - 16/10/12

14/10/2012


E a dificuldade em abrir mão dos momentos de prazer em prol de momentos de crescimento? Investimos nosso tempo e nosso coração em pessoas, acreditamos que elas saberão fazer as escolhas corretas. Cultivamos e vamos nos abrindo. Há abertura da outra parte também. Então, confiamos. Quando chega aquela hora em que precisamos do testemunho do outro, da prova de que toda a teoria vale na prática, somos trocados por efemeridades. Quem nunca?

E é assim que vamos colecionando as decepções na vida. Mas esse raciocínio só vale para quem consegue fazer o que cobra do outro. Só vale para quem sabe se doar de verdade, se entregar. Trocar seu tempo em prol da necessidade do amigo. Se você realmente consegue abrir mão da diversão para ajudar quem lhe é caro ao coração, você descobriu o caminho da consciência leve. E se o outro não consegue lhe retribuir, não esmoreça. Em algum instante aparecerá um outro como você, que saberá se disponibilizar, saberá se entregar. E então contradiga o começo desse texto e faça momentos de prazer serem também momentos de crescimento.

Leca Castro - 14/10/12

13/10/2012



Nada que sai da nossa vida sem que seja da nossa vontade, sai à toa. Muito menos pessoas. Mas como somos imediatistas - e egoístas - não conseguimos perceber que por detrás dessa situação pode estar escondido algum propósito. Usualmente as lágrimas embaçam a visão. A verdade é que sempre encaramos como perda algo que pode vir a ser um ganho.

Perdeu um trabalho mesmo sendo um bom funcionário? Olhe em volta e procure. Pode ser que alguma oportunidade melhor apareça. Perdeu um parente para a morte? Entes queridos costumam virar nossos melhores amigos após o desenlace. Passamos a conversar e nos expor muito mais com eles. Perdeu, em vida, alguém que considera muito? Oportunidade de repensar: é alguém que realmente te impulsiona para frente? Espere uns dias e volte a medir o tamanho da dor.

Todo nó que damos nos amarra. Todo laço que fazemos nos abraça. Necessário desatar amarras e promover abraços. Permita que os nós se desfaçam e traga para si apenas o que por si só aceita ser laço. Enlace coisas boas. Enlace corações.

Leca Castro - 13/10/12

12/10/2012

Quando minha avó dizia que é de pequenino que se torce o pepino, eu imaginava mil significados para essa expressão. Hoje sei que algumas atitudes quando novo em idade só demonstram o tipo de indivíduo que você será no futuro. Se quando criança tiver uma índole má, deve ser ensinado que não se pode fazer algo de ruim ao outro. Mas se na adolescência essa índole ainda existe, e pisar e desprezar a fala e o sentimento alheio for algo fácil de ser feito, então torna-se preocupante os reais valores de tal criatura. Achar-se soberano na verdade e desprezar a verdade do outro pode ser uma coisa desastrosa. E como sempre digo no que escrevo, para mim, a base de toda relação não é o amor, mas o respeito. Amor é consequência. Sem essa base, amor nenhum sobrevive. Cultivar bons momentos, enriquecer encontros e bendizer desencontros são processos do crescer que não tem idade limítrofe. Saber dizer adeus na hora certa também é sinal de crescimento. Deixe ir quem não sabe permanecer. Depois que cresce, só com muito esforço para enxergar o espaço do outro, suas motivações e seus problemas. Quem não cresce fazendo isso, será um solitário. Não de pessoas, mas de si mesmo.

Leca Castro - 12/10/12

11/10/2012



Vidas se entrelaçando em outras vidas.
E nesses entrelaços vidas comuns vão surgindo,
além da minha, além da sua.
Agora existe uma vida nossa.

Leca Castro - 11/10/12

10/10/2012


Quem se importa com a cor da blusa que escolhi para hoje? Na verdade preferia que se importasse comigo, com a cor que acordei, com a cor que meus olhos estão refletindo, com a cor que amanheceu pintado o meu coração. A blusa só serve para cobrir o corpo, esse objeto condutor de prazer e que serve para transportar minha alma de um canto a outro. Mas você não percebe que o único lugar que queria deixar minha alma é em você. E que hoje ela amanheceu desbotada, suplicando por vida. Tanto faz a cor da minha blusa, se minh'alma desbotou.

Leca Castro - 25/04/12
(repostagem, mas sou eu hoje)

09/10/2012

Somos como cartas vivas. Escrevemos nossa história com o papel da alma e a caneta de nossas ações. E nessas missivas pouco adiantam as palavras bonitas, as rimas bem feitas ou a teoria literária. O que conta mesmo são as frases ditas que apedrejam ou levantam, as mãos que estapeiam ou as que sabem enlaçar, as pernas que aumentam a distância ou as que aproximam, os olhos que faíscam ódio ou os que suplicam carinho, o seio que desperta apenas prazer ou que sabe acolher, a genitália que distribui sexo ou que convida ao amor, o coração que se endurece mais que pedra ou o que se machuca por tanto amar. Cabe a mim, cabe a você, escolher o tipo de carta que quer continuar lendo e o tipo que pretende continuar sendo. Vamos aperfeiçoando nossa letra, nossa escrita, nosso conteúdo ou vamos decaindo em tudo até que sejamos dignos de ir ao lixo? Somos cartas que transparecem realmente nossos valores e, o mais bonito disso é que, para essa escrita, não existe borracha.

Leca Castro - 09/10/12

08/10/2012

A vida não dá tréguas. E é quando menos se espera, que as coisas acontecem. Boas ou não.

Respirar fundo nos intervalos dos acontecimentos é o mais viável. Sugar todo o ar possível para que o pulmão se reabasteça. Na maioria das vezes ficamos sem ar perante as surpresas impostas.

Deixar o coração bater ritmicamente nas pausas. No acelerar dos embates mal notamos a taquicardia emocional que nos acomete. E bate tão fora do compasso que costuma sangrar pelos olhos.

Descansar a mente entre um dia e outro faz-se necessário até. Nunca sabemos o quanto será preciso desprender de energia para se pensar no que já foi e no que está sendo. A cabeça lateja quando precisamos entender o que virá a ser.

É lindo teorizar sobre passado, presente e futuro. Mas na prática não há como não se basear no que foi feito para que se faça de uma forma melhor. Confuso, não? Para quê? Para que seja diferente e sem tanta dor. Se não isso, por quê viver? A concepção de errar e que se dane o resto não cabe mais. Só justifica-se o erro se for para tentar diferente na oportunidade seguinte. Tolos egoístas somos em achar que sempre temos razão e querer que os outros concordem com nosso ponto de vista. Tolos! Sem objetivos, sem pensarmos além do que hoje é o presente, seremos sempre tolos e inconsequentes.

Viver é mais que respirar, mais que deixar bater o coração, mais que pensar. É urgente a necessidade de tomar fôlego, de sentir sem exasperar, de pensar com foco. Urgente. A vida nunca espera a gente achar que está pronto.

Leca Castro - 08/10/12

07/10/2012


Sinto meus braços do tamanho da minha disposição: pequenos. Falta-me ânimo para estender mãos. Faltam motivos para abraços.

Sinto minhas pernas de acordo com os laços que me unem a outros: bambas. Não consigo saber a intensidade certa de uma relação. Ou aperto muito e perco, ou afrouxo demais e perco da mesma forma. Minhas pernas não me sustentam.

Sinto meus ombros da mesma forma que sinto minha consciência: pesados. Manter uma postura ereta frente a tantas dores só desperta mais dor. E a razão lateja tanto que a cabeça enverga. Cabeça e ombros apontam ao chão.

Sinto em meus olhos a mesma sensação que bate em meu peito: ardência. Enquanto os olhos ardem  por constantes tempestades, o coração arde por intenso fogo eterno. Queimaduras extensas em ambos. Cicatrizes e remendos.

Muitos sentires que não cabem mais guardados. Intensidades que andam juntas, em conjunto. Nada mais costuma bastar. Nem uma mesa no bar, nem cigarros entulhando no pulmão, nem o uísque que descia manso, nem o vinil do Chico, nem as fotos daquela caixa. Em tudo tem muito, mas em tudo sobrou nada. E no nada permaneço.

Leca Castro - 06/10/12

05/10/2012

Em qual noite a gente se perdeu? Qual dessas madrugadas insones marcou nossa partida? Ainda vou até a janela esperando que você mande um recado pela lua e que diga que está voltando. Bem sei que voltas são complicadas, há que se renunciar muita coisa. Mas ainda tenho esperanças de que ache que valha a pena. Que a gente é algo que vale a pena reviver. Que vale a pena sentir de novo sem ressentimentos. Que vale a pena recomeçar e fazer que dê certo. Crescemos. Não somos os mesmos de outrora. Vivemos. Sentimos (até demais). Tivemos momentos felizes. E de tristezas. Sorrimos. Sofremos. Claro que não somos os mesmos. Que isso sirva de estímulo para que me procure novamente. Porque eu não mais baterei por aí. Foram tantos "nãos" que mais um e sou capaz de não conseguir me erguer novamente. Já não é mais o orgulho. É desesperança. Sei que cresci e muito aprendi. Até me conheço melhor e descobri os valores que tenho. As imperfeições? Continuam, algumas de forma mais branda. Mas não mais abrirei mão de saber do meu lugar no mundo, no seu mundo, no meu mundo. Quero apenas que "mais uma chance" se aplique a nós. E que seja em breve, pois o tempo não é mais aliado, virou vilão. E só você para ser o mocinho da nossa história e encerrar esse duelo de vez. Chega de postergar. Esse é mais um texto que sai rasgando. Sangrando. Volte?

Leca Castro - 05/10/12

04/10/2012

Minha cachorra andou aprontando enquanto eu labutava na cozinha. Tá, nem labutei tanto porque saiu apenas um macarrão com molho de salsichas, mas não vem ao caso esse detalhe. Terminado meu feito, voltei ao quarto e vejo minha cama toda suja, com três manchas de vômito. E adivinhem meu primeiro sentimento? Não me julguem, mas foi de raiva. Sim, raiva porque eu teria que trocar toda a roupa de cama. Raiva porque provavelmente meu colchão também havia ficado sujo. Raiva porque ela não vomitou por ter tido algum problema sério, mas por ter lambido bastante o chão e ingerido o que não devia. E ela, olhando para a minha cara de raiva, e adivinhem! Sim, o rabo voltado para o chão. Sabe aqueles olhinhos do Gato de Botas? Ela consegue fazer igual. Disse a ela umas verdades, retirei a roupa toda e fui buscar uma limpa. Fiz todo o trabalho com ela aos meus pés, me rodeando. Após o almoço entrei para o quarto e fechei a porta, não queria ela na cama novamente. E agora, final do dia, adivinhem de novo... Estou na cama com o notebook. E ela? Ao meu lado com a melhor cara do mundo. Não tem como resistir. Amo demais essa cachorra!


03/10/2012


Eu queria ficar um tempo sem escrever para você. Ou sobre você. Tolice minha, não?

E hoje sinto que se for tentar colocar algo aqui, será meloso e bastante clichê. Deixarei então essas poucas palavras por agora e um vídeo com uma canção maravilhosa. Para você.



Leca Castro - 03/10/12
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