07/12/2012


(Apenas duas pessoas entenderão...)

E perguntaram pra moça, lá na emergência, quem era seu acompanhante. Ela - mais uma vez - respondeu que estava só. A recepcionista disse que o procedimento precisava de acompanhante e a moça então pediu que chamasse a Enfermeira de plantão. Logo uma velha conhecida apareceu e elas se abraçaram:

- De novo?

- De novo...

- Pode liberar, eu estou ciente do procedimento e assumo aqui.

E entraram pelo ambulatório adentro... seriam duas horas sentindo o soro correr, o enjoo estufar e a dor aliviar. Antes ia ao hospital sanar essa dor de quatro em quatro meses, até que foi caindo para dois meses os intervalos. Mas agora, a última vez foi no mês passado. Quanto mais iria aguentar? E enquanto via o soro correr lentamente, lembrava do desespero da funcionária que não conseguiu puncionar sua veia. Todas entravam em desespero sempre, mas ela não podia fazer nada a respeito. Só restava uma que ainda era calibrosa.

No susto ouviu alguém chamar pelo seu nome e, olhando pro lado, viu uma grande colega de faculdade vindo em sua direção. Foi a melhor companheira daquela época, estava feliz de reencontrá-la. Depois de uns quinze minutos de conversa, a colega perguntou porque ela estava sem acompanhante. E aquela resposta andava entalada em sua garganta. Não cuspia porque tinha receio de ser mal interpretada, mas que mal haveria em dizer a alguém que talvez nem veria de novo? Seria bom pra variar, ia fazer bem. Decidiu.

- Eu não conto pra ninguém que venho. E isso me dói e me dá vontade de chorar, apesar de sempre me mostrar forte. Não quero que me acompanhem apenas porque preciso de companhia. É sempre incerto e todos possuem uma vida própria. Prefiro vir só. Eu não preciso de acompanhante. Eu preciso é de gente que queira vir, que queira segurar a minha mão e que não a solte. Gente que me ame pelo que sou e não porque me sinto carente. Gente que queira estar aqui comigo, por duas horas, apenas por gostar de mim e por se colocar no meu lugar. Gente que não tenha pena de mim, porque nem eu mesma tenho. Gente que saiba que, me acompanhando, se colocará disponível a mim pra qualquer situação. E então te pergunto... tem como pedir isso a alguém? Não é algo que deve ser espontâneo?

A colega recebeu um alerta de emergência pelo bipe. Pediu desculpas e se foi.

E a moça virou pro canto e chorou.

Leca Castro - 07/12/12 
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