20/02/2014


Quando fico depressiva, faço um esforço grande pra que a depressão não se instale. Nada de dormir demais, não comer, tentar pensar em coisas boas que já me aconteceram e ainda podem acontecer. Vou driblando a tristeza pra que ela não se instale em definitivo. Mas sempre tem algo em que eu penso: no dia da minha morte. E não pensem que isso é ruim, não é... isso não me faz sofrer. Muitas coisas que acontecem na minha vida me fazem entrar em sofrimento com muito mais facilidade.

Sei que uma pessoa em especial vai sofrer com minha morte, mas o restante apenas irá sentir falta no início e depois vem a conformação e ficam as lembranças. Mas quando eu morrer, quero que me deixem ir. Se vão chorar ou não, isso faz parte, mas não quero um velório de ti-ti-ti. É o que mais odeio em velórios. Também não quero coroas de flores porque sei que aquelas flores estão tão mortas quanto meu corpo. Deixe-as vivendo. Plantem uma roseira e isso me deixará bem melhor. Também não quero um velório longo, apenas com tempo suficiente pela lei e para que eu possa me desprender com tranquilidade. Depois me enterrem, porque ali só terá um corpo morto, sem vida, sem minha alma.

Eu sei que ainda erro muito, e sei exatamente onde, mas juro que tento viver os meus dias com o propósito de errar menos. Sei que ser perfeita ainda é algo distante, me dói a cada vez que magoo alguém, mas eu tenho tentado melhorar. Porque quero um pouco de crédito para que eu possa voltar à minha verdadeira pátria com meu segundo corpo sem dores e sem deficiências. Quero poder acordar logo e trabalhar. Hoje vejo que o único prazer em que tenho é quando trabalho em prol dos outros e é isso que quero continuar a fazer. Talvez misturar esse prazer com a minha profissão, que não pude exercer direito aqui.

E não quero choro, quero sorrisos. Não fofoquem, cantem. Lembrem que tudo que disserem e pensarem a meu respeito vai chegar até mim em forma de vibração. Espero que seja positiva pra que eu possa me erguer rapidamente. Quero reencontrar meu avozinho querido, que tanto tem me ajudado. Quero abraça-lo de verdade, pra compensar todos os abraços que dei em pensamento durante o tempo em que vivi. Quero continuar cuidando da minha filha e mostrando a ela que vale à pena acreditar em si mesma. Quero uma prece de despedida, simples, sem ostentação. Apenas para que os corações presentes se unam por aquele instante, me desejando paz. Quem sabe meus amigos da mocidade apareçam e cantem uma ou duas músicas do nosso coral? Isso seria fantástico!

Quando eu morrer... quero que entendam que não morri. Estarei apenas voltando pra casa. E que não consigo guardar mágoas. Fico chateada na hora de uma briga, de uma traição, mas sou dessas que esquece muito rápido. Deleto mesmo. Quero que fiquem tranquilos e que continuarei conectada com quem amo. E que essa conexão será verdadeira, tentarei ao máximo ajudar de onde estiver. Porque é assim que funciona. A gente vive depois da morte e deseja ajudar àqueles que ama. Porque viver aqui, hoje, é morrer todo dia. É tanta picuinha que machuca, que decepciona, e isso te mata um pouco a cada dia. Isso vai me deixando depressiva.  Mas meus valores são maiores que isso e tento me reerguer. Choro tudo que preciso, ensopo meu travesseiro, mas depois eu durmo pedindo pra que minhas forças sejam refeitas e acordo melhor. E é assim que quero morrer. Quero acordar melhor quando eu morrer.

Quando eu morrer, quero conseguir viver de verdade.

Leca Castro - 20/02/14

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Já já eu libero ;-)

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