18/11/2012

Cada passo dado adiante parece um salto. A raridade em conseguir ir em frente é tão frequente que qualquer avanço me espanta. Os baques diários me remetem a retrocessos e o desânimo se instala. Olho minha caixa de recordações e lembro justamente do que não está armazenado mais lá. Objetos e sentimentos que contingências da vida fizeram se perder dos meus olhos, mas não do meu pensamento. Como aquele quadro com a pintura da rosa. Ou aquele meu retrato desenhado a lápis. Ou as cartas e bilhetes acumulados. O fogo tudo consumiu. Do meu violão, o Tony, não sinto mais vontade de tocá-lo. Lembro que "Lágrima" sempre foi sua melodia favorita, mas não dou conta mais de executá-la. É pedir pra chorar. E hoje Tony fica no canto do quarto, ainda com esperança de um dia ser manuseado e tocado. Esperança que eu não trago mais. E falando em trago, aquele cigarro usado por vinte anos, na ânsia de servir de suporte quando o ar de minh'alma faltava, também foi encostado. Não, foi eliminado. Chega de muletas. Preciso voltar a caminhar por conta própria, mesmo que recomece engatinhando. Mas farei isso sozinha. Sempre faço. Não encontrei apoio no meu caminho. Obtive palavras e promessas. Mas na hora do tropeço e da pedra sempre me vi só. Não há quem dê conta de entrar em mim, comigo. Não há quem dê conta de mim, além de eu mesma. Nunca houve. Minha complexidade afugenta quem se aproxima. Ninguém permanece. Tudo isso me assusta e paro. Ou dou passos atrás. Por isso cada outro que dou adiante me parece um salto. Porque é raro e difícil. No momento estou de pé. E sem muletas ou apoio. Mas de pé. Ainda.

Leca Castro - 18/11/12
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