29/11/2012

Hoje não quero escrever sobre o que me aflige, nem sobre o que me alegra.
Hoje não quero escrever sobre você.

Leca Castro - 29/11/12

28/11/2012


Na conta da vida já devo estar com saldo negativo. É que não consigo dar mais do que ela me tira. E se minha contribuição é pouca, o outro também fica em desvantagem, pois não houve doação suficiente de minha parte. Ando cansada dessa defasagem e também de empobrecer pessoas. Preciso me repor pra conseguir ao menos me zerar. Me anular. Ser um nada ainda é melhor que negativar.

Leca Castro - 28/11/12

27/11/2012


Fico imaginando por que é tão difícil de conviver hoje em dia. Viver já não é fácil, mas para se viver bem, é preciso conviver. Não dá pra seguir adiante sem ter pessoas ao redor. Tudo que precisamos fazer envolve mais alguém. Evoluir sozinho não existe. Algumas criaturas precisam dos outros apenas pra fazer algo ruim, só assim se satisfazem, mas o ideal é que precisemos de gente com a gente pra melhorarmos como humanos.

E aí olho em volta e vejo tanto tipo diferente de gente que desanima demais a disposição de conviver. Do folgado ao irônico, não consigo conceber gente assim comigo. E não venha me dizer que comigo vai agir diferente, porque o que somos com um poderemos ser com qualquer um. E não quero gente assim, não mesmo. O ser irônico é aquele que se defende, antes mesmo de ser atacado. Pensem... você junto de alguém que se coloca na defensiva o tempo inteiro! Não, eu realmente não dou conta disso. Gosto de pessoas desarmadas e que querem ser amadas. Pessoas que acreditam que amor é um sentimento amplo e não se restringe apenas a um ser com enfoques sexuais. Que não largue tudo e todos por uma única pessoa como se a vida se resumisse a alguém. Que tenha a quem recorrer quando todos lhe faltarem. Gosto de gente que goste de se doar e que se permita doer às vezes. Gosto de gente que saiba somar e que saiba se anular pelo outro. Gosto de gente que tenha sempre o amor como objetivo, mesmo que enxergue nisso um caminho com algumas dores. Gosto de gente que sente, que se entrega, que mergulha. Na matemática da vida, quero a soma final. E nada mais de metades, só inteiros.

Leca Castro - 27/11/12

26/11/2012


É muito difícil acostumar a receber notícias boas. Exemplo maior é que nem sempre sabemos como reagir quando elas nos chegam. Não sabemos se podemos partilhá-las com algumas pessoas para não atrapalhar a tristeza delas. Ou para não atropelar a tristeza delas. Certo que umas nem se incomodam com isso e já saem gritando, correndo e balançando os braços enquanto alardeiam ao mundo sua felicidade, parecem bonecos de posto.

Mas me diz uma coisa... por que é tão fácil acostumar com notícias que são ruins? Até as reações fluem de forma mais solta: "ai, tô doente!", "bateram no meu carro!", "fui assaltada!", "fulano morreu!". E sempre com esse ponto de exclamação no final, como se as intempéries fossem sempre uma grande notícia. E não são. O certo seria falar baixinho, levar o ouvido de alguém até um canto escuro e sussurrar: "tenho um problema...". Com reticências. É o espaço que o outro tem pra te dizer se quer saber do seu problema ou se quer te contar da tragédia dele primeiro.

Mas toda notícia sufoca. A boa a gente quer logo dividir, mas a ruim, também. Tá, nem sempre, mas vai me dizer que se existe a pessoa certa pra te ouvir a vontade não surge? Alguém que não absorva a dose negativa para si e consiga ficar em equilíbrio pra que possa te ajudar a ficar de pé. Alguém que saiba te dar um colo sem frases clichês e necessidade de ficar falando sem parar. Alguém que até chore junto, mas que tenha o abraço mais aconchegante do mundo. Alguém que saiba ouvir o silêncio e enxergar as lágrimas secas. Daí tudo se descomplica. O problema continua igual, mas seu peso diminui. E isso é fundamental pra continuar a andar.

O negócio é aprender a selecionar quem tem condição de permanecer inteiro com nossas notícias ruins. Com certeza esses servirão para as boas também. E merecem. É importante não procurar milhares de pessoas pra caminhar junto, deixa de ser caminhada e vira passeata da sua vida. Mas é importante também não fazer esse trajeto sozinho. Ninguém nasceu pra ser assim. Só é só quem assim o deseja. Sempre tem alguém que se encaixa ao seu lado. Procure mais, nem sempre quebra-cabeças são fáceis. Dê a mão a alguém e continue.

Leca Castro - 26/11/12

24/11/2012


Vejo hoje três tipos bem definidos de cansaços. O primeiro deles é o do corpo. E esse vejo em várias dimensões: quando a atividade física é grande; quando o trabalho se torna extenuante; quando a doença resolve engrossar a voz pra mostrar que tem poder; quando não se dorme o suficiente. Tudo isso vai minando células e enfraquecendo o aglomerado que nos defende, e então ficamos propícios a mais doenças e sempre, a mais cansaço físico.

O segundo é o cansaço da mente. Hoje em dia nem é muito comum mas ocorre quando a cabeça trabalha muito e o pensamento se torna a voz mais alta que se consegue ouvir. E não pára, é incessante. Você pode pensar em mil coisas ao mesmo tempo ou em apenas uma, mas de forma muito intensa. Acontece então a canseira mental. A cabeça dói fisicamente, mas é porque pensar no que se tem que fazer, no que é melhor ou pior, no certo ou errado, cansa.

E por fim, mas talvez o mais significativo, vem a fadiga do coração. E essa eu já canso só de pensar. Todo coração que já passou por momentos extenuantes, principalmente os de dor, sabe que quando está acelerado é difícil diminuir a marcha. Não há câmbio automático. E fazer o controle de embreagem/freio quando se está em plena descida é para poucos. Por isso tantos desastres acontecem nas estradas de nossa vida. É o coração acelerado que não sabe frear e ponderar sobre seu sentir. E esse cansaço é o que mais desgasta porque o coração possui seu cordão umbilical diretamente ligado à alma. E quando a alma cansa, não há refazimento de corpo e de mente que dê conta.

E olhando assim, no todo, o melhor mesmo é evitar esse fastio, essa sufocação. Pensar no que é melhor para o coração e agir de acordo com o que faz bem ao corpo. E, se mesmo assim nada disso for possível, então que se tenha colo. Que se tenha onde repousar para ganhar fôlego. Que se possa chamar alguma outra alma igualmente cansada e dizer: "Oi, vamos descansar um pouquinho hoje? Vamos nos cuidar?". Se você tem alguém que faça isso ou que se dispõe a isso, então você realmente tem um tesouro. É alguém que pode te refazer, um pouco.

E que o ar nunca nos falte...

Leca Castro - 24/11/12

23/11/2012

http://agnes-cecile.tumblr.com


A verdade é que o medo é o grande vilão de nossos sentimentos. A criatura que diz que não tem medo de nada está mentindo, sempre temos medo de algo. Desde uma perda de um ser amado até de sermos atropelados na esquina. Se não fosse assim não cuidaríamos tanto de quem amamos e não olharíamos para os lados ao atravessarmos a rua. A questão não é sentir ou não o medo, mas sabermos onde ele ajuda e onde ele nos dana. Ele é bom e é ruim. Ele ajuda a não errar mas ele também impede de acertar. Onde saber? Como saber? E quando? Está aí a maravilha de se viver: o desafio em tomar decisões.

E é difícil se decidir porque a realidade das coisas vai muito além do que conseguimos ver. Se você não tem medo e se joga nas relações é porque está pronto para conviver com as consequências? Talvez não. O problema é quando caímos sempre nos mesmos erros e saímos feridos, machucados, sangrando. Nem bem nos restabelecemos e já queremos novo mergulho. Veja bem, não há problema algum em mergulhar e não se ter medo. O difícil é saber se estamos mergulhando nas águas boas, limpas e refazedoras. Analise antes, experimente um pouquinho, deixe molhar o pé para sentir a temperatura. Viu que pode ser um bom mergulho? Então vá. Sem medo. Se divida nesse novo mar. Sim... mar! Não entre de cabeça em pequenas piscinas, pois não adianta querer mergulhar em quem é raso. Tenha o medo como seu amigo e divida-o com quem te ama. Sem medo.

Leca Castro - 23/11/12

21/11/2012


O pior de conviver com pessoas diferentes não são as diferenças, mas a indiferença. Gostar de comidas e sucos que não combinam, apreciar mais o azul que o laranja, preferir MPB a rock, amar mais a madrugada que o sol. Nada disso importa quando se há respeito. Mas não dá pra conviver com quem quer atenção e não consegue prestar atenção. Quem quer carinho e não sabe dizer uma palavra carinhosa. Quem deseja harmonia mas não sabe evitar uma discussão. Quem quer ser cuidado, mas não se preocupa em cuidar. Que seja diferente, mas que respeite seus próprios desejos para que eles não agridam quem também os deseje. Seja diferente, mas não aja com indiferença aos desejos dos que te amam.

Leca Castro - 21/11/12

20/11/2012

Onde te encaixo agora? Ocupei espaços e alguns abismos vou cultivar. Não previ mais lugar para você. Resolvi te deixar livre já que te manter em mim por tanto tempo foi estupidamente desnecessário. Achei que te trazendo comigo ia me sentir menos só, mas quanto mais de você tinha em mim, menos de nós eu sentia. Por isso não te quero mais comigo. Talvez um dia ou em outra encarnação a gente fique junto, mas nessa não quero mais. Vou respirar o que me resta, mas agora com a certeza de estar só, por dentro e por fora. Na verdade é como sempre estive, mas nunca enxerguei assim. Plantei você como algo vital à minha sobrevivência e no fundo sobrevivi sozinha. Respirei você, mas na verdade respirava o ar simples que me mantém viva até hoje. Romantismo não me cabe mais. O único lugar que poderá aparecer será em meus sonhos, mas aqueles que não dependem de mim de forma consciente. Porque não sonho mais acordada. Desisti. São sonhos lindos e que fico por entender já que sempre me fazem doer e chorar. E  isso não é algo lindo. Prefiro doer e chorar pelo que é real, e a realidade é que somos ausentes um do outro e não nos pertencemos. Então que eu chore por isso, que é concreto e real. Não há mais encaixe aqui, não tenho mais espaço. Não mais me encaixo.

Leca Castro - 20/11/12

19/11/2012

Não consigo mais viver no tempo dos outros. Sempre abri mão do meu tempo em respeito a quem amo, mas não dá mais. Acredito que qualquer relacionamento só vai dar certo se ambos os lados cederem um pouco. Ceder sozinha só vai me fazer... ceder sozinha. E o outro lado sempre vai achar que devo fazer isso porque vai se acostumar a isso. Mas não devo, na verdade. Não dessa forma. Se meu tempo é urgente e o outro não tem pressa, ambos sofrerão se mudarem drasticamente isso. A espera vai me sufocar, vai virar ânsia e essa ansiedade vai despertar em mim muita coisa negativa. Da mesma forma que se o outro lado sair atropelando tudo, sem pensar direito e sem entender o que está sentindo, pode acarretar em quedas bruscas e dolorosas. Mas, céus! Onde anda o equilíbrio? Será tão complicado assim esperar um pouco e acelerar outro pouco? Por isso não aguento mais. Quando o outro não se manifesta para sair do 8 e chegar aos 40, desisto de sair dos 80 e tentar o encontro nos 40. Me vem a sensação de que estou lidando com alguém egoísta ao extremo que só enxerga a sua condição e não é esse tipo de pessoa que desejo caminhando ao meu lado ou eu ao lado dela. Não dá pra parar a vida enquanto tem gente esperando. Eu sempre esperei. E nunca tive de volta. Agora, vou viver sem esperar alguém, sem esperar algo de alguém. Pedir tempo pode ser perda de tempo.

Leca Castro - 19/11/12

18/11/2012

Cada passo dado adiante parece um salto. A raridade em conseguir ir em frente é tão frequente que qualquer avanço me espanta. Os baques diários me remetem a retrocessos e o desânimo se instala. Olho minha caixa de recordações e lembro justamente do que não está armazenado mais lá. Objetos e sentimentos que contingências da vida fizeram se perder dos meus olhos, mas não do meu pensamento. Como aquele quadro com a pintura da rosa. Ou aquele meu retrato desenhado a lápis. Ou as cartas e bilhetes acumulados. O fogo tudo consumiu. Do meu violão, o Tony, não sinto mais vontade de tocá-lo. Lembro que "Lágrima" sempre foi sua melodia favorita, mas não dou conta mais de executá-la. É pedir pra chorar. E hoje Tony fica no canto do quarto, ainda com esperança de um dia ser manuseado e tocado. Esperança que eu não trago mais. E falando em trago, aquele cigarro usado por vinte anos, na ânsia de servir de suporte quando o ar de minh'alma faltava, também foi encostado. Não, foi eliminado. Chega de muletas. Preciso voltar a caminhar por conta própria, mesmo que recomece engatinhando. Mas farei isso sozinha. Sempre faço. Não encontrei apoio no meu caminho. Obtive palavras e promessas. Mas na hora do tropeço e da pedra sempre me vi só. Não há quem dê conta de entrar em mim, comigo. Não há quem dê conta de mim, além de eu mesma. Nunca houve. Minha complexidade afugenta quem se aproxima. Ninguém permanece. Tudo isso me assusta e paro. Ou dou passos atrás. Por isso cada outro que dou adiante me parece um salto. Porque é raro e difícil. No momento estou de pé. E sem muletas ou apoio. Mas de pé. Ainda.

Leca Castro - 18/11/12

17/11/2012


Um texto diferente, mas necessário pra mim. Um desabafo bem direcionado, sem rodeios e metáforas. E indo direto ao ponto, é que, em alguns aspectos, eu não desgosto de ser deficiente. É uma condição que salvou minha vida. E consigo algumas "regalias" que me são úteis e facilitam minha vida, agora limitada. Mas a palavra "deficiente" ainda me incomoda. Mesmo sabendo que uma palavra não define ninguém. É que vai sempre me remeter ao contrário de "eficiente". E a última coisa que quero é me sentir incapaz de produzir qualquer coisa que seja. E eu sei que pra algumas dessas coisas já não posso mais e pra outras não dou conta. Mas uma palavra me definindo faz com que isso aumente de proporção.

Pra quem não tem o estigma de carregar consigo essa palavra e essa condição, fica difícil entender o que quero dizer sobre como me sinto. A gente vê pessoas com deficiência o tempo todo. Mas ver e entender não é a mesma coisa. É bom não precisar encarar uma fila gigantesca, mas não é bom saber que chegar na frente primeiro só me é possível porque todos os outros estão aptos a ficarem em pé por muito tempo e eu não. Mas o pior de tudo é saber que pra alguma coisa sempre irei precisar de alguém comigo, mesmo que de forma indireta. Depender não é algo bom. Fere o orgulho. Faz com que ele abaixe a cabeça e assuma que sozinho pouco vale. É como se ele, o orgulho, me desafiasse e perguntasse: "você não dá conta de si?". É horrível. Meu orgulho me limita. Minha deficiência me limita. Minha doença me limita. E a falta de disponibilidade das pessoas me limita. E é isso que me cansa: o emocional que não descansa. É uma guerra todo dia, o dia todo. E no fundo o que quero é muito pouco. Eu não quero precisar de alguém, quero alguém que precise de mim. Sem limites.

Leca Castro - 17/11/12

16/11/2012


Sinto como se estivesse ao avesso. Tudo se mistura e a embolação parece ser o certo. Ouvi a música que mais amo apenas por pensar nela. Toquei o teclado ao digitar, com a sensação de tocar as cordas do violão ao compor um acorde. Senti o gosto de queijo ao provar um doce de goiabada. Enxerguei o rosto de quem amo apenas ao me olhar no espelho - e não me refiro a mim. Cantarolei a melodia em pensamento enquanto recitava a poesia de Oswaldo. Senti o cheiro do amor ao assistir a cena de um beijo no filme. Percebi a cor azul em meus olhos enquanto conversava com um amigo. Sorri de amor no exato instante em que me doí pensando no desamor. Já não caminho com os pés no chão, e pretendo andar com retidão mesmo em meio a curvas no caminho. Meus ouvidos só ouvem o que os olhos comprovam e meu coração não consegue mais sentir apenas, precisa pensar o sentir. Talvez eu esteja louca, ou talvez esteja ficando lúcida. Não sei se preciso de um resgate ou que me sequestrem. Não sei se corro ou se fico. Não sei nem mesmo se me faço sentido. Em mim, hoje, o errado é o correto.

Leca Castro - 16/11/12

15/11/2012


Você encanta de longe. Não são seus olhos os responsáveis por tantos suspiros, mas o seu jeito de olhar com despretensão.

Você não sorri na foto. De vez em quando aparece um esboço. Mas é seu riso escondido entre palavras que faz nossa imaginação amar a alegria que não reparte.

Você é um eterno romântico e isso te coloca acima de palavras que derretem do papel ao coração. Um apaixonado pela idéia de se apaixonar.

Você possui carências. E elas vão além de necessidades efêmeras. Você carece de amar, mais que ser amado. Precisa de ser entendido, e mais que isso, precisa ser respeitado.

Você faz viagens sonoras com músicas de qualidade. Fecha os olhos e ouve aquilo que te transcende. Que faz seus ouvidos amaciarem com cantos quase perdidos de outrora.

Você é muito e eu só sei falar pouco. Sou limitada em palavras quando assunto é você. Porque você não é metade de nada. Você é uma pessoa inteira. E grande. Tão grande que às vezes transborda.

Você é a personificação do simples. E mostra que o simples é tão complexo que o amor te procura ao invés de esperar por você. Porque te amar é fácil. O difícil é conviver com seu amor em meio a tanta impureza de corações.

Mãe, pai. Avô, avó. Gabiru. Primas. Família. Amigos. Eu.

(Parabéns. Te amo.)

Leca Castro - 15/11/12

14/11/2012


Primeiro pensamento do dia é que preciso voltar a ser produtiva. A inércia me corrói aos poucos, um tiquinho a cada dia, e cada vez fica mais difícil dar um passo. Abro os olhos e vejo a janela mal fechada, a fraca luz do sol escondida por entre as nuvens carregadas, o relógio no celular dizendo que ainda tenho alguns poucos minutos. Até o "mais um dia..." pode soar diferente dependendo da forma como for pensado. O meu foi arrastado. Não faço questão de espreguiçar e olho para o teto. Aquela frase famosa "Isso também vai passar" deveria estar escrita lá. Sempre quis fazer isso. Queria saber se olhar pra ela todo dia ao acordar faria alguma diferença. Rapidamente penso em tudo que me aguarda durante o dia e fecho os olhos novamente. Não quero levantar e começar essa rotina. Estico as pernas, mexo os dedos e, quando boto reparo, estou espreguiçando. Droga. Respiro fundo, prendo o ar e levanto. Mil coisas a fazer e repasso, mentalmente, a lista de tudo que vou lembrando. Sei que é inútil e que daqui a meia hora não lembrarei de metade, mas continuo pensando pra me manter acordada e alerta. Tenho muito o que fazer e no final das contas, mesmo reclamando, vou e faço. Então por que me sinto improdutiva? Por que não me satisfaço com o que faço? Perguntas sem respostas, respostas que se camuflam atrás de pressa e impaciência. O alarme soa e pego o celular com calma. Relembro em segundos as últimas mensagens trocadas. E entendo o motivo de me sentir inútil. O que tenho pra fazer hoje mesmo?

Leca Castro - 14/11/12

13/11/2012

Quando te falta tempo pra tudo.
Quando tudo te convoca.
Quando todos te ocupam.
Quando poucos se preocupam.
Falta tempo e o tempo passa.
Seu tempo se esvai.
Meu tempo se perde.
Quero tempo.
Não tenho mais tempo.
Fim de jogo.

Leca Castro - 13/11/12

12/11/2012


Reciprocidade é um palavrão que agride muita gente hoje, e eu me sinto constantemente afetada por ele. Enquanto vejo a maioria das pessoas reclamarem da falta de sinceridade que existe no mundo, consigo ver as poucas pessoas que são sinceras também. E essas poucas são muito mais solitárias que aquelas que mentem, fingem, ou apenas omitem o que pensam e sentem. Deveriam ser castigadas, mas parece que só recebem recompensas por serem assim. Em muitas situações me encaixo nessas poucas sinceras. Não sei guardar sentimento, não sei controlar emoções e não sei pensar com clareza quando fico acuada. Por que me pedem sinceridade se quando o sou, se afastam? Isso cansa e ando absurdamente exausta.

Investir demanda tempo, disposição e energia. É o coração em jogo novamente. É colocar em risco tudo que se sente. É depositar nas mãos do outro o que existe de mais precioso em mim: eu mesma. E você vai achando espaço, cria confiança e se entrega. O tempo passa, a alegria toma conta, os dias se colorem e você recebe o choque. Sim, nova decepção. E aquele sentimento de inutilidade toma conta de novo. É horrível sentir que não sou necessária, especial ou que nem mesmo faço falta. É como se eu fosse tão ruim que ninguém dá conta de me querer. Olhem o nível do texto. Vejam o tamanho do drama. Mas é aqui, na minha terapia quase diária que vou despejar tudo mesmo. Ninguém consegue ser o mesmo sempre. Não consigo escrever todo dia. Não consigo escrever bem todo dia. Não consigo estar bem todo dia. Não há reciprocidade entre as pessoas. Mas ainda espero pessoas comigo que passem pelo mesmo. Pessoas que também são agredidas por esse palavrão. Ou melhor, pela falta dele. Um dia alguém há de sentir o mesmo. Um dia.

Leca Castro - 12/11/12

10/11/2012


O vazio. Novamente o vazio. É como um vácuo no sentimento, um espaço sem nada, um buraco por dentro. Não há dor, não há tristeza. Também não há alegria ou esperança. Expectativa zero. Por isso é um vazio. É o nada.

O nada consome em alguns dias. Ele corrói o que tinha antes. Onde tinha choro, hoje há estio. Onde tinha sorrisos, hoje há indiferença. Não existe fertilidade. Nada será gerado.

Só conheço uma coisa capaz de combater o nada: o sonho. Sem sonhos fico oca. Nem o medo aparece. Preciso sonhar. Desejar. Nada quero, nada almejo. Só espero.

Mas isso foi ontem e isso é hoje. Amanhã? Nem sei se há. Se soubesse, não haveria vazio. Por isso vale a pena sonhar.

Leca Castro - 10/11/12

07/11/2012


Sair da rotina passou a ser meu norte atualmente. Venho de dias onde a mesmice me sufoca e espreme o ânimo de fazer qualquer coisa, até as que me agradam. E essa rotina faz tudo parecer cansativo demais, chato demais, monótono demais, qualquer outro adjetivo negativo acompanhado do advérbio intenso.

Lembro de passar por isso muitas vezes, mas dessa vez sinto mais obstáculos. Penso se é porque estou perdendo a graça em mim e na vida. E isso não é errado, acho que todos passam ou passarão por momentos assim. Parece um teste pra saber se estamos aptos a continuar ou desistir. E eu quero sim continuar, só está mais difícil dessa vez.

Isso me remete ao pensamento de que é mais importante eu não deixar minha vida cair na rotina do que me preparar pra sair dela. Caso contrário, vai virar um ciclo. Uma bola de neve. E viver dessa forma cansa demais a alma. O coração já não aguenta tanto. Sair da rotina não pode virar rotina.

Leca Castro - 07/11/12

06/11/2012

Você sempre dá um jeito de ir. Sua inconstância é uma característica, não tem relação com a idade ou convivência. Você é assim. Não sei se por simples opção ou por não suportar a pressão de compromissos. Aprendi, com o tempo, que o que importa não é quando você vai, mas ter sido suficiente pra você enquanto estava comigo. Só assim tenho como garantida a sua volta. Por isso cuido da nossa relação com carinho e te trago comigo com as mãos em forma de concha. Vá. Cuide de você, respire e faça o que precisa. E volte sempre. Pra mim.

Leca Castro - 06/11/12

05/11/2012

É muito previsível...

Quem tudo quer viver, de uma vez só, acaba sufocado por esse mesmo tudo. Não consegue olhar ao redor e ver a real situação. Não dá conta, sai fazendo um estrago tão grande que, pra retomar, só com sequelas.

São as marcas que a vida deixa.

Leca Castro - 05/11/12

04/11/2012


A presunção de se estar certo é própria do ser - nem sempre tão humano.Vamos nos apoderando de certezas conforme dita nosso raciocínio e de repente aceitamos nossas conclusões como verdades. Há os que querem provar seu ponto de vista e há os que querem provas que desaprovem o seu. E raramente há entendimento. Enquanto um doutor - quem faz doutorado - acha que detém mais conhecimento em sua área do que um graduando - e tem - e usa isso a favor apenas de si, o conhecimento vai se transformando em arma de estranhamentos. Pensar sempre em si mesmo é bem distante de dar de si. Mostrar que sabe para impor opinião é muito diferente de demonstrar sabedoria. E nem todos que sabem são sábios. A sapiência está em saber discernir os momentos entre falar e calar, reter e soltar, caminhar e descansar.

Não sei se o que escrevo é certo ou errado em algum conceito qualquer, mas sei que externo o que sinto e penso deixando claro o que consiste apenas a minha opinião. Minha, não no sentido egoístico, mas como verdade relativa. Mas ao menos tento levar à reflexão os donos dos olhos que me lêem. Exercício ao cérebro. Entendimento ao coração. No final, quem ganha o quê? A discussão? Ou é a discussão em si que ganha de todos? Discutir... essa a questão. Falamos muito antes de pensar e elaborar o que deve ser dito. E mais que isso, a forma como deve ser dita. Palavras agridem. Não as feias, mas as revestidas de sutileza que trajam ternos e possuem o objetivo de ferir. Atenção nunca é demais. Pensar antes de falar nunca é demais. Falar sem pensar sempre deve ser de menos. E equilíbrio sempre é o ideal.

Leca Castro - 04/11/12

03/11/2012


Quero escrever sobre mim. Quero ser egoísta. Quero emagrecer de tanto peso guardado. Só por hoje.

O dia está menos quente e isso ajuda a controlar o desânimo. A janela aberta deixa o ar entrar e renovar o ar dormido de dentro. Não há luz do sol. Não hoje. O tempo nublado me fascina e chego meu rosto fora da janela pra contemplar o céu. Cinza. Lindo. Vejo vida se movimentando nessas nuvens carregadas, energias se chocando e o vento estocando a água por sobre a cidade. Quero ouvir trovões, rugidos das nuvens se encontrando, se acasalando. Quero ver nuvens ficando prenhas e me deliciar com o parto de chuva. Nuvens parindo chuva.

E onde entra meu lado egoísta nesse texto? É que dizem que vemos de tudo mas só enxergamos o que nos reflete. E é assim que meu eu se encontra ultimamente: carregado, trovejante, com choques de cargas. E chega uma hora que não tem jeito. A chuva tão contida vira tempestade e precisa sair. Precisa alagar. E deixo uma dica pra quem tem momentos de chuva querendo transbordar pelos olhos e não sabe como fazer: deixe que chova. Se isso for algo difícil e achar que é uma exposição muito grande, tome um banho e chova por lá. Nada como uma água caindo por cima pra ajudar. Uma água lavando a outra. Não segure. Chova. Chore.

Leca Castro - 03/11/12

02/11/2012

Dizem que em uma relação alguém sempre precisa ceder. E eu creio que seja assim mesmo. Não que isso seja o melhor ou o correto. Aliás, o ideal seria que ninguém precisasse ceder em nada. Que todas as ações fossem boas para ambos. Mas é muita utopia em um mundo tão cheio de egoísmos e orgulhos. Mundo fora. E mundo dentro. O que mais me intriga, e agora falarei por mim e de mim, é a minha subserviência em relação a isso. Das relações que tive sempre fui eu quem cedi todo o tempo. A vontade do outro sempre prevaleceu à minha. Não sei se eu é que não tinha coragem de me posicionar no que eu queria ou se o outro que se antecipava. A realidade é que nunca me senti satisfeita. Foram palavras que não disse, atos que não cometi, sentimentos que não externei. E por quê? Desde quando não atender às minhas necessidades passou a ser algo rotineiro? Duas alternativas: ou sou muito altruísta - e não acredito nisso - ou muito carente a ponto de deixar o que me é importante em segundo plano. Sendo a segunda alternativa a correta, suponho que tinha medo de ficar sem meu parceiro. Ou seria medo de ficar só? Hoje consigo ficar só e isso não mais me assusta. Então, se continuo cedendo, deve-se ao fato de não querer ficar sem alguém. Mas que quantidade de divergências! Só sei que sou uma peça fácil de ser conquistada. O encantamento é quase instantâneo e por isso resolvi me fechar. Não acredito mais que isso venha a trazer algo de bom - como realmente nunca trouxe. O ideal seria que cada um agisse de acordo com o que fosse melhor ao outro. Ou a si. Ou a ambos. Utopia.

Leca Castro - 02/11/12

01/11/2012

Sou tão estupidamente tola que não consigo sair fora do círculo vicioso que tanto me machuca. Já não consigo dormir por duas horas seguidas à noite. Acordo com o coração aos pulos e pensando em você. E pra dormir novamente demoro mais uma infinidade de minutos. E você parece nem perceber. Ou não se importa. A verdade é que posso me desligar de tudo que me une a você, mas todos os dias o que mais tento é me ligar cada vez mais. Por quê? Ou sou masoquista e não quero admitir ou sou masoquista. É sério, não vejo outra lógica em agir da forma como venho agindo. É como um câncer que vai comendo por dentro, doendo cada vez mais, aumentando cada vez mais e enraizando cada vez mais. Há remédio, eu sei que há. A única explicação que vejo - depois do masoquismo, claro - é que minha vida é vazia, um poço sem fundo, onde mergulhar beira a loucura de um não fim. Se te tiro de mim, o que me sobra? Eu? Mas sou tão desinteressante que minha vida seria pra lá de aborrecida. E sem expectativas. Sem objetivos agudos, de curto prazo. E viver só de prazos estendidos não é motivador. Onde achar então o prazer no hoje, no agora? Juntando minhas limitações só consigo ver meu presente como uma etapa a ser concluída. Sem emoções, sem atrativos, sem motivos. E viver assim não seria o mesmo que cair da mesma forma no poço sem fundo? A diferença é que eu cairia sem esperanças e sem vontade de voltar à superfície. Voltaria pra quê? Pra mergulhar de novo amanhã? E depois de novo? Viver para cumprir tempo não é viver. É cumprir penitência. Prefiro pagar meus erros com pequenos infartos pela madrugada. Eles doem, mas sinalizam que ainda posso sentir. Eles me enfraquecem mas me enchem de esperanças. Eles me matam aos poucos mas eu já morro um tanto todos os dias quando mergulho no poço. Eu morro um bocado a cada dia desde que nasci.

Leca Castro - 01/11/12
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