19/10/2012


Eu tenho medo da velhice. Sempre tento acumular algum crédito na vida para ter direito a um desejo poderoso. E esse desejo sempre é o mesmo: não quero perder minha sanidade. Prefiro me ausentar do mundo aos sessenta (no máximo) do que aguentar até oitenta, sem saúde e sem consciência. O maior dom que possuo é a capacidade de pensar e sentir. E toda minha peleja até hoje é a tentativa de equilibrar os dois. Ficar sem a razão seria por demais doloroso, mais ainda que minhas dores que já fazem morada nesse corpo quarentão.

Não é da solidão que tenho medo. Não. É da dependência. Tenho medo de não dar conta de terminar minha garrafa de vinho. Tenho medo de não lembrar mais das músicas que conseguia tocar no violão, por não precisar mais dele. Tenho medo de assistir a um filme muito bom e não mais chorar com seu personagem. Tenho medo de que toda lembrança guardada na caixa se torne apenas matéria bruta. Tenho medo de não dar conta de fazer meus próprios curativos. Tenho medo de não conseguir sair de meus abismos. Tenho medo de me perder em mim.

Não quero que meu sentimento caminhe sozinho, sem rumo e sem companhia. Ser pouco racional já é difícil, imagine não ter razão alguma! Tenho medo da velhice. Que a vida já me traga todos os problemas que ainda preciso enfrentar e me salve dessa loucura. Continuarei acumulando meus créditos para garantir meu pedido único. Não me tire a sanidade.

Leca Castro - 19/10/12
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Um comentário:

  1. Assim seja, Leca. Assim, a sanidade!
    Grande beijo e o mesmo desejo.

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Já já eu libero ;-)

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