25/10/2012


O tempo vai passando e sua presença se torna mais distante. É como se sua imagem recebesse pinceladas de cal e fosse ficando, aos poucos, opaco em minha retina. Sei que vai achar estranho, mas eu conseguia te ver, nitidamente, ao meu lado. E fazia isso com meus olhos abertos. Olhava para o sofá e revia nossos momentos juntos, nosso amor contido, nossas mãos entrelaçadas. E eu sorria sozinha quando enxergava você ali comigo. Algumas vezes em que passo pela portaria do prédio consigo ver nosso abraço de despedida das noites de sábado. Durava minutos, lembra? E depois eu ficava só, vendo você se distanciando até dobrar a esquina. Mas a cal vem te encobrindo. E tenho muito medo que essas lembranças vivas fiquem cimentadas ao longo do resto do meu tempo.

Mas quando penso em você com meus olhos fechados, ah! É como se o tempo não houvesse passado. Nem cal e nem distância fazem sua imagem esmorecer em mim. Consigo enxergar cada detalhe seu: os olhos, seus dedos (lindos!), sua boca, sua pinta, seu sorriso (inesquecível), sua cicatriz. É tão nítido que até assusto. Faz um bem danado rever cada detalhe. Um bem que dói. Mas não consigo me livrar desse lado masoquista quando se trata de você. Aprendi a lidar com dores diversas em minha vida e em mim, mas a dor de você não encontro o melhor jeito. Ou talvez eu não queira. Se a única forma de ainda te ter comigo for através de dores, e se para reviver você comigo e em mim eu precisar senti-las, eu aceito. Aceitei há tempos. Aprendi a não extrapolar e deixar cair em sofrimento. Já sofri demais por mim e por nós. Agora deixo apenas que doa. É como um estímulo, um choque. Me mantém viva. E nessa minha visão da memória, cal nenhuma vai te ofuscar. Que meus olhos abertos virem cimento com a sua visão, mas os olhos de minha alma sempre te verão aqui comigo. Sempre presente e transparente.

Leca Castro - 25/10/12
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