02/07/2012


Olhando para o vidro quebrado de uma janela me vi atravessando aquele buraco disforme e me lançando ao vento, num vôo sem volta. Fechei meus olhos e imaginei esse mesmo vento balançando meus cabelos, que coincidentemente havia deixado soltos nessa manhã. Aquele ar gélido me trazia arrepios gostosos e me transpunha até outra realidade... como se realmente possuísse asas. Faço um mergulho no ar e me lembro de Fernão... a gaivota que marcou meus anos de ouro. Lembro que foi o primeiro vôo real que fiz ao ler um texto, ou melhor, um livro inteiro. Dali em diante encarei a leitura de outra forma, em um outro contexto. Aprendi que posso viajar sem arredar o pé de onde estou e que os bens mais preciosos que possuo são meus pensamentos e sentimentos.

Após alguns anos essa descoberta me levou a outra... a escrita. Hoje entendo Fernão mais que nunca, principalmente o Richard. Ah, como ele soube viajar tão bem, de forma tão graciosa, conseguindo me carregar em suas asas até onde o infinito repousa. E a cada texto que escrevo levanto vôo, mergulho, sinto calafrios, arrepios, suor nas mãos e nas têmporas, o rosto esquentando. Mas por hora preciso aterrisar... finalizo mais essa viagem e volto a colocar meus pés no chão. A dentista me convida para entrar. Olho mais uma vez para aquele vidro quebrado e ela, percebendo meu olhar em direção à janela, comenta: "foi o vento ontem. Parecia até que queria entrar!" Mal sabe ela que entrou e me levou.

Leca Castro - 03/12/11

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