03/07/2012



Eu juro que não queria escrever esse texto. Mas a dor é tanta que preciso deixar sair. Dói mais que minha própria dor. Dói tanto que o choro não consegue ficar preso e deságua. Nunca chorei uma morte como a de agora, nunca. Primeiro porque acredito na Imortalidade da Alma, na Lei de Causa e Efeito e peço, por um instante ao menos, que não me julguem pela religião que abraço. Segundo porque não choro pela morte desse homem pois acredito que tudo tem um propósito e tempo determinado, mas por toda a garra que ele demonstrou ter durante 5 longos anos de doença grave. Choro por tudo que esse gigante soube viver, mesmo perdendo o sopro da vida. Choro porque me sinto uma fraca ao reclamar de dores e medicamentos e cirurgias que me pouparam da morte.

Soube da notícia e não consegui me conter. Justo eu, sempre controlada, sempre centrada, sempre pé no chão. Chão? Que chão? O mesmo chão que ele nem conseguia mais pisar por causa da dor. E choro porque ele não sofreu. Sentiu muita dor, mas não sofreu. Não se permitiu sofrer. Mostrou até o último minuto que sorrir é o melhor remédio. Saiu da cirurgia, acordou e sorriu. Após cinco anos de lutas e esperanças, ainda conseguiu deixar na memório do filho de 6 anos a imagem mais bonita que podemos deixar pra quem amamos: sorrir.

E mesmo sorrindo não consigo deixar de pensar na sua luta por uma qualidade de vida melhor a todos, não apenas para ele mesmo. E volto a chorar. Não é um choro desesperado, angustiado, mas um choro doído de amor, amor esse que envolve respeito, admiração e gratidão. É esse choro que gostaria de sentir nas pessoas que amo quando eu também partir. Cansei do choro mundano, das futilidades e banalizações de sentimentos, dos falsos valores tão expostos por todos. Cansei das lamentações sem sentido e sem sentimentos. Cansei das reclamações de quem pensa que tem uma vida difícil, mas que ainda não sabem nem o que realmente é viver.

Sei que estaremos unidos, gigante. O amor une. E é em nome desse amor eternizado em meu peito que me permito chorar, mas chorar de pé. Meus pés doem, minhas pernas latejam, mas não irei deitar, não por minha vontade. Choro de pé e escrevo para que a dor saia e o amor prevaleça. Você foi uma grata surpresa em minha vida, um exemplo que estará sempre em mim. A única promessa que te faço é que sempre lembrarei de você sorrindo ao pensar que a vida me é injusta. Sempre cultuarei em meu altar íntimo sua imagem de guerreiro, de gigante.

Agora meu choro abrandou. Sabia que se fizesse o que você sabia fazer de melhor na vida - escrever - iria me sentir melhor. Até na morte você retribui com vida. O que sinto agora é um compromisso de melhorar a mim mesma como pessoa. Sinto forte a certeza de querer ajudar. Sinto a dor da perda. Mas sinto uma necessidade de agradecer. E sinto que acredito com mais força ainda que o amor é sempre eterno e que transcende a morte. Obrigada por tudo, querido. Te encontro em meus sonhos, gigante...

Leca Castro - 12/12/11





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