03/07/2012



Por que não nos bastamos? A necessidade do outro chega a ser patética, mas parece que gostamos de ser assim: patéticos. Quantas exatas vezes você precisou de alguém e foi recebido da forma que queria? E se foi recebido, foi também atendido em suas necessidades? Se sua resposta for um sim, admito que devo-lhe desculpas e serei duplamente patética, e sozinha.

E quando estamos vivendo nossa rotina e acontece algo de muito ruim ao outro? Não somos os primeiros a serem procurados? E o que fazemos? Recebemos a criatura de braços abertos? E se recebemos, respeitamos sua necessidade de falar antes da nossa necessidade de opinar e julgar? Sabemos ser amigos?

É muita pergunta, mas onde estão as respostas corretas? Elas existem? As perguntas não param. Vou-me, mas termino com outra pergunta que nunca consegui uma resposta que preenchesse aqui dentro: por que não me basto?

Leca Castro - 27/02/12


Quantos anos devem se passar para que a certeza chegue e diga que tudo sempre muda, independente da vontade, independente do querer?

Quantos amigos vão permanecer até que o entendimento sobre confiança se torne real e convença que amizade é algo raro que sobrevive ao que possa acontecer de pior com o outro?

Quantos prazeres vão acontecer pra que a diferença entre eles se mostre gritante e impossível de confusão? O arrepio de um olhar é diferente do sabor do chocolate.

Quantos choros ainda cairão até a compreensão do valor das gotas que escorrem pelos olhos? Rir muito não é o mesmo que rir alto e chorar é mais que derramar lágrimas.

Quantos gozos há de sentir para que perceba que o êxtase acompanhado de amor é infinitamente dissemelhante do desfrute do corpo apenas, onde o estímulo vai além de vídeos e gifs produzidos para este fim?

Quantos amores vão aparecer antes que entenda que paixões são passageiras e queimam a pele enquanto que amor ultrapassa a barreira da epiderme e inflama por dentro causando febre na alma?

Após tudo isso acontecer em você e com você, fazendo morada no rol de suas experiências, aí sim, diga ao mundo que deixou de sobreviver e está pronto para viver.

Leca Castro - 25/02/12





Sinto vontade de escrever ao mundo, gritar em palavras a angústia por ver todos se camuflando do que realmente sentem e é real. Não estamos aqui para cultivar mentiras e dissabores, o tempo é muito curto para isso. Já é hora de viver e mostrar o que te vale, te é real e te motiva a ser feliz. A preocupação com o que pensarão se mostrarmo-nos tais quais somos é tanta que escondemo-nos. Até de nós mesmos. E perdemo-nos. Inclusive de nós mesmos.

Ser transparente é algo doído por ficarmos vulneráveis mas traz alívio, traz paz por dentro. Desnudar sentimentos deveria ser lei, seria bem mais fácil associarmo-nos a quem nos atrai dessa forma. A procura com capa cansa. Não falo aqui de dar opiniões e ser sincero quanto ao que se pensa, isso acaba magoando e julgando os demais. Falo sobre mostrar-se, disponibilizar-se ao outro. Abra mão do medo, da insegurança, do descrédito. Apareça como sempre foi. Muitos te darão as costas, mas alguns te darão as mãos.

Leca Castro - 24/02/12


E onde se escondeu nossa vontade? Aquela ânsia em amar, ser amado e viver de amor? Quando chega a hora de dormir e fecho os olhos, não é você quem vem à minha mente, mas sua imagem fixa, a mesma desde que decidi me fixar nela. Para quê olhos tão intensos se não posso vê-los de perto, olhando para mim, afundando-se em mim? Olhos que sugaram-me por tantos anos, que desnudaram-me por completo, que souberam ler minha alma. Jamais alguém olhou-me da mesma forma.

Você dizia que era tímido e não sabia dizer coisas importantes olhando nos olhos, mas descobriu junto a mim que isso apenas aconteceu por ainda não ter amado de verdade. Nunca um "eu te amo" (tão banalizado hoje) foi dito com tanta intensidade por lábios como os seus e confimados por um olhar como o seu. Você enfim, aprendeu.

Juntos fomos apresentados ao que existe de mais puro entre os sentimentos e soubemos que respeito a quem se ama é apenas consequência. Sempre que dávamos as mãos selávamos um compromisso silencioso de não-abandono, de cuidado, de companhia. Seremos companheiros eternos por termos feito um pacto mudo de amor para sempre, que apesar de não ter sido verbalizado, grita mais que a saudade que habita em nós. Sempre te amarei.

Leca Castro - 23/02/12



Passei o dia sentindo-me uma peça, um objeto, um ser inanimado, cuja função seria unicamente a de um bibelô. Sensação de ser descartável. Pegar, usar e colocar de lado. Ou jogar no lixo. E pior... esquecida.
Algumas pessoas estão provocando isso em mim. Antes, achava-me necessária a elas, mas claro que era um erro. Não é uma pretensão saudável pois assim que aparecer outro alguém mais interessante e com algo além para a satisfação pessoal, a substituição será inevitável. Como se fôssemos "coisas".

O ciclo é esse mas deveria ser menos difícil. O hábito de não se importar com os sentimentos do outro deixa esse outro anestesiado. Pensando melhor, mais importante que fazer algo bom "ao outro" é fazer "com o outro". Partilha. Basta lembrar que em diversas situações estamos na posição desse "outro" e então entenderemos a importância e a responsabilidade da conquista. Não cative se não pretende cuidar.

Amanhã ainda não sei, mas hoje penso que não sou necessária a ninguém além de mim mesma.


Leca Castro - 22/02/12



Em que momento da minha existência as palavras não ditas se tornaram tão valiosas? Tenho algumas com peso de ouro, mas se ditas, valem menos que nada. E você, meu caro, perceba logo meu silêncio, perceba logo que não me escancaro por mera questão de lucro pessoal. De que adianta me mostrar abertamente e ser desvalorizada por cada vocábulo proferido? Já deu. Agora é sua vez.

Se realmente te interessa, venha... desvenda-me. Apenas procure pelo caminho certeiro e não ocorrerão erros. Palavras simples abrirão comportas em mim e serei desnudada com a facilidade do "abre-te, Sésamo". Se queres tanto, tente. Nada sem esforço vale a pena, chama-se conquista. Não farei mais nada pois minha alma cansou de correr. Principalmente atrás de você. Talvez você seja um conhecido, talvez nunca tenha imaginado sua existência. Mas sei que algo bom aguarda-nos, sinto isso. Então venha. O corpo dói, o coração suplica, a cabeça quer pouso. Preciso de resgate...


Leca Castro - 21/02/12




O que mais pesa, como todos pensam, não é a despedida. Se alguém vai embora de você é porque há uma razão, seja sua, seja dela. O que pesa é sustentar o durante. Sabe todos aqueles velhos chavões? Regar, cultivar, ser responsável? Pois então...

Todos são reais e "usáveis", mas quem disse que você ou eu sabemos colocar em prática? Quando acontece a descoberta, o encontro, a colisão, acontece também uma transformação em nós. Conhece aquela sensação do novo, da reciclagem de sentimentos, da esperança? São sensações que nos modificam. Experimentamos o prazer do outro.

E quando há um desentendimento, uma rusga, uma discussão, há também um desgaste emocional. Se não pegarmos todo esse emaranhado e usarmos pra amadurecimento da relação, ao invés de lapidação teremos mais embrutecimento. E assim nunca seremos diamantes. Somos feitos de alegrias mas também somos feitos de dores. Não há como entender o outro sem esse equilíbrio de emoções. E é isso que pesa... não conseguir manter as pessoas em nós.

A dor do afastamento é forte em demasia, mas depois de um tempo ela diminui até que reste apenas uma lembrança. Se continua a doer é porque alimentamos a dor e ela começa a se transformar em sofrimento. Se for para separar, que seja de maneira consciente e firme. Deixe doer o que for preciso, mas dispense esse alguém com maestria do seu coração. Não acene. Não dê indícios de uma volta. Guarde consigo a melhor parte e procure se abrir para que novo ciclo recomece. Retome sua vida e se disponha a outros pesos.

Leca Castro - 12/02/12



Mais uma vez meu sono foi povoado com sua presença sem que eu nem ao menos eu quisesse. Não chamarei de sonho, pois não foi algo bom e sonhar tem que ser gostoso.

Você entoava palavras em meus ouvidos, palavras que bailavam de seus lábios, suaves e canoras. Palavras que eriçavam meus pêlos animalescos e demonstravam como ainda te desejo comigo. Em mim.

Suas mãos se entrelaçavam nas minhas escorregando carinhos com o polegar, que desnudavam meus tremores. Somente você até hoje conseguiu tal feito com esse toque. Em mim.

Seus olhos ardiam ao encontrarem os meus, olhares que mergulhavam aqui dentro e descortinavam tudo que sempre escondi. Olhares que me carregavam até o céu e provocavam chuvas de prazer. Em mim.

Não foi um sono bom, não foi. Sua presença foi tão presente que acordei inundada pela chuva causada pela ida até as nuvens com você. Ainda te ouço. Ainda te toco. Ainda te vejo. Em mim.

Leca Castro - 11/02/12


Sossega, vai. Não adianta fugir do que é real nem tampouco virar as costas e fingir que não é com você. Volte e retome sua vida de onde parou. Volte e segure seu futuro com as mãos calejadas e por vezes sangrentas pela labuta que a vida lhe impôs. Passaram-se anos e de que adiantou tantos sortilégios para driblar o que já era predestinado e fadado a acontecer? Sei que tentou, mas agora chega o instante de admitir que não deu. Foi em vão.

E eu? Em função dessa sua tentativa frustrada em achar que daria certo algo que obviamente não daria, deixei-me levar pelo redemoinho da minha vida e parei em locais completamente surpreendentes. Tal qual Doroty conheci pessoas interessantes por suas virtudes e igualmente interessantes por suas deficiências. Não era você quem dizia que existe beleza em tudo e em todos? Pois bem, passei a procurar por tais belezas em quem cruzava meu caminho. Mas você sabe como sou intensa e mergulhei fundo em cada cabeça pensante e em cada coração "sentidor" que me abordava. Também foi em vão.

Admita. Não deu certo. Foi útil, nos transformou em seres melhores, mas continuamos lá atrás, onde paramos, no momento em que você decidiu dar o "pause". Por que não parou logo de vez? Por que permitiu que um dia pudéssemos retomar? Por quê? Agora é chegado o instante de deixar as perguntas de lado e mandar as respostas ao inferno para que sejam queimadas e consumidas pelas chamas. É chegado o instante de olhar para o alto e vislumbrar um novo horizonte se descortinando.

Sossega, vai. Não adianta fugir. Somos um do outro. Pertencemo-nos.

Leca Castro - 11/02/12


Sou feita de dores, machucados adquiridos com o tempo, que sangram, que doem e alguns até dilaceram. Sou feita de dores e me trato com doses anestésicas de mágoas e traumas.


Sou feita de alegrias, sorrisos cravados no rosto que espalham otimismo e amansam o tempo. Sou feita de alegrias e disfarço as dores através dos risos que recebo escancarados.

Sou feita de renúncias, doações de mim mesma que se vão com quem parte e não volta. Sou feita de renúncias e tolero esse abandono de prazeres não realizados de gente e de promessas.

Sou feita de vento, sussurros ao pé do ouvido que se tornam palavras ditas e gritos abafados. Sou feita de vento e deixo que a brisa da vida me leve até um porto firme e seguro.

Sou feita de amores, desejos não mais contidos que transbordam pelas palavras e contrações inguinais. Sou feita de amores e quebro ao final de cada gozo sentido e desfrutado.

Sou feita de pedaços, metades arrancadas e tomadas que fui deixando e também roubando para mim. Sou feita de pedaços e sofro juntando as peças que jamais irão se encaixar novamente.

Sou assim, um misto de dores, alegrias, renúncias, vento, amores e pedaços. Sou assim. Sou história de mim mesma.

Leca Castro - 10/02/12


Eu sou mesmo uma tola, mas me sinto deliciosamente tola... podem jogar pedras, magoar, machucar, mas recupero tão rápido que chega a ser impressionante. Tenho facilidade de cicatrização rápida e tiro proveito disso. Está certo que umas feridas são mais profundas e demandam mais tempo para serem fechadas. Não existe milagre. Mas elas fecham. E novamente entrego-me para nova tentativa, mesmo com as chances de novos machucados. Não adianta, sou teimosa, turrona ou qualquer outra palavra que queiram usar para definir-me.

Mas ninguém pode contestar o que digo. As provas são as cicatrizes que carrego e cada uma delas traz um nome, um sentimento, uma experiência. E verão que possuo várias com o mesmo nome. Está bem, não sou teimosa. Sou como disse no início, sou tola. Não importo de o ser, desde que sinta alegria no recomeço, na reconciliação, no abraço, no choro. Mais que alegria, sinto satisfação, sinto prazer. Amo as pessoas e o contato com elas. Amo conversar e desbravar outros universos. Amo gente. Amo amar gente.

Leca Castro - 09/02/12


Daquele nosso amor juvenil restou apenas a essência.
A essência do olhar, do falar, do beijar, do tocar, do amar.
Nem os anos conseguiram envelhecer nosso amor.
Nem nosso amor consumiu nossas essências.
Ainda somos.


Leca Castro - 07/02/12


Não são apenas as borboletas que fazem reviravolta dentro de mim. Tenho também alguns dinossauros que conseguem me balançar de tão grandes que são. Mas dinossauros precisam ser extintos, ao contrário das borboletas que fazem um movimento gostoso aqui dentro. Cócegas de suas asas são uma delícia de sentir, mas a dor dos pés pesados não promovem prazer algum.

Vou ser sincera... a única forma de não ter dinossauros aqui dentro é não deixá-los entrar. Mas já viram como todo filhote é lindo? Perceberam que a entrada é a coisa mais simples desse meu mundo? Como negar guarida a um ser tão fofo? Ele entra e então alimento-o com minhas angústias, minhas ansiedades, minhas cobiças, minhas aspirações, minhas frustrações. Lógico que ele vai crescer e tomar proporções de acordo com minhas intensidades e justamente nesse ponto que se encontra o problema. Também, quem manda ser tão intensa em tudo?

Respiro fundo e fecho meus olhos para o mundo de fora. Tento ver o tamanho desse réptil que criei e fomentei no mundo aqui de dentro e ele é bem arisco e pouco domesticado. Cabe somente a mim amansar essa fera e crescer a seus olhos. Sim, preciso aumentar meu tamanho para que a ameaça seja controlada e eu possa, enfim, direcionar o rumo desses problemas de "casca grossa". Eles não morrerão mas deixarão de ser grandes a ponto de me provocarem medos e náuseas. Que andem por mim e me explorem, mas serão meus e o farão sob meu comando. Só eu tenho poder para domar as feras dentro de mim. Quero ser mansa...

Leca Castro - 06/02/12



Hoje é um dia em que resolvi definir as "coisas" dentro de mim e colocá-las em seus devidos lugares. Em destaque ou não.

Hoje é um dia em que sinto necessidade de expressar-me de maneira absurda, como nunca havia sentido antes.

Hoje é um dia que tenho urgência em ser feliz, comigo mesma e com alguém especial, se assim fosse possível.

Hoje é um dia que desejo amar, incondicionalmente, a quem queira apenas ser amado, apenas por querer.

Hoje é um dia de entrega...

Hoje é um dia...

Hoje...

Leca Castro - 04/02/12


Ei, nas suas relações tem alguém que se importa realmente com você, de coração? Pessoas que chegam e querem saber do que te acontece, como foi seu dia, como você está se sentindo? Se você tem, segure-as, agarre-as, tome-as para si. São jóias raras.

Sabe aquelas pessoas que já chegam sorrindo, te contando as novidades do dia antes mesmo de esperar que responda ao cumprimento? Ou então já chegam arrebentando e te contando como a vida é ruim com elas? Fuja dessas. São egoístas, apenas querem ter a satisfação de contar como estão e mostrar alegria ou dor. Isso dá um certo prazer.

Sou radical? Não era, juro que não, mas agora serei. Cansei de esperar que sejam comigo como sou com elas. A gente cansa... o corpo cansa, a alma cansa, o coração não descansa. E quando você acha que está literalmente pra morrer é que enxerga quem está com você. E são pouquíssimas pessoas, raras, como disse antes.

E se você não entendeu do que eu estou falando, desculpe, mas (ainda) não somos amigos.

Leca Castro - 03/02/12


Cansada... mentalmente desgastada. Como é possível tantos acontecimentos em apenas trinta dias? Foram novidades acompanhadas de decepções, decepções advindas de novidades, situações inusitadas, corpo reagindo às mudanças e intempéries, um anjo descendo de pára-quedas, um passado retomando com mais força. E para quê?

Realmente é importante entender os propósitos, inclusive por não acreditar no acaso. E se o acaso não existe na minha concepção, os propóstios trazem as respostas. O cansaço invade justamente por não conseguir analisar e entender os motivos da vida em sua totalidade e perfeição. Apenas enxergo o equilíbrio, o balanço das coisas negativas com as positivas, a dor e a esperança, a surpresa e a rotina, o egoísmo e o amor.

Travar essa batalha em tão pouco tempo vai minando a mente e o corpo. Como refazer as energias? Sou firme no que penso e sinto, e vulnerável a idéias novas e amores que vem e vão. Essa dicotomia me dilacera, me faz insegura, me encolhe. Sou vulnerável sim, sentimento vivo que dói, presa fácil de quem brinca com corações alheios. Eis-me aqui... cansada.

Leca Castro - 01/02/12


Mudarei de postura a partir de agora, ao cumprimentar as pessoas virtualmente. Quando eu pergunto "Como está?", a maior parte das respostas é "tudo bem.". E sabemos que raramente essa resposta será fielmente verdadeira. Ao invés de insistir e querer saber se está tudo bem mesmo, pois insistir é algo muito chato, farei uma segunda pergunta: "Por quê?".

Vejam, se há motivos para que não estejamos bem, deve haver motivos para que também fiquemos bem, não? Quantas vezes respondemos que está tudo bem porque temos a certeza que a pessoa perguntou como estávamos apenas por educação e como uma forma de iniciar um diálogo? Lançar uma segunda pergunta seria uma maneira de dizer que estou disponível para conversar, que tenho interesse em saber como realmente está a sua vida, que aqui tem um colo. Difícil isso? Não. E muito mais gratificante que ficar conversando amenidades e desperdiçando o tempo.

Claro que temos momentos em que queremos apenas conversar "abobrinhas", mas isso não pode e nem deve ser uma constante, não pode ser prioridade. No dia que percebermos o quanto faz bem ajudar e estender uma mão, teremos vontade de fazer desse gesto um ato permanente quando em contato com pessoas próximas (ou não tão próximas). E melhor ainda quando descobrimos que o outro tem interesse em nos receber, em querer saber realmente como estamos também. Afinal, chega uma hora em que precisamos de reciprocidade, certo? Qual o sentido da vida se não for amar, em todos os sentidos e aspectos?

Se alguém me perguntar, hoje, como estou, vou responder: "Tudo bem..."

Leca Castro - 30/01/12

Não vou permitir que entre. Agora fechei mesmo, não adianta. Foram muitas tentativas e nenhuma obteve sucesso. Pode até achar que estou desistindo fácil mas a cada uma dessas experiências tive marcas que ainda sangram. Deixava entrar mas nunca, em tempo algum, tive essa iniciativa já achando que um dia sairia. E cada vez que sai, rasgos são feitos como faca de bainha repleta de lâminas afiadas. Não dou conta mais... é a conta de suturar uma ferida e outra já desponta. As cicatrizes já estão se sobrepondo com as mesmas experiências se repetindo. É... não dou conta mais!


Leca Castro - 28/01/12


Mais um daqueles dias em que acordo e não me encaixo na vida. Tenho coisas a fazer e não sei por onde começar. A vida acontece enquanto tento entender onde estou em meio a tanto acontecimento. Filha acorda atrasada, faz um lanche rápido e sai para novo emprego - atrasada -, machuca o pé e vai para o hospital. Entendem o que digo? Onde estou nesse contexto? Ainda sinto como se o dia estivesse começando e já é quase tarde. Céus...

E se estiver assim também para a vida, a minha vida? Sinto tudo acontecer lá fora enquanto um marasmo toma conta de mim, do meu corpo, não deixando o sol anunciar um novo momento. Não, não estou me referindo a pessimismo ou algo do gênero. Apenas vejo o tempo passar sem me dar conta se o que estou perdendo é pouco ou muito, se vai pesar na balança ou apenas aumentar uns gramas no peso das conquistas.

Vou trocar essa camisola por um vestido bem leve, de acordo com o verão que acontece hoje e prender os cabelos com aquele prendedor novo que ganhei no natal e ainda não tirei da embalagem. Vou calçar minhas sandálias novas também, sair e caminhar até o centro comercial mais próximo e sentar em um banco na praça. Quero observar as pessoas enquanto o sol acaricia meu rosto e o vento teima em soltar alguns fios de cabelo da presilha. Vou ligar o celular e receber as ligações que tenho evitado desde muito tempo e cumprimentar cada um que ligar com um sorriso em mim.

O relógio da igreja toca dez vezes... hora de tomar um banho e me encaixar.

Leca Castro - 26/01/12


Falar o que se pensa é muito bonito, chega a ser interessante. Escrever então se torna a concretização do pensamento. Mas falar o que se sente... essa tarefa sim, torna-se complicada. Escrever o que vem da alma passa a ser uma atividade mágica, eu diria. É como ver seus sentimentos se exteriorizando, se eternizando.

Mas como é difícil... Hoje encontro-me com diversos sentimentos exacerbados e não consigo simplificá-los, agrupá-los, encaixá-los. Quero e preciso dividi-los com outras pessoas mas onde encontro o manual com explicações de como fazer isso? E como saberei quem tem condições de captar o que sinto, não a grosso modo, mas as miudezas, os detalhes, alguém que queira e saiba como entrar em mim e sentir comigo o exagero das coisas mínimas? Não quero palpites ou aconselhamentos, as situações externas já estão resolvidas, quero apenas que alguém sinta o que sinto, que me confirme que sou tão normal quanto o restante do mundo.

E se não for normal? Então, que se dane a normalidade. Não sou de ficar sofrendo uma dor além do necessário. Pode ser a dor mais intensa, mais doída, mas aprendi com os anos a levantar a cabeça mesmo sem vontade. Aprendi a encarar os desafios mesmo me achando incapaz para tanto. Aprendi a chorar, a sofrer, e depois enxugar as lágrimas e prosseguir. Se assim não fosse eu seria atropelada pela vida e perderia mais tempo me recuperando desse acidente que da dor propriamente dita.

E é isso que preciso pra hoje, conseguir escrever o que vem da alma. Preciso passar por esse processo mágico e deixar impregnado em palavras tudo que me arrebata hoje, tudo que tem me tirado o sono, tudo que tem me deixado triste. Só assim me esvazio da dor e consigo acolher a dor do outro. Minha essência não é triste. Gosto de sorrisos. Meus e de quem caminha comigo. Necessito reaprender a letra para cantar a vida. Cantar... Encantar.


Leca Castro - 24/01/12


Eu não vou me abater. Nem por ninguém, nem por mim.

Por mais tábua ferida que eu possa me sentir, cheia de pregos retirados e suas marcas, por mais que carregue isso para sempre comigo, serei tábua ferida resistente. Dessas que passam a vida sem permitir que cupins da inveja e do dissabor a corrompam.

Eu não vou me corromper. Por ninguém. Não mais.

Leca Castro - 24/01/12


Recebi uma pergunta anônima questionando se eu tenho orgulho de ser a mulher que sou. Para responder fiquei dias refletindo. Não quero da vida nada mais do que já recebi. Já sinto satisfação e a sensação de gratidão pelo que já vivi, de bom e de ruim, mas que me transformaram no que sou. Sei que dirão que não tenho ambições ou que me contento com pouco, mas não é verdade.

Para se sentir realizada uma pessoa não precisa de muito nem de tempo, basta viver intensamente o que a vida oferece. E acho que já tive de tudo um pouco: um lar sólido repleto de valores morais, um grande e inesquecível amor, uma filha que se torna uma adulta formidável, estudo completo, uma graduação dos sonhos, a prática profissional, a perda irreparável de entes queridos, a religião ideal, a muda de árvore plantada na infância, a doença que te acorda pra realidade, o livro quase finalizado.

Eu seria uma tola e idiota se dissesse que não fui feliz e mais idiota ainda se não encarasse o dia de hoje como um presente. Se a doença faz doer, deixa doer. Se os amores se vão, deixe que se vão, se for seu, volta. Se o lar se desfez, reconstrua o seu. Se a filha voou, deixe que voe e confie no que ensinou. Se o trabalho findou, relaxe e descanse.

E se novamente me perguntarem se tenho orgulho da mulher que me tornei, não irei deletar novamente a pergunta, já sei o que responder...


Leca Castro - 22/01/12


E há quem diga que a tristeza veio para ficar e eu, claro, vou discordar. Pois não existe no mundo alguém que viva apenas de tristezas e coisas negativas, não existe. Chega num ponto em que a pessoa precisa tomar uma atitude. Ou comete suicídio em vida, que ao contrário do que pensam não é um ato de coragem, mas de covardia, ou comete suicídio na alma. Esse último sim, um ato de extrema coragem. Morrer para reviver...

Onde se encontra a vontade de levantar, encarar o dia, fazer o que estava programado? Qual foi o sonho que aportou em seu sono desta noite que fez com que acordasse assim, tão sem vontade? Mas se permancesse na cama mais um dia iriam incomodar achando que estava doente ou algo do tipo e foi apegando-se a essa idéia que colocou os pés no chão.

Encaminhou-se para o banheiro e olhou-se no espelho. A alergia no rosto começou a dar sinais de regressão, após exatos oito dias de incômodo. Menos mal. E aquela sensação de estar com o rosto todo amassado e pesado de tantas rugas? Saiu então e foi até a copa onde seus pais estavam fazendo o desjejum daquela manhã de sábado. Sentou-se e agradeceu por sua mãe estar contando o sonho daquela noite. Quando ela começava, não parava mais. Isso iria poupar o trabalho de ter que falar sobre qualquer coisa. Tomou um café ralo, doce e quente. Serviu-se de duas torradas com requeijão. Pronto.

Voltou ao quarto e pensou em ver algum filme, tinha vários separados, mas não tinha ânimo de escolher. Foi para o computador e viu que não havia ninguém conectado para dividir aquela manhã sombria. Leu um texto triste, suicida. Por que algumas pessoas gostavam tanto de escrever sobre a morte, sobre os seus limites, sobre desespero, suicídio? Achava aquele talento tão lindo, tão peculiar, tão... motivador! Mas não... não teria coragem de chegar tão longe. Preferia apreciar o suicídio da alma, aquele que acontece quando se perde completamente as esperanças de viver algo bom e profundo. Aquele suicídio onde a alma renasce, mais tarde, depois de uma queda gigantesca. Aquele pulo no abismo onde a morte daquela experiência representa alívio. É isso. Precisava cometer suicídio de si mesmo. Precisava renascer em alma. Amanhã teria um novo alento, começaria uma nova história. Precisava de uma nova vida.


Leca Castro - 21/01/12


Acorda e não acredita que já é hora de começar o seu dia. Acorda e pensa que está ainda em sono profundo, apenas mudou de sonho. Acorda e repara que está em seu quarto novamente (ainda) após uma noite estranha e lindamente diferente.

Assim acordei hoje, como se fosse a personagem de um filme que deixa transparecer o que pensa e sente apenas pelo olhar. Aquela história pertencia a mim ou realmente era um sonho, daqueles que se prolongam mesmo depois de abrir os olhos? Tudo bem que não tive tempo de ficar meditando a respeito, o despertador do celular já vibrava novamente anunciando que eu estava ali, pensando, havia cinco minutos.

Mas então que ele me acorde novamente daqui a novos cinco minutos para que eu possa ainda flutuar mais um pouco. No meu caso, essa noite, meu sonho foi um prolongamento do meu início de madrugada, onde tivemos uma experiência única e linda. E assim será meu dia, de pés no chão, claro, mas com o coração nas nuvens e leve... leve como uma pluma bailando no ar. Desliguei o alarme e sai da cama em busca do meu dia.

Tinha um sorriso no rosto.

Leca Castro - 19/01/12


O que te aflige tanto? Essa é a pergunta chave apesar de acharmos que a solução está na resposta. Descobrir seu foco de aflição é fundamental pra trabalhar essa ansiedade que surge de não sei onde. Saber a causa, no momento da aflição, é muito mais vantagem do que descobrir o por quê, onde ou quando. Ir na origem é muito mais certeiro do que rodear até ficar tonto.

Hoje estou sorrindo por ter descoberto o motivo de minha aflição nos últimos momentos. Bastou achar essa resposta e resolvi grande parte da minha atual insônia. E há tempos não dormia com o coração em repouso... silencioso. Antes, ele fazia muito alarde, se sentia só, clamava por companhia. Depois passou a gritar por ter dado as mãos a outra pessoa e conseguir caminhar dividindo experiências. Logo em seguida deixou-se sangrar, como todo bom coração que cumpre sua função de bomba. E seu sangue misturou-se com minha tempestade desorganizada e choveu sangue que, como em todo temporal, inundou e alagou minhas vias. Meu céu se acinzentou e a noite então veio findar o dia.

E depois de uma madrugada escura, fria e solitária, eis que renasce o sol, deslumbrante, acolhedor. E tomei minha decisão... voltei ao carinho do sol. E pergunto novamente, agora a mim mesma: o que me aflige tanto? Percebo que não me aflige mais, não há mais ansiedade pairando em minhas nuvens. Sinto o ar passando de leve e tento ir junto, deixando a brisa fresca roçar meu rosto e minha pele. Claro que ainda tenho aflições, mas resolvi cuidar de uma de cada vez. Por hoje, me basto...

Leca Castro - 17/01/12


Quem nunca se decepcionou com certeza está mentindo. Desde pequenos passamos por decepções na vida, tanto com os outros quanto conosco mesmos. E até mesmo com a própria vida. A questão não é saber se está certo ou errado se decepcionar, mas entender o motivo e tentar amenizar esse impacto.

Sim... a decepção é um baque, uma batida na realidade, uma topada, um impacto. Como então suavizo todo esse choque? Encontrando o por quê de tanto desapontamento. E descobri que essas decepções ocorrem em mim por depositar muita expectativa na vida, nas situações e principalmente nas pessoas. Se eu começar a caminhar aceitando o que a vida tem para me oferecer, sejam coisas boas ou não, verei cada momento desses como um presente e trabalharei para que as experiências ruins tenham saldo positivo para mim. Dessa forma, cada situação deixará de ser decepcionante e passará a ser aprendizado.

Mas as piores desilusões acontecem nas esperanças que deposito nos outros. Sempre fico no aguardo de que o outro me retribua, me compreenda, se esforce. E quando nada do esperado acontece, vem a decepção. E sofro, me martirizo, me decepciono. O problema é sempre estacionar nesse ponto e achar, realmente, que o problema está na outra pessoa. Mas não está. O problema se encontra em mim mesma, que espero demais de quem convivo e isso não é certo, nem com elas nem comigo. O nível de exigência deve diminuir em mim para que a expectativa também diminua, assim, tudo que vier da vida, das situações, das pessoas serão surpresas agradáveis e sempre bem vindas.

Preciso, com urgência, depositar menos expectativa em mim...

Leca Castro - 14/01/12


Engraçado essa questão de valores morais que são passados pelos pais, pelas escolas e pela sociedade. Claro que a Ética possui explicações várias para justificar e fazer-nos entender a conduta humana, mas para prosseguir no raciocínio, basta entender que a moral é a qualidade dessa conduta. E ontem uma conversa me fez ver que os valores estão definitivamente deturpados. Que espécie de educação é essa da atualidade onde desde criança já se aprende que brigar, atirar, socar e matar são atos comuns e banais e quando se chega na adolescência os verbos em alta são chapar, pegar, ficar e enganar?

O que vemos de adolescentes ainda crianças no comportamento e adultos vivendo ainda tardiamente na adolescência é algo cabuloso. E sabe o que torna-se comum? A consciência permitir que se invista em uma pessoa mesmo ela sendo comprometida. E pior ainda é achar nessa pessoa comprometida, a correspondência. Caramba... desde quando isso se tornou tão corriqueiro, tão normal, tão sem culpa? Claro que ninguém aqui pré-define a quem vai gostar, ou vulgarmente falando, a quem vai amar. E digo ser vulgar porque dizer que ama passou a ser trivial, como se amar fosse algo simples que se conquista em uma velocidade estonteante e apenas palavras bonitas de despedida são suficientes pra sustentá-lo. Então você pode dizer a vinte pessoas em uma rede social que as ama e escolher uma em específico para amar como parceiro. Sim, parceiro, porque o termo "companheiro" também não é vivenciado mais.

E então volto aos valores morais de hoje, onde os pais, que deveriam ser responsáveis por implantar essas idéias desde o nascimento, negligenciam essa responsabilidade e transfere-a a uma babá, à escola, a uma TV e um vídeo-game. Não me admira que os adolescentes se percam. Bendito sejam os que apenas se acham perdidos, esses ainda conseguem se reeguer para encarar o mundo adulto como se deve. Mas o futuro é algo que assusta, não consegue-se vislumbrar o senso de justiça, de Ética, daqui a quinze anos sem ponderar a base dos seres viventes de hoje. O convite é para reflexão sim: até onde estou sendo Ético com quem digo amar? Minha postura, na prática da convivência, tem sido uma postura coerente com o respeito ao outro?

Não quero levantar idéias para discussão, apenas para meditação. Faz-se necessário, com urgência, uma mudança nessas atitudes em relação aos que nos rodeiam, pensem nisso. E não briguem por tão pouco. Cada um tem condição de tomar decisões e se manter ou se deviar no caminho correto de acordo com a Ética estabelecida, vai da consciência de cada um. Então, que cada um se posicione e consiga agir conforme suas conclusões porque as idéias devem brigar entre si. Nós não.

Leca Castro - 09/01/12


Sinceramente não sinto vontade de desejar “feliz ano novo” nem prá mim mesma, são palavras que deixaram de fazer sentido em minha vida nesse ano que se passou. Não, não estou reclamando ou praguejando por ter tido um ano ruim, pelo contrário. Aprendi a enxergar as dificuldades como algo bom também. Elas me fortaleceram mais ainda. Mas é que acho tão mecânico esse desejo, tão abrangente que se perde nele mesmo. Primeiro porque felicidade não é algo que se deseja e pronto, ela é relativa a cada um.

Eu desejaria diferente. Desejaria um próximo ano grande, com muito aprendizado, mesmo que esse venha através de alguma dor. Não foi Drummond o gênio da frase “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”? Quanta sabedoria em tão poucas palavras… Se a danada é inevitável, por que não tiramos proveito dela e crescemos? Aliás, antes de toda essa reflexão eu pergunto: o que é dor para você? É o que sente quando corta o dedo e quando fica com fome e a cabeça lateja? É aquela pontada no local da sutura após o efeito da anestesia? É o coração apertando após o rompimento de uma relação? É a saudade avisando que vai “chegar chegando” daqui um tempo, depois do enterro da pessoa que vai amar para sempre? São tantos tipos de dores, não?

Então desejo a você as inevitáveis dores, mas acompanhadas de discernimento para que o sofrimento não faça morada. Sua dor é de um amor perdido ou não correspondido? Não deixe de amar por isso. Não fuja do amor, fuja de pessoas que não sabem te ver alegre. Fuja de pessoas canalhas. Você acha que sua dor de amor é a maior do mundo e provoca dores físicas pra esquecê-las? Desculpe, mas não adianta, vai continuar doendo do mesmo jeito e passará a sentir dois tipos diferentes de dor.

Desejo que seja menos de “fora pra dentro” e seja infinitamente mais de “dentro pra fora”. Chegou a hora de deixar brotar. Enfim desejo, pra mim também, um ano com mais sabedoria, mais capacidade de perdão, mais aprendizado. Estude mais sobre a Ética e a Moral e saiba diferenciar uma da outra. E levante o seu moral, sempre. Não pise nem deboche de ninguém, isso é muito feio. Se isso é desejar um “feliz ano novo”, que seja então novo, de novo e pra todos os fins de ano que virão.

A minha idade não me faz especial, apenas me dá mais tempo de aprendizado. Caminho com pessoas bem mais novas que conhecem dores maiores que as minhas, diferentes das minhas. Sim, tenho dores. Quero então no próximo ano afastar os sofrimentos. E só mais uma coisa: não se ache melhor ou superior que ninguém, por que você não é. Você é humano tanto quanto qualquer outra pessoa. E se andarmos juntos no próximo ano, que seja de mãos dadas. Que seja realmente “junto”… E pra quem entendeu tudo que eu quis dizer, seja bem-vindo e permaneça.

Leca Castro - 30/12/11


Ontem, "conversando" com um Amigo sobre como agir e reagir dentro de uma relação de amizade, vários questionamentos me surgiram. E como amo a madrugada aproveitei o silêncio e me pus a ponderar a respeito. Alguns pontos que achei relevantes ainda permanecem obscuros, enquanto outros consegui clarear bastante.

Se devemos aceitar o outro com todos os seus defeitos por que isso nos remete a estagnação? Eu aceito todos os defeitos do meu amigo mas isso não significa que eu não vá tentar formas de fazê-lo enxergar a necessidade de uma melhoria ou ao menos uma discussão sobre valores arraigados sobre o que é certo e/ou errado. Qual o parâmetro de comparação sobre o que realmente é defeito e perfeição? Claro que isso vem à tona sempre que problemas vão surgindo e as divergências aparecendo. Só assim vamos descobrindo o outro e suas reações perante a vida e outras pessoas.

Como confiar se esse primeiro passo não foi satisfatório? Pode-se não chegar a um consenso sobre o que é certo ou errado de se fazer na situação-problema, ou qual a melhor postura a ser adotada, mas ao menos deve-se ter liberdade de chamar pra conversar, externar as dúvidas, anseios e chateações. Deixar as situações "por isso mesmo" não é solução pra ninguém, nem nunca foi. Ou é falta de interesse em resolver o problema ou é medo de que a outra pessoa se aborreça. Em ambos os casos essa relação não pode ser considerada amizade. Não mesmo. Confiar é ter segurança na reação do outro. É ter esperança firme no outro.

O que espero de um amigo? Espero que ele seja lápis de cor trazendo alegria a essa minha vida cinzenta; que seja estrela que me guia para um porto seguro; que seja passos suaves quando eu me sentir rua deserta; que seja traço sensível quando minh'alma for apenas rabiscos insanos e grotescos; que seja desenho com formas e cores bonitas gravado pra sempre em mim.

E após pensar tudo isso ainda lembrei de um outro fator igualmente importante: tudo isso é o que eu espero, mas o que o outro espera de mim como amiga? E novamente me vejo refletindo sobre o respeito. Cada um tem seu tempo, seu momento de descoberta, suas experiências. E não exigir que enxerguem esses conceitos ou tentem praticá-los da mesma forma que eu é uma maneira de ser amigo, de respeitar. E volto para o meu travesseiro e tento adormecer com uma única pergunta da madrugada: sou amiga?

Leca Castro - 29/12/11



Anoiteço com a sensação de ser um livro, daqueles bem grossos e carregados de palavras, frases, desenhos e rabiscos. São tantos acontecimentos durante o dia que quando o corpo reclama por uma noite de sonhos a insônia se instala. Algumas páginas ficaram inacabadas. Outras ganharam finais tristes. E algumas nem sequer estão perto de serem finalizadas.

Sem contar nas folhas que nem sabia que existiram, mas fizeram parte daquele meu dia corrido e se misturaram com livros de outras pessoas. São os "entrelaços" da vida que costumam nos surpreender.
Alguns dias sou livro grosso, pesado, mas com conteúdo fraco e pobre. Apenas palavras vazias me compõem. Gosto mais dos dias em que sou livreto, daqueles em que uma poesia de quatro linhas e uma estrofe me descrevem com maestria. Onde um desenho composto de traços simples transmitem meus sentimentos mais profundos e os mais transbordantes também. Sim, prefiro ser um livro pequeno, mas com conteúdo. Um livro em que pessoas que me cercam tenham prazer em folhear e entendam logo do que se trata. E terminem a leitura satisfeitos e com gostinho de "quero mais". Quero ser daqueles livros que se tem vontade de reler sempre, que ocupe um lugar de fácil acesso na estante, que a capa não seja o mais importante.

E quando enfim, eu conseguir dormir e encerrar meu último capítulo, que seja pra amanhecer e recomeçar da mesma forma, mas com finais diferentes e melhores.

Amanheço folha em branco.

Leca Castro - 27/12/11


Não foi um ano fácil, nem tem sido um final de ano menos difícil, mas o que realmente importa é que chegamos aqui. Não está sendo uma chegada na reta final em que me encontro inteira, pedaços de mim ficaram pelo caminho. Fui me perdendo aos poucos, deixando pontas que foram desbastadas em conflitos. Arestas que foram aparadas em atritos.

Mas não é assim que nos lapidamos? A pedra bruta não precisa sentir a dor do atrito para poder brilhar? Então, que venham os conflitos, as divergências, as intempéries, os desentendimentos, as confusões, os amores conquistados, os amores perdidos, tudo que me desbaste. Quero continuar a sair inteira, porém com menos pontas, provocando menos dores, machucando menos os que se aproximam de mim.

E que essa "virada" de ano que se reinicia seja carregada de novas experiências, novos amores, novas conquistas boas e perdas do que realmente me sobra. Trago comigo marcas graves e doídas esse ano, mas também levo em mim tatuagens de encontros inesperadamente bons, intensos e marcantes. Pelas cicatrizes e pelos desenhos expostos em mim, agradeço. Tudo isso me torna o que sou: uma pedra bruta sendo burilada pela vida e pelas pessoas que escolho para viver comigo.

Um "muito obrigada" aos que vieram e se foram. Marcaram. Um "permaneça" aos que souberam enfrentar as pedras de Drummond junto comigo. Que cada um de nós consiga mostrar seu brilho em cada lascada da vida. E que cada brilho renove a força de continuar caminhando. Junto...

Leca Castro - 24/12/11


Dias intermináveis esses, céus!

Basta algo bom (nem precisa ser "muito" bom) acontecer pra que os dias passem rápido demais, sem ao menos darmos conta das pedras no caminho. Só enxergamos as flores à beira da estrada, as árvores fornecendo sombra grátis, os pássaros cantando melodiosamente, o vento soprando seu ar refrescante.
Mas quando estamos em dias "ruins", não há natureza que resista. Drummond sabia disso, caso contrário jamais saberia descrever tão bem a sensação das inúmeras pedras em nosso caminho solitário. Só as pedras e nós. Sem flores vivas, sem copas nas árvores. Sem flores não há beleza. Sem copa não há sombra nem frutos. E os pássaros? Todos mudos. Eu e os pássaros mudos, aguardando uma leve brisa, uma nuvem que seja.

Sim... por isso chuvas se fazem necessárias, mesmo que doídas. Calor demais abafa. Não são os outros que te machucam. Chover dói…

Leca Castro - 22/12/11


Meus ouvidos vibram ao som das vozes que me rodeiam e são proferidas sem pensar. Vozes que machucam, apunhalam, ferem. Vozes que ecoam em sua capacidade infinita de penetrarem já rasgando o que ainda tinha de bom em meus pensamentos.

Meus olhos brilham quando vislumbram um feixe de luz em meio a tanta escuridão mundana. Cansados estão de existirem nas sombras, no escuro em que tudo em volta se encontra. Precisam de luminosidade, de um colírio da compreensão que amenize a poeira do supérfluo na córnea esgotada de tanto chorar.

Minha boca se cala imediatamente com o grito de inocentes sendo apunhalados pela ignorância. Se cala quando acham que o volume importa mais que a qualidade do sentimento revelado. Se fecha no instante em que as palavras proferidas se tornam vazias diante da tanta dor e desentendimento em um mundo em que prevalece a lei de quem sabe gritar e ferir com e por tão pouco.

Quero ouvir palavras musicadas que acalmam meu coração cansado, que embalam minha alma já desgastada pelo tempo. Quero enxergar beleza exalando dos gestos simples e espontâneos, que acalentam essa minha alma ansiosa pela fraternidade em tempos de guerras e disputas por podres poderes. Quero gritar ao mundo palavras com nexo e que há muito se encontram amordaçadas, que amenizam em minh'alma a dor do silêncio imposto durante os anos de ditadura dos bons sentimentos.

Quero amar em um mundo complexo, mas que saiba receber através dos meus meios de comunicação a simplicidade do amor em si. Quero amar sem justificativas, sem ponderações, sem críticas. Quero amar sem análises, sem sufoco, sem julgamentos. Quero amar sem medo.

Leca Castro - 18/12/11


Enquanto estava na faculdade precisei aprender a lidar com a morte pois precisaria passar por esse enfrentamento na profissão que escolhi. No momento que essa matéria foi se descortinando pra mim entendi sua importância. Até então achava impossível ensinar teoricamente o que fazer com a dor da perda, mas depois pude entender a relevância de se estudar a respeito. E exatamente hoje vivencio dois tipos de perda em mim: a morte física, pois acabo de perder um amigo, e a morte em vida, pois também acabo de perder mais pessoas e preciso lidar com isso.

E é exatamente agora que tento relembrar minha teoria da graduação e acabo recordando da psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross que classificou a experiência com a morte em cinco estágios e creio que sejam válidos quando sabemos da nossa morte em breve, quando é morte física de um ente querido e por que não quando acontece a morte de uma relação em vida, analisem comigo se não há um perfeito encaixe.

O primeiro estágio é chamado de negação e isolamento e são mecanismos de defesa do nosso consciente diante da dor. A duração e intensidade são variáveis mas não costumam durar muito tempo. (Ao perder um amigo/amor nossa primeira reação não é essa de imediato?)

Mais rápido do que imaginamos, entramos no segundo. É o estágio da raiva. O consciente não consegue manter a negação e o isolamento e então brigamos com todos e tudo, hostilizamos, somos agressivos, nos revoltamos. "Por que eu/ele?". Momento em que a angústia vira raiva pela interrupção da vida. (Num rompimento de relação também sentimos essa raiva por dentro. Ou ela existe pelo outro, por ter gerado sofrimento em nós ou existe por nós mesmos. Sentimos raiva por termos permitido a entrega, incondicional.)

E chegamos no terceiro momento: a Barganha. Essa fase acontece quando entendemos que, mesmo deixando de lado a negação e o isolamento, mesmo a raiva não ter sido solução, precisamos fazer algo. E começamos a barganhar com Deus. Mas fazemos isso em segredo. Mas vejam, o que temos de valioso a oferecer a Deus, para o "sacrifício", já que não temos mais a vida para ser negociada? E essa barganha vira súplica e promessa. Uma tentativa de adiamento. E para barganhar com Deus é necessário estar sereno e dócil, sem hostilizar ninguém. (Na prática é quando pedimos ajuda a Deus ou a algo que acreditamos como Superior a nós. Queremos sair do processo, deixar a dor, respirar. E aqui, bem no meio dos estágios, muita gente pára. As pessoas gostam desse tipo de dor e não percebem que se adiantam rumo ao precipício do sofrimento. Descobrem que não adianta negociar e entram no próximo nível).

Após descobrir que nada funcionou, nem mesmo a barganha, nos encontramos no penúltimo estágio, que é o da Depressão. Não há como negar a perspectiva de morte nem mesmo a morte em si. A debilidade toma conta, a falta de perspectiva é dolorosamente sentida. Negar não adiantou, agredir e se revoltar também não, fazer barganhas não resolveu. E então chega o sentimento da perda trazendo em si a dor psíquica da realidade dura, a consciência de que nascemos e morremos sozinhos. Somos puro desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro. (E aqui faço um adendo. O ser humano parece gostar de sofrer. A maioria entra na fase depressiva e não sai dela. Não porque não consiga, mas por achar que assim conseguirá atenção e carinho. Esquecem que carência é algo mais sério e transformam um processo em vitrine de sentimentos. Essa exposição torna-se caótica e a falta de respeito e amor-próprio domina. Sim, algumas pessoas não saem dessa fase porque não querem).

Chegamos ao último estágio: Aceitação. Não existe mais o desespero, nem fuga da realidade. Chegou a hora de repousar, descansar. Sentimos conforto por quem vai/foi. (Entendemos, nesse ponto, que uma relação se finda independente do que sentimos. Se uma pessoa se vai não tem como continuar convivendo. Deixe-a ir. Apenas envie pensamentos e sentimentos de amor, carinho, compreensão.)

E foi muito bom escrever sobre isso e relembrar cada passo. Foi a forma que consegui para passar correndo pela depressão e chegar no nível de aceitação. Eu aceito a morte do meu amigo e agora, aceito também as mortes que vão acontecendo em mim. Meu achismo não trará ninguém de volta por mais que eu não consiga ver a culpa em mim. Isso também não importa mais. Quem eu amo se foi de mim. Ponto.

Leca Castro - 14/12/11 (ao jornalista e amigo Alê Rocha)





Vejo muitas pessoas falando e discursando sobre culpa e arrependimento. Mas agora, sério... alguém realmente sabe a fórmula pra se livrar da culpa? Como fazer para se desculpar por algo feito de horrível a alguém? "Des-culpa" não é uma palavra mais complexa do que aparenta ser? Preciso, com urgência, aprender a eximir meu "eu" da culpa que carrega.

E não, não falo de me sentir culpada por um amor perdido, ou algo do gênero. Se fosse isso já teria corrido atrás e esgotado todas as chances de ter um amor ao meu lado. Falo de outro tipo de culpa. Aquela que parece ser fruto de algo imperdoável. Que destrói corações e almas. Por que acham que sou uma pessoa legal? Não sou. Não são meus defeitos que me incomodam, são minhas culpas, que pesam, encurvam minhas costas, me derrubam, apunhalam e ferem até sangrar por dentro. Como conceder indulgência a mim mesma? Como?

São muitas perguntas e não obtenho respostas, nem ao menos uma mísera resposta. Uma necessidade sufocante de encontrar caminhos que me levem a deixar essa culpa de lado, esse peso para trás, essa dor à deriva. Um remorso tão grande que carrega consigo a dor do arrependimento. E é uma luta diária pra que esse arrependimento não se transforme por completo em sofrimento. Até acho a dor justa e aceitável, mas o sofrimento não. E me pego sofrendo em alguns momentos e é exatamente aí que me desastabilizo. Se a culpa gera remorso, que gera arrependimento, que ao menos esse seja sincero e transfome a dor em perdão. Que eu perdoe a mim mesma pelos erros cometidos, pelas dores provocadas, pelos amores perdidos, pelas mortes encomendadas, pelas desculpas insinceras. Que eu me livre dessa culpa e volte a sorrir para mim mesma, a rir de mim mesma, a ser alegre de tanto sorrir. Que eu volte a ser leve...

Leca Castro - 12/12/11



Eu juro que não queria escrever esse texto. Mas a dor é tanta que preciso deixar sair. Dói mais que minha própria dor. Dói tanto que o choro não consegue ficar preso e deságua. Nunca chorei uma morte como a de agora, nunca. Primeiro porque acredito na Imortalidade da Alma, na Lei de Causa e Efeito e peço, por um instante ao menos, que não me julguem pela religião que abraço. Segundo porque não choro pela morte desse homem pois acredito que tudo tem um propósito e tempo determinado, mas por toda a garra que ele demonstrou ter durante 5 longos anos de doença grave. Choro por tudo que esse gigante soube viver, mesmo perdendo o sopro da vida. Choro porque me sinto uma fraca ao reclamar de dores e medicamentos e cirurgias que me pouparam da morte.

Soube da notícia e não consegui me conter. Justo eu, sempre controlada, sempre centrada, sempre pé no chão. Chão? Que chão? O mesmo chão que ele nem conseguia mais pisar por causa da dor. E choro porque ele não sofreu. Sentiu muita dor, mas não sofreu. Não se permitiu sofrer. Mostrou até o último minuto que sorrir é o melhor remédio. Saiu da cirurgia, acordou e sorriu. Após cinco anos de lutas e esperanças, ainda conseguiu deixar na memório do filho de 6 anos a imagem mais bonita que podemos deixar pra quem amamos: sorrir.

E mesmo sorrindo não consigo deixar de pensar na sua luta por uma qualidade de vida melhor a todos, não apenas para ele mesmo. E volto a chorar. Não é um choro desesperado, angustiado, mas um choro doído de amor, amor esse que envolve respeito, admiração e gratidão. É esse choro que gostaria de sentir nas pessoas que amo quando eu também partir. Cansei do choro mundano, das futilidades e banalizações de sentimentos, dos falsos valores tão expostos por todos. Cansei das lamentações sem sentido e sem sentimentos. Cansei das reclamações de quem pensa que tem uma vida difícil, mas que ainda não sabem nem o que realmente é viver.

Sei que estaremos unidos, gigante. O amor une. E é em nome desse amor eternizado em meu peito que me permito chorar, mas chorar de pé. Meus pés doem, minhas pernas latejam, mas não irei deitar, não por minha vontade. Choro de pé e escrevo para que a dor saia e o amor prevaleça. Você foi uma grata surpresa em minha vida, um exemplo que estará sempre em mim. A única promessa que te faço é que sempre lembrarei de você sorrindo ao pensar que a vida me é injusta. Sempre cultuarei em meu altar íntimo sua imagem de guerreiro, de gigante.

Agora meu choro abrandou. Sabia que se fizesse o que você sabia fazer de melhor na vida - escrever - iria me sentir melhor. Até na morte você retribui com vida. O que sinto agora é um compromisso de melhorar a mim mesma como pessoa. Sinto forte a certeza de querer ajudar. Sinto a dor da perda. Mas sinto uma necessidade de agradecer. E sinto que acredito com mais força ainda que o amor é sempre eterno e que transcende a morte. Obrigada por tudo, querido. Te encontro em meus sonhos, gigante...

Leca Castro - 12/12/11






Sempre fui solitária. Não por ter poucas pessoas comigo, mas por não ter pessoas que comunguem com minha idéias e meus ideais. E garanto que cansa muito mais estar rodeada de gente cujos objetivos diferem tanto dos meus, do que se estivesse praticamente isolada tentando colocá-los em prática.

Gosto da solidão em que me transporto nas madrugadas, onde ouço com mais clareza minhas necessidades e consigo trabalhá-las de forma mais amena que em meio à agitação do dia. Faço esforço em mim para que esses gritos de dentro silenciem, ou que pelo menos esses gritos em minha alma já cansada gritem sem eco.

Prefiro a solidão da caminhada do que o agito estacionado. Não posso ficar parada, não consigo ver a vida intercorrendo, oportunidades sendo desperdiçadas, escolhas acontecendo estranhamente equivocadas, como se quem amo gostasse de sofrer, preferisse montar sua vida em cima de momentos tristes e ruins. Que eu seja sozinha então nesse propósito, afinal, o grande astro do nosso Sistema brilha para vários mundos inteiros, e brilha sozinho. Desejo ao menos ser uma faísca da chama de uma vela que, por menor que seja, consegue iluminar o mundo de alguém que está em completa escuridão. Ou o farol de um porto estável àqueles em meio a tempestades e dilúvios. Não desejo ser sol, essa pretensão não é real. Mas me esforço, de várias formas e manifestações, a ser talvez uma pequena estrela no universo de alguém.

Leca Castro - 10/12/11

02/07/2012


Fico observando os desejos das pessoas que conversam comigo e me impressiono com a incapacidade que temos em desejar. Convivo com várias criaturas nas redes sociais, no meio profissional, nos momentos de trabalho (seja ele voluntário ou não), no âmbito familiar, enfim, em diversas situações. E vejo gente pedindo mais dinheiro, reclamando do governo, ou do patrão, ou do azar na loteria, mas se alcançarem tal feito, não têm nem idéia do que fazer com a "sobra" que hoje inexiste. Provavelmente não saberão usar nem distribuir, nem ajudar nem administrar. Criarão mais problemas além dos que já têm.

Escuto alguns pedindo por um(a) companheiro(a), mas quando os Céus lhe concedem a benção de uma jornada a dois, não sabem ser irmãos e amigos e se perdem ao dividir (ou não) suas vidas, ao se entregarem sem restrições. Acabam se perdendo do outro.

No fundo, o que todos precisamos, mais que dinheiro ou amores, é a tão almejada paz de espírito. Apenas não sabemos ainda reconhecê-la, pois nada mais é que a resultantes desses nossos desejos e os propósitos da vida. Ficar bem, ser equilibrado, ter paz, não é ser nem ter nada diferente do que somos ou temos. É saber usar tudo isso hoje de forma equilibrada, sem egoísmo, sem provocar humilhações, e muita das vezes, se anulando para que o outro fique bem ou tenha um pouco mais de perspectiva e alegria na vida.

Como está sua consciência hoje? Pare por um instante, respire fundo, feche os olhos e ouça seu coração. Está leve? Essa deve ser nossa meta diária: manter o coração tranquilo em meio a todos os tumultos  que rodeiam a nossa vida junto àqueles que amamos, ou até mesmo na nossa jornada solitária e sem amores. Certifique-se de esquecer um pouco sua infelicidade para cuidar em trazer um pouco de alegria a quem te procura e conseguirá mais tranquilidade na vida, já desgastada com tanta dificuldade. Procure por essa paz para que a guerra íntima não encontre guarida no coração. Seja refúgio.


Leca Castro - 09/12/11


Qual a dimensão do seu problema hoje? E qual o seu problema hoje? Seria o mesmo de uma semana atrás? O que você considera problema? Tantas perguntas, por si só, já viram um grande problema. Na vida, tudo que me aparece e atrasa minha caminhada, considero problema. Tenho uma doença? Tenho. E por causa dela sou doente? Na maioria das vezes me sinto segura em afirmar que sou mais saudável que a maioria que diz que nunca nem gripou. O conceito de saúde ainda é muito limitado na cabeça da grande maioria. Vai além de ser ausência de doença. Ser saudável é ter a mente sã, o otimismo como bússola, a verdade como projeto, o trabalho como um meio.

Normal se sentir derrubada às vezes. E aproveitando o lembrete do meu pássaro-anjo, canto para mim mesma: houve um tempo de chorar, de derrubar, de me perder, de rasgar. Mas hoje é tempo de descobrir, de sorrir, de abraçar, de sacudir, de cantar. E envolvo meus problemas com carinho e vontade de superá-los, com a determinação de resolvê-los. Não os quero comigo. Desejo minha vida saudável e sempre adiante. Volto a perguntar: qual a dimensão do seu problema? E eu me respondo: tão grande quanto eu permito que ele seja. Jamais será maior que eu mesma!

Leca Castro - 07/12/11


Dias intermináveis de sonhos e em um momento de apenas 5 minutos sinto meu coração despedaçar, minha vida ruir. E me acho a pessoa mais idiota do mundo por ter acreditado em sentimentos, em palavras (vãs), em verdades (falsas), em pessoas (?). É a vida me puxando para o mundo de realidades, onde sentimentos não são valorizados, palavras são lançadas ao vento, verdades são ignoradas e as pessoas... bem, as pessoas possuem várias faces.

O mais intrigante é que vejo essas faces de cada um de acordo com os olhos do coração. Em alguns enxergo a face feia, em outros, a face machucada, cheia de cicatrizes. Com esses, tenho a grata surpresa de vê-los da forma mais linda e pura, diferente da face que a maioria gosta de ver. Mas quando enxergo de imediato uma face bonita, lisa, sem rugas, fico encantada. Onde estava tamanha beleza que ainda não havia sido descoberta por esses meus olhos carregados de emoção? E o deslumbre toma conta e me apaixono por aquele "retrato". Não pela pessoa, mas por essa face linda, porém estática.

E então vem o senhor tempo e faz os olhos da razão se abrirem. Quanta surpresa!... Nesse momento vislumbro outra(s) face(s) dessa pessoa. E claro que não é bonita, pois me derreti de amores pela melhor representação que aquela criatura tinha. Isso é a decepção: se enganar. Fui enganada por quem? Pelo outro ou por mim mesma? Quantas bodas serão necessárias até que meus olhos do peito consigam caminhar de mãos dadas com os olhos por detrás dos olhos? Me sinto pesada, cansada, destruída. Rogo por compreensão, por um colo, por um sono onde acordar não seja opção. Deixo brotar do meu peito uma súplica para que a caminhada se torne menos amarga. Menos complicada. E se os céus me ouvirem, que tragam um refrigério para minh'alma, não tão nova, mas tão cansada e que só quer deitar na relva, na terra, até adormecer.

Leca Castro - 06/12/11


Quando a tristeza assola a alma, não há otimismo que dê conta. O coração fica tão doído que não consegue ver o óbvio, o previsível, o que é tão evidente. Uma nuvem paira em torno e obscurece de fora pra dentro e de dentro pra fora. Nada entra. Nada sai.

Claro que ninguém vai passar do estado de tristeza para o de alegria de uma hora para outra, isso não existe. O que cabe a cada um de nós fazer é desanuviar, soprar para longe essa nuvem obscura com o hálito da vontade. Somente quando espantarmos o que obscurece nossos sentimentos e nos impede de enxergar é que iremos vislumbrar fagulhas alegres em nossa volta.

Essa nuvem tem como nome "pessimismo", e esse sopro, seu antagônico, o "otimismo". Tá certo que o sol consegue dissipar a nuvem, mas se não der conta de lidar com esses raios de luz, livre-se da nuvem da forma mais natural possível: deixando chover. Ainda não entendo a resistência das pessoas em chorar, nem mesmo a sós. O medo da vulnerabilidade embrutece os corações de tal forma que nenhuma idéia consegue penetrar, nenhum argumento. E cada um está certo, cada um tem sua razão, cada um permanece em seu trono inviolável. E cada um sofre mais do que o necessário por não se permitir, por manter a nuvem, por não aceitar feixes de luz, por não se permitir chover. Basta de tanto "não".

Leca Castro - 05/12/11



Domingo... hoje me despedi do ano junto às minhas crianças. Sim, considero-as minhas, pois fazem morada no meu coração. Elas crescem, tornam-se adolescentes, mais tarde ingressam na vida adulta, mas continuam com um lugar em mim, onde podem se aconchegar sempre que precisarem.

Mas não é uma despedida triste e aqui escrevo sobre o que foi desperto dentro de mim. Ao entrar de férias, imeditamente sinto um alívio pois irei descansar, mas todos os anos a saudade aperta rapidamente e anseio pelo retorno muito antes das férias acabarem. Quando retorno sinto outro alívio. Assim acontece também com nossos relacionamentos. Às vezes precisamos de descanso de outras pessoas, até mesmo de amores conquistados, sejam amizades ou parceiros. Relacionamentos desgastam, somos diamantes brutos se lapidando no convívio. E nosso tempo de descanso é determinado por nossos corações.

Quando dá aquele aperto, seja gostoso ou seja sofrido, é chegado o momento do retorno. Foi bom viajar sozinho, dormir até mais tarde, não se comprometer com horários... tudo que nossa alma faz quando se vê liberta de compromissos. Mas toda alma, em determinado momento, sente falta de repouso, do colo de outrora, do ombro macio. Então volte! Retorne até aqueles que te viram distanciar, que te esperam voltar. Volte aos corações que te aquecem, que te aquietam, que te sorriem. Abrace... sem medo, sem sofrimento, sem dor. Apenas abrace...

Leca Castro - 04/12/11


Olhando para o vidro quebrado de uma janela me vi atravessando aquele buraco disforme e me lançando ao vento, num vôo sem volta. Fechei meus olhos e imaginei esse mesmo vento balançando meus cabelos, que coincidentemente havia deixado soltos nessa manhã. Aquele ar gélido me trazia arrepios gostosos e me transpunha até outra realidade... como se realmente possuísse asas. Faço um mergulho no ar e me lembro de Fernão... a gaivota que marcou meus anos de ouro. Lembro que foi o primeiro vôo real que fiz ao ler um texto, ou melhor, um livro inteiro. Dali em diante encarei a leitura de outra forma, em um outro contexto. Aprendi que posso viajar sem arredar o pé de onde estou e que os bens mais preciosos que possuo são meus pensamentos e sentimentos.

Após alguns anos essa descoberta me levou a outra... a escrita. Hoje entendo Fernão mais que nunca, principalmente o Richard. Ah, como ele soube viajar tão bem, de forma tão graciosa, conseguindo me carregar em suas asas até onde o infinito repousa. E a cada texto que escrevo levanto vôo, mergulho, sinto calafrios, arrepios, suor nas mãos e nas têmporas, o rosto esquentando. Mas por hora preciso aterrisar... finalizo mais essa viagem e volto a colocar meus pés no chão. A dentista me convida para entrar. Olho mais uma vez para aquele vidro quebrado e ela, percebendo meu olhar em direção à janela, comenta: "foi o vento ontem. Parecia até que queria entrar!" Mal sabe ela que entrou e me levou.

Leca Castro - 03/12/11


O egoísmo é tão maior que as outras não-virtudes que ele consegue destruir. Friamente. E depois as pessoas dizem que não entendem como pode haver tanto sofrimento. Mas é tão simples a resposta... tão óbvia! Se tenho uma tempestade em mim e preciso deixar chover com alguém, o que acontece? Ou não há tempo para se perder com chuvas, deixa molhar porque não há mal algum nisso, ou então essa chuva é vista e sentida de outra forma, até mesmo como uma garoa. E o que impede o outro de enxergar minha tempestade? Ou o que deixa sua visão tão turva a ponto de achar que minha tormenta se compara a um simples precipitar de nunvens ainda leves?

A tarefa de apaziguar tempestades alheias não é sempre fácil. Na maioria das vezes você se molha, por mais que se proteja. Não tem jeito. É tempestade. O vento leva a chuva em todas as direções. E aí se consegue amenizar essa agitação das águas do céu do outro e chega a bonança... o que vem depois? Vem que você olha para os lados e não encontra ninguém mais com você. Quem teve a tempestade abrandada sai correndo loucamente em direção a outros rumos e te deixa pra trás. E aquele sol escaldante que não é seu e que surge após o vendaval que também não era seu, começa a te sufocar, te esquentar fortemente, até você se sentir bambo, fraco, com sede. E então abandona aquele local e procura por uma sombra. E deseja com todas as forças voltar para a sua tempestade, se refrescar na sua própria chuva, se afogar se possível. Até chegar a hora de precisar de ajuda, companhia, ou um guarda-chuvas que seja. E a hora da sua tormenta chega. E o que acontece? Vem ajuda? Não... Quando aparece alguém e faz acender aquela luzinha de esperança, aquele farol em porto seguro, logo se descobre que não era uma ajuda mas outro pedido de socorro.

E assim as tempestades vão se tornando contínuas, incessantes, atemorizantes. E solitárias.

Leca Castro - 28/11/11


E eu saí... precisei sair... ficar em mim estava insuportável. Não no sentido negativo, mas 'tava tudo muito confuso, estranho. E o que mais me deixou perdida foi o fato de ser uma sensação nova. Depois de tanto tempo achava que não teria nada que não houvesse sentindo ainda, da dor ao amor. E agora? O que senti? Qual nome, palavra, expressão devo usar? E percebo que estou errada. Muito errada. Quero definir e colocar nomes em sentimentos. Sentimentos não merecem rótulos, ninguém merece rótulo, mas sentimentos principalmente.

Quantas faces tem o amor? Alguém sabe responder? Uma pergunta mais fácil então (mentira): qual a descrição do amor? Porque algo me diz que essa sensação, mesmo sendo diferente, não passa de uma nova manifestação do amor em mim. Surgiu após entrar sem permissão em um texto e pegar uma das personagens e jogar pela janela. Feito isso me ocupei desse lugar e me vi dentro daquele emaranhado de palavras, completamente onisciente do que me acontecia em volta. E me remeti a vários momentos e experiências pregressas. O mergulho foi tão fundo, tão profundo, que me faltou o ar e o nó formado da garganta não permitiu que a chuva fosse mais uma vez engolida. E sim, a chuva saiu. Mas saiu trazendo junto objetos do fundo do mar, já embrutecidos pelo lodo e pelo tempo em que estavam encrustrados na base daquele mar. Quanta coisa choveu... eram mais que lágrimas, muito mais. Tudo, mas tudo tão inebriante que torna-se complicado colocar palavras que mal conseguiriam traduzir esse momento. A mistura era tão grande que enquanto chovia, uma tempestade se formou e transformou aquele mar de emoções. E após a turbulência maior e inicial (sim, ela ainda está aqui), só consigo dizer que é difícil explicar o que não se consegue definir. Não consegue ou não quer? E novamente me perco...

Cadê meu chão?

Leca Castro - 26/11/11 (para o garoto encharcado)


Quando acordei hoje percebi o quanto estava cansada de chover. A chuva pode não ser perceptível a quem está ao meu lado, mas por dentro, acordo inundada. Tem dias que a chuva é tanta ao ir para a cama que me vejo em meio a tempestades e raios. Os trovões não me incomodam, mas tenho pavor dos raios. São descargas de fúria do meu céu que parecem me atingir em cheio, no peito. E é quando todos adormecem que minha chuva aumenta. Ou talvez ela já era grande e só percebo sua intensidade quando o resto do mundo silencia. Como anseio pelo silêncio em mim. Sem murmúrios, sem gritos, sem vozes, sem chuvas. Apenas o silêncio. Dizem que esse só chega com a morte, mas já morri tantas vezes! Por que ainda não ouço o meu silêncio? Quantas mortes serão necessárias ainda até que o silêncio seja pleno? Até quando vou dar conta de ressuscitar e voltar a caminhar?

Em minhas análises sobre as mortes que já tive, percebo que sempre retorno mais fraca, necessitando de mais esforço para renascer. Agora sinto dificuldade até em levantar e caso consiga, terei que reaprender a andar. Não. Preciso antes aprender a me equilibrar novamente. Voltar a dar passos é algo que ainda está distante da minha realidade chuvosa e cinzenta. Só sei que me acostumei com a chuva e agora sou sua amante. Minhas vestimentas se resumem em capas e galochas. As nuvens me fascinam e me transportam, em suas formas de algodão, para o fundo do meu chão. Não sei mais se quero a luz do dia.

Leca Castro - 17/11/11

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