29/09/2012


Arrasto o dia como quem carrega toda uma vida nos ombros. Um peso de uma pedra gigante, que de tão grande, parece uma montanha. De problemas. O tempo não passa mais rápido, a hora do fim não chega e a pedra pesa cada vez mais. Os sonhos não são mais agradáveis quando são bons, remetem ao pós morte. De qualquer forma, eu transbordo. Eu amo, amo muito. Eu sinto, sinto muito. É tanta intensidade que é disso que tiro forças pra arrastar o dia. Carregar a pedra. Enquanto uns sentem de menos, eu sinto todas as dores do mundo, todas as dores de quem sente dor, as dores de quem chora, as dores de quem também não sabe sentir. Tudo isso aumenta a pedra.

Tem dias que arrastar não é suficiente. E caio. E digo que cair é muito pior que carregar a pedra. É pior porque preciso levantar pra continuar e pegar o peso. E erguer é mais complicado que sustentar. E a pedra pesa mais. Não há roupa que me estimule, não há falas que me alegrem, não há realidade que me convença. Gosto do mundo das máscaras, onde posso sorrir enquanto choro. Chorar é sorrir ao contrário. Engolir o choro é acumular lágrimas. Acumulando, a pedra pesa mais.

Tenho sede, mas a água não me sacia mais. Ela parece impura e sem gosto. Gosto do gosto da água. Toda água tem gosto quando bebida da fonte. E sacia a sede. Mas com uma pedra tão pesada, a sede aumenta. E não há poços. Há desertos. Ainda procuro o poço garantido pelo principezinho. E com sede a pedra pesa muito mais.

Já não arrasto mais os meus dias. Me arrasto com uma pedra gigante nas costas. Uma pedra que pesa. Uma vida que, de tão pesada, começa a me arrastar até um poço. Sem fundo.

Leca Castro - 29/09/12
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