07/09/2012


Desliguei o celular e joguei-o em cima da cama, ainda enxergando a luz do visor acesa. Não queria crer que havia sido fraca novamente. Tinha feito um pacto comigo mesma que da próxima vez que falasse com ele, seria a derradeira. Colocaria um fim em nossa história que já dura quase 30 anos e tentaria seguir em frente, mesmo achando que não tenho mais tempo hábil para isso. E mesmo que não tenha, não importa. Ao menos os próximos anos serão mais leves, sem tanta expectativa e tanta agonia. Mas quem disse que consegui? Aceitei cada palavra como se fosse pão para a minha fome de amor. Amor por ele. Vivo faminta há anos. Ele não foi grosseiro comigo, ele nunca é. Mas basta ouvir meu nome do outro lado da linha para que meu coração venha até a boca. Por que não consigo arrancar, destruir, consumir todo esse amor que sinto? Não pode durar tanto assim, nunca acreditei em “amor eterno” e “alma gêmea”.
Continuo olhando para o aparelho na minha cama e começo a sentir raiva de mim mesma. A vontade que tenho é de me bater, até deixar marcas pelo corpo para que eu possa olhar no espelho amanhã e lembrar do quanto sentir demais faz mal. Socar cada músculo que conseguir. Minhas pernas bambeam e não quero mais a cama vazia como opção ao meu choro. Minha cama, tamanho casal, fica pequena quando ele se vai de mim. Começo a agachar escorregando pela parede fria e um arrepio sobe pelas costas, como me alertando para a quentura do meu corpo que teima em arder. Arde de paixão, de vontade e de raiva. Meu rosto queima e as lágrimas escorrem e caem quentes em meus joelhos, que doem por causa da pressão que meus braços fazem em volta deles. Quero e preciso extravasar toda essa dor, toda essa quentura, todo esse desejo que me possui.
Sinto minha perna doer com minhas unhas cravadas nela e afrouxo o aperto. Levanto e deito na cama, ao lado do celular, minha atual ponte com meu amado, até então eterno. Aliso minha perna à procura de sangue e arrepio com o contato de minha mão, ainda quente, e me acaricio. É isso. Tem faltado carinho de mim para comigo. Claro que sei que isso apenas irá aliviar, mas minha vida não tem sido isso? Um eterno alívio quando converso com ele e um aperto quando os dias parecem infinitos? Não vivo buscando alívio nos livros, nas companhias, no violão, nas escritas? Por que não em mim mesma? E começo a pensar em nossos momentos juntos, nossa primeira noite e nas suas mãos de toque suave e do tamanho certo. Não sei mais o que fazer para lutar contra. Não sei mais como devo me portar perante tudo que sinto. Não sei mais o que esperar que aconteça. Só sei que amo, e amo tanto a ponto de querer sofrer de novo ouvindo a sua voz. Pego o celular e retorno a ligação para o último número atendido. Farei de sua voz, meu alívio.





Leca Castro - 30/05/12






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