08/09/2012


Isso não é um texto bonito com palavras belas, nem conteúdo emocionante. É apenas um desabafo e muitos episódios de choro. Uma esperança (vã?) de mais uma vez diminuir o peso que carrego e tanto me atrasa no caminhar. E preciso voltar até o dia em que você disse que ia embora. Como sempre fui egoísta (e dizem que sou até hoje), naquele momento pensei que tudo que queria era ir para longe de mim. E teria sido muito mais fácil se você realmente tivesse feito isso e deixado que eu fosse egoísta com razão ao menos dessa vez na minha insana vida. Ou se dissesse que ia embora apenas porque queria e era uma opção que fez em função, agora não do meu, mas do seu egoísmo. Ah, você devia ter ido embora realmente porque queria. Tudo teria tido um fim naquele momento e a dor, por maior que fosse, teria um motivo concreto. Doeria por um tempo, longo tempo que fosse, mas meu coração saberia que não tinha jeito e que deveria, uma hora ou outra, recompor-se. Mas você não fez isso, você me disse que iria por necessidade. Eu conhecia sua vida, sua família, nossos amigos eram comuns e eu sabia qual era a verdade. E você estava indo embora por falta de opção. Foi a primeira vez em cinco anos, desde que nos conhecemos, que eu tive falta de fé no futuro. Havia passado por muita coisa até então mas sempre tinha “nós” como referência e foco. E você se foi… ainda levou meu chão. Eu não podia ruir, tinha responsabilidades e uma filha de uma ano que dependia apenas de mim, precisava continuar por ela, não mais por nós, não mais por mim. Apenas por ela. E, antes de ir, me deixou um pedaço de papel pequeno, talvez para que eu me desse conta do tamanho do conteúdo, com as seguintes palavras: “I’m fall in love”. Depois, ao me abraçar, disse num sussurro em meu ouvido: “não há palavras em inglês nem tradução em português que expresse o que sinto por você.” Choramos no ombro um do outro e então você se foi.
Íamos trocando cartas, nos informando da vida e de como andavam as questões pessoais, mas evitávamos falar de nós. Qualquer palavra sobre a gente seria um atraso na cicatrização. Continhamo-nos em transcrever uma poesia que falasse de amor no final de cada missiva e despedíamos com “eu te amo”. Até o “belo” dia em que você disse que precisava partir para mais longe ainda. Atravessaria oceanos e tinha medo que nos perdêssemos para sempre. E eu não podia te consolar, dentro de mim o mesmo medo existia e as palavras eram todas falhas ao telefone. Então eu chorei e você me implorou que eu não o fizesse, e começou a chorar também. Foi o silêncio mais doloroso que tivemos, salvo aquele quando trocamos olhares antes de sua despedida e nossas mãos teimavam em não se soltar. E você foi para muito distante.
Quando sua primeira carta internacional chegou, meu coração bateu descompassado e fui para o quarto te ler. Minhas mãos tremiam e eu já estava chorando antes mesmo de desdobrar as folhas de papéis vergè que só você sabia como usar. E era uma carta escrita por etapas. A primeira data remetia ao dia em que nos falamos pela última vez ao telefone e você contava como ficou após nossa segunda despedida. Depois vem a data do seu embarque rumo ao desconhecido e, por último, a data em que a carta foi postada. Em cada uma delas pude sentir o quanto você sofria e queria ter podido ficar. E chorei, mais uma vez. Desde então nossas vidas são pautadas na falta de pautas de nossas folhas, pois essas não possuem limites nem demarcações de como devemos seguir adiante. Combinamos que nosso guia será o que sentimos. Tola combinação. Por causa dela estamos atados até hoje. Já conhecemos outras pessoas, tentamos nos substituir na vida um do outro mas nenhuma tentativa vem dando certo e a vontade de desistir de tentar é grande demais. Hoje, vinte e sete anos após nos conhecermos, o que mais quero é largar tudo e ficar com você sem me importar com o como, o onde e em que condições. Quando a coragem vai bater à porta e me convidar a ir com ela ao seu encontro? Quando poderemos enfim viver tudo que nos foi tirado? Quando poderei colocar fim a esses choros intermináveis que vão me consumindo aos poucos como uma chaga que só aumenta e dói mais a cada dia? Quando vou experimentar novamente aquele choro de felicidade plena, aquele mesmo que chorei quando nos amamos pela primeira vez?
Eu disse que isso não era um texto bonito e nem continha palavras belas. É apenas uma forma de extravasar o que não cabe mais aqui dentro. É somente meu principal desafogamento.





Leca Castro - 20/06/12






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